Facebook diz que precisa dar mais prioridade aos casos de uso político do WhatsApp

Executivo diz que o uso eleitoral do mensageiro deixa questões abertas sobre regulação; encontro em Londres teve parlamentares de nove países, incluindo o Brasil

PUBLICIDADE

Foto do author Bruno Romani
Por Bruno Romani
Atualização:
Deputado federal Alessandro Molon participa de sabatina ao Facebook em Londres Foto: Reprodução

O Facebook ainda não deu a prioridade devida ao uso político do WhatsApp. Durante a sabatina do comitê parlamentar internacional ocorrida nesta terça, 27, em Londres,  Richard Allan, vice-presidente de soluções políticas do Facebook disse que a empresa precisa dar mais prioridade ao uso do WhatsApp como ferramenta de propaganda política. 

PUBLICIDADE

O executivo disse que o WhatsApp está no processo de ser integrado à força tarefa de proteção a eleições. Allan foi questionado sobre o papel do mensageiro pelo parlamentar argentino Leopoldo Moreau, que demonstrou preocupação pelas eleições locais que se aproximam. Em seguida, o deputado federal Alessandro Molon (PSB), representante brasileiro na sabatina, também questionou o funcionário do Facebook sobre o mesmo assunto. E recebeu resposta parecida: "Estamos anexando o WhatsApp na nossa força de integridade. É particularmente relevante em países como Brasil e Índia e acho que precisamos de uma discussão aberta com legisladores sobre isso".

Allan também falou que o uso político do WhatsApp deixa abertas algumas questões. "Há bem diferente entre regulação que afeta o espaço público e regular conversas privadas individuais, ou até conversas em pequenos grupos. Mas não queremos ver nenhum de nossos serviços usados para manipular comportamento. Assim, não geramos confiança".  

A sabatina, liderada pelo Comitê de Assuntos Digitais, Cultura, Mídia e Esportes do governo britânico (DCMS, na sigla em inglês), visava esclarecer a circulação de notícias falsas e desinformação na rede social. A ideia inicial dos parlamentares era sabatinar o próprio Mark Zuckerberg, fundador da companhia. Ele, porém, declinou o convite em ao menos duas ocasiões. Uma cadeira reservada a Zuckerberg ficou vazia durante a audiência. Pariticparam parlamentares de nove países (Argentina, Bélgica, Brasil, Canadá, França, Irlanda, Letônia, Singapura e Reino Unido).

Mais WhatsApp. O parlamentar argentino pressionou Allan sobre o app de mensagens e perguntou como o Facebook planeja evitar a proliferação de notícias falsas no WhatsApp. O executivo disse que o app não foi criado para o envio de mensagens em massa, e que esse tipo de spam viola os termos de uso. 

Moureau rebateu e disse que não apenas o app foi usado dessa forma no Brasil, como empresas "questionáveis" já estão em contato com partidos argentinos para oferecer serviços do tipo. Allan respondeu dizendo que se alguém tiver conhecimento dessas empresas, que leve isso até o Facebook para que as medidas cabíveis sejam tomadas. 

Cadeira reservada paraMark Zuckerberg na audiência Foto: Reprodução

Eleições brasileiras. Sem citar o nome de Jair Bolsonaro, Molon citou o caso da rede do então candidato que foi removida a apenas seis dias das eleições após reportagem do Estado. Ele quis saber o motivo para a suposta demora e as razões para a empresa não ter levado isso ao judiciário brasileiro. 

Publicidade

O executivo disse que a empresa tem dificuldade para distinguir mensagens enviadas em massa e organização política legítima quando redes utilizam perfis que não são falsos. "Há muita atividade na zona cinzenta, onde o problema não é óbvio", disse ele. Allan, porém, evitou falar sobre a dissenimação de conteúdo falso. 

Ele estimou que entre 3% e 4% das contas na rede social sejam falsas. Molon questionou se do ponto de vista comercial é interessante para o Facebook manter essas contas. Allan refutou a ideia. 

Vergonha. Um dos momentos que mais chamou atenção aconteceu durante a participação de Edwin Tong, parlamentar de Cingapura. Ao demonstrar para o executivo que a empresa falhou a remover discurso de ódio contra a população muçulmana no Sri Lanka, obteve a seguinte resposta de Allan: "Como funcionário, tenho vergonha que isso tenha acontecido". 

Mais do mesmo. Boa parte da sessão, foram uma reprise do que já foi visto durante o ano. Perguntas sobre o caso Cambridge Analytica, a utilização de dados de terceiros, dúvidas sobre a influência de atores externos em processos eleitorais e a tentativa de extrair do Facebook uma espécie de comprometimento com regulação.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Do lado da empresa, explicações básicas sobre como o algoritmo distribui ou barra conteúdo, e os esforços para melhorar a qualidade daquilo que sua plataforma oferece. Como já aconteceu nas vezes em que Zuckerberg depôs neste ano, várias respostas limitadas a frase "respondo essa mais tarde para o senhor". 

Rotina. Prestar esclarecimentos para autoridades virou uma especialidade do Facebook no ano. Após o escândalo da Cambridge Analytica,Mark Zuckerberg encarou 10 horas de audiência com congressistas americanos no último mês de abril - cinco horas de sabatina no Senado e cinco horas num comitê do Congresso. Em maio, foi a vez do parlamento britânico ouvir o executivo. 

Ano difícil. O Facebook vive um ano para esquecer: em março, veio a público o caso Cambridge Analytica, no qual os dados de 87 milhões de pessoas foram usados indevidamente para a personalização de propaganda política durante as eleições presidenciais dos EUA em 2016 e durante o processo do Brexit. 

Publicidade

Em 26 de julho, a empresa registrou a maior perda na bolsa  da história de uma única empresa em um único dia. A empresa perdeu US$ 121 bilhões. Os investidores avaliaram que a companhia não tinha mais margem de crescimento. Desde então, os papéis da empresa estão em movimento de baixa. 

No começo de novembro, outra bomba. Uma reportagem do New York Times mostrou que a empresa demorou a agir para deter a influência russa na eleição americana. Pior: contratou a empresa de marketing político Definers Public Affairs para espalhar mentiras sobre os críticos da empresa e promover notícias negativas sobre os concorrentes. 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.