Falhas ampliam pressão por regulação do bitcoin

Ausência de normas criadas por bancos centrais é vista como o principal motivo para a instabilidade da moeda virtual

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Por Redação Link
Atualização:

Edgar Maciel

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SÃO PAULO – Depois de chamar a atenção em 2013 como uma alternativa de investimento rentável e não tradicional no mercado de câmbio, os bitcoins estão enfrentando uma crise de confiança no mercado. Lançada há cinco anos, a moeda virtual viu seu valor disparar de US$ 0,00076 até a marca histórica de US$ 1.242,00 em dezembro do ano passado. Nas últimas semanas, no entanto, a alta volatilidade do seu valor, os constantes ataques cibernéticos e as falhas técnicas nas bolsas que operam a moeda levantaram preocupações. Segundo analistas, as últimas notícias negativas fortalecem a necessidade de regulação do setor para evitar um futuro colapso das operações.

Nesta semana, o bitcoin enfrentou a sua maior crise desde 2009, ano em que foi criado. Uma das maiores corretoras do mundo que negociam a moeda, a japonesa MtGox, fechou as portas e foi acusada de sumir com o dinheiro dos clientes.

Segundo estimativas, a empresa tinha reservas de 744 mil bitcoins, o que equivale a US$ 350 milhões nos preços atuais e representa 6% do total da moeda virtual em circulação no mercado mundial. Hoje os advogados da MTGox recorreram à lei japonesa de concordatas devido a uma dívida de 6,5 bilhões de ienes (US$ 63,6 milhões). O pedido foi aceito pelo Tribunal de Tóquio. Após o anúncio do pedido de concordata da corretora, os bitcoins operavam com queda de 4,8% no valor, a US$ 548,99, segundo o CoinDesk.

A grande diferença entre os bitcoins e outras moedas – como dólar ou real – é que não há bancos como intermediários em suas operações – justamente o que atraiu tantos investidores para esse mercado. A moeda só existe no ambiente virtual e circula por meio de transações entre carteiras online. Transferir bitcoins atualmente não custa nada, o que os torna ainda mais atrativos para quem precisa fazer remessas de um país para outro, compras internacionais e pagamentos de produtos – processos que geralmente têm os custos elevados por taxas bancárias e de câmbio.

InstabilidadeA falta de regulação de um banco central, contudo, é vista por analistas como o principal motivo da instabilidade atual do sistema, o que limita o potencial de crescimento da moeda virtual. O sentimento do mercado é de que a única saída para o bitcoin não perder a credibilidade no curto prazo é desenvolver um processo de regulação.

O economista-chefe da Capital Economics, Julian Jessop, prevê que se não houver nenhum avanço nesse tema nos próximos meses, as carteiras de investimentos na moeda virtual devem começar a regredir. “A falta de um envolvimento oficial neste comércio é potencialmente uma falha fatal e pode ser irreversível para os bitcoins”, avalia.

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Para o superintendente de Serviços Financeiros do Estado de Nova York, nos EUA, Benjamin Lawsky, as empresas que realmente querem investir podem lidar com uma regulação. “O que não podem enfrentar são as incertezas atuais”, disse. A Superintendência de Serviços Financeiros de Nova York quer que o estado seja o primeiro dos EUA a legalizar os bitcoins como investimento.

Nos EUA, a Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC, na sigla em inglês) se reuniu frequentemente em 2013 para analisar opções de regulação. Como o interesse por bitcoins aumenta em todo o mundo, as autoridades norte-americanas estão investigando a melhor forma de tornar o ativo legal em território nacional, em vez de simplesmente suspender a utilização da moeda e eliminar a possibilidade de um investimento financeiro.

Após a popularização dos bitcoins em 2013, diversos bancos centrais criticaram o fato de a moeda não ser regulada e oferecer riscos aos investidores. Alemanha, França, Espanha e Itália advertiram contra o uso da moeda virtual como meio de troca e reserva financeira. O banco central da China proibiu em dezembro o uso de yuans para compra de bitcoins.

Lawsky se diz otimista com uma solução para o impasse no curto prazo e ressalta que a moeda virtual chegou a um estágio onde há mais pontos positivos do que negativos em sua operação. “A minha esperança é que os bitcoins estejam superando um momento de inflexão, onde vemos casos ilícitos de lavagem de dinheiro e furto da moeda, e se movendo para uma fase de transição e popularização, onde os benefícios serão mais evidentes”, afirmou.

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