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Estratégia agressiva coloca o aplicativo Uber na berlinda

Revelações de que a empresa teria a intenção de investigar a vida privada de jornalistas gera crise de confiança

Por Agências
Atualização:

Farhad ManjooTHE NEW YORK TIMES

 

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NOVA YORK – Em apenas quatro anos de operação, o aplicativo Uber deu origem a um novo negócio: a indústria das caronas, que promete transformar o transporte urbano e ajudar muitas pessoas a se locomoverem sem comprar um carro. Hoje, no entanto, a startup está enfrentando seu maior desafio – a revelação de suas estratégias mais agressivas e sujas diante de uma cultura de “vencer a todo o custo” que pode desanimar investidores, potenciais funcionários e até os clientes interessados na proposta da companhia.

Uma revelação, primeiro noticiada pelo BuzzFeed na segunda-feira, de que um executivo da empresa cogitou publicamente a ideia de investigar a vida privada de jornalistas que criticam o Uber, foi só a mais recente de uma longa lista de notícias sobre as táticas da empresa no momento em que a companhia passa por forte crescimento.

O aplicativo Uber se tornou uma das mais valiosas startups do Vale do Silício, nos EUA, com negócios ao redor do mundo. Até agora, levantou mais de US$ 1,5 bilhão em capital, sendo avaliada em US$ 17 bilhões. Naturalmente, a empresa já está sendo considerada uma candidata a abrir o capital.

A cultura de resultados do Uber é, de certa forma, uma característica de startups em geral. No entanto, o exagero desse tipo de cultura pode se tornar rapidamente uma receita para o fracasso. “O que é perigoso é que o mundo da tecnologia é construído por narrativas”, disse Jan Dawson, um analista independente do setor. “À medida que histórias sobre o Uber se comportando de forma inadequada se acumulam, o risco é que esse tipo de questão se torne a marca da companhia, em vez de seus serviços de qualidade ou preços baixos.”

Na tarde de terça-feira, a informação do plano de espionar uma jornalista tomou conta da imprensa especializada na cobertura das empresas do Vale do Silício. Travis Kalanick, presidente do Uber, fez uma série de posts no Twitter pedindo desculpas em nome do executivo “autor” da ideia, Emil Michael. Nenhum dos 14 posts no Twitter mencionavam o futuro do Sr. Michael na empresa. Nos EUA, muitos já estão pedindo a saída de Kalanick do Uber.

CulturaAs empresas de tecnologia vivem e morrem pela cultura. O que significa que o sucesso ou fracasso de uma empresa é determinado menos pelas proezas tecnológicas do que pelos valores e comportamento das pessoas que trabalham lá. Isto pode ser particularmente verdadeiro para Uber. A empresa não é dona de nenhum carro, seus motoristas são, na verdade, profissionais autônomos que podem facilmente mudar para empresas rivais, e seus clientes estão apenas a um toque de distância de algum outro serviço.

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Além do mais, embora a startup esteja crescendo rapidamente, ainda é jovem, e muitas pessoas nem sequer usaram um dos seus carros.

Se a marca de Uber for associada a mau comportamento, o que vai impedir as pessoas de escolher a companhia rival Lyft ou de apenas chamar um táxi?

Alguns passageiros têm se preocupado com a sua privacidade – se um funcionário do Uber um dia será capaz de rastrear onde você foi e com quem. O Uber diz que tem uma política rigorosa que proíbe funcionários e motoristas de verificar em hábitos de viagem dos passageiros. Ainda assim, as novas revelações poderiam aumentar esse medo.

A ideia de que um executivo sênior da empresa pensou que seria bom revelar publicamente um plano de espionagem faz você se perguntar se algo é considerado fora dos limites no Uber – e se isso pode ser o tipo de preocupação que uma série de tweets com pedidos de desculpas não poderá corrigir.

O Uber e seus investidores acreditam que a missão de longo prazo da empresa é reinventar o transporte, para se tornar não apenas um serviço de táxi, mas também um substituto para carros. Essa missão só pode ser realizada se as pessoas confiarem na empresa implicitamente e automaticamente.

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