EUA querem vigiar sarcasmo na web

Serviço Secreto americano requisitou tecnologia que consiga identificar supostas piadas para prevenção de crimes e ataques terroristas

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Por Redação Link
Atualização:
 

Katie ZezimaThe Washington Post

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O Serviço Secreto dos Estados Unidos está em busca de um programa de computador capaz de detectar o sarcasmo nas mídias sociais.

A agência deseja comprar programas que, entre outros atributos, tenham a habilidade de “detectar o sarcasmo” e termos que possam significar algo diferente daquilo que se pensaria à primeira vista.

Corporações e agências do governo há muito usam as mídias sociais para tentar influenciar o público e divulgar mensagens, enquanto a polícia monitora cada vez mais esses sites em busca de problemas.

Mas fazer com que um computador detecte o sarcasmo e suas complexidades linguísticas pode ser difícil. Especialistas se preocupam com as tentativas de interpretação de discurso por parte de um governo que tem o poder de prender pessoas por publicar supostas ameaças na internet.

“Parece que teremos um programa de monitoramento bastante amplo. Deve englobar parte da liberdade de expressão da primeira emenda da Constituição dos EUA”, disse Ginger McCall, diretora do Centro de Informações sobre Privacidade Eletrônica (Epic). “É preocupante. Vai fazer as pessoas pensarem duas vezes antes de se expressarem na web.”

A solicitação de um software do tipo por parte do Serviço Secreto, anunciada pela primeira vez no site nextgov.com, foi publicada no último dia 2. Entre os pedidos, estão a capacidade de analisar fluxos de dados em tempo real, acessar dados antigos do Twitter e identificar pessoas influentes nas redes sociais.

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A agência quer também que o programa seja compatível com o navegador Internet Explorer 8, lançado em 2009, o que mostra o atraso da tecnologia do governo dos EUA.

“Nosso objetivo é automatizar nosso processo de monitoramento das mídias sociais”, disse Ed Donovan, porta-voz do Serviço Secreto. “O objeto da nossa análise é o Twitter. A capacidade de detectar o sarcasmo é apenas um dos 16 ou 18 recursos que buscamos.”

Donovan disse que o software seria capaz de encontrar entre os tópicos mais comentados no Twitter assuntos que sejam importantes para a agência.

Reputação

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O Serviço Secreto enfrenta problemas e controvérsias envolvendo o comportamento de seus agentes, especialmente no exterior, incluindo um escândalo de prostituição em Cartagena, Colômbia, em 2012.

No mês passado foram solicitados consultores de mídia para ajudar os lideres da agência a conversarem com jornalistas. Para Peter Eckersley, diretor de projetos tecnológicos da Electronic Frontier Foundation (EFF), os esforços do Serviço Secreto vão fracassar porque os computadores não são capazes de identificar as nuances de linguagem.

“É difícil não ser sarcástico ao comentar a ideia de o Serviço Secreto usar um algoritmo automático para examinar todas as postagens nas mídias sociais para determinar, entre outras coisas, quais delas são sarcásticas.”

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Problemas

Um adolescente do Texas foi preso no ano passado depois de postar no Facebook um comentário supostamente sarcástico a respeito de metralhar “uma escola cheia de crianças”. Uma usuária do Twitter foi detida na Holanda em abril depois de ter feito uma piada ameaçando um voo da American Airlines com uma bomba.

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“Existe uma razão pela qual a agência deseja isto”, disse Eckersley. “Já houve casos regulares e tragicamente documentados nos quais alguém se viu cercado por agentes armados, sendo que seu único crime foi ter um senso de humor demasiadamente apurado, preso por ter feito uma piada.”

O Epic processou o departamento de segurança interna, que supervisiona o Serviço Secreto, por manter registros de suas tentativas de monitoramento das mídias sociais em 2011.

Os documentos mostraram que os analistas eram instruídos a criar relatórios a respeito de certos “itens de interesse” encontrados nas buscas feitas nas mídias sociais, incluindo diretrizes e debates ligados ao departamento.

Comentários mordazes envolvendo a política e as figuras públicas podem ser extremamente difíceis de interpretar porque nem sempre é possível dizer imediatamente se são positivos ou negativos, disse Gilad Lotan, cientista chefe de dados da startup e empresa de capital de investimento Betaworks.

“Especialmente em relação aos tópicos mais polêmicos, os usuários podem ser irônicos e sarcásticos, e isso engana todos os algoritmos de classificação”, disse Lotan. “Isso torna extremamente difícil a automação desses sistemas.” Eckersley disse que muitos tratam o Twitter como fórum público, mas acreditam que o Facebook seria um fórum para amigos e parentes. “É como ter um policial na sua mesa de jantar o tempo todo”, disse ele à respeito da busca pelo sarcasmo, “e o policial não entende todas as nossas piadas”. /TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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