Fundação Padre Anchieta lança estímulo para lan houses

Quase metade dos acessos à internet no País acontecem através de lan houses. De olho nas enorme quantidade de pessoas que se conectam nesses lugares, a Fundação Padre Anchieta apresentou hoje os desdobramentos de seu projeto Conexão Cultura, que busca levar conteúdo qualificado aos computadores de lan houses.

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Por Tatiana Mello Dias
Atualização:

Lançado em janeiro e desenvolvido inicialmente pela Casa de Cultura Digital, o projeto ganhou corpo ao longo do ano. O ponto central é o plugin instalado nos computadores de lan houses disponibiliza conteúdo de parceiros como o Itaú Cultural, Sesc e SENAC para o público.

“Constatamos que havia dois mundos separados: de um lado uma porção de instituições com conteúdo de qualidade, mas sem audiência, e de outro uma enorme massa de audiência sem acesso, porque não sabe navegar ou não tem intimidade com esse conteúdo”, disse hoje ao Link Paulo Markun, presidente da Fundação.

 Foto: Estadão

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Ele demonstrou a ferramenta ao Link. O plugin funciona em Firefox, Chrome e Internet Explorer e deve ser baixado e instalado pelos donos de lan houses. Na prática, é uma barra lateral no navegador que disponibiliza notícias, informações e cursos a um clique. “É uma espécie de guia de navegação, validado pela TV Cultura”, diz Markun. Para a equipe, a vantagem do formato é o fato do usuário estar em uma lan e, portanto, com pressa.

“Se ele o usuário só tiver uma hora, ele vai ter que ter as informações de maneira rápida. O que a gente quer falar é isso: olha, tem um curso, tem um show que é gratuito”, explica Ana Teresa Ralston, que saiu do cargo de gerente de projetos educacionais da Microsoft para assumir a curadora do projeto.

Nessa primeira impressão, deu para perceber alguns pontos interessantes. O principal deles é o georreferenciamento. Um usuário de Itaquera pode ter acesso à informações locais – cursos e a programação do SESC local, por exemplo. Além disso, há possibilidade de veicular conteúdo ds própria comunidade local. Isso ainda não acontece, mas é uma possibilidade que, segundo Markun, está aberta.

Outro ponto positivo é o fato do projeto ser desenvolvido em código aberto, o que possibilita que desenvolvedores ajudem a construir e mesmo que outros estados criem sua própria versão da ferramenta.

Algumas questões, porém, continuam abertas – grande parte, segundo Markun, porque o projeto “está em construção”. Na apresentação, que aconteceu hoje na Conferência W3C, um membro da platéia perguntou: como garantir que, na seleção de conteúdo, não haja um “filtro ideológico”? Markun argumentou que tudo que será veiculado ali terá a chancela da Fundação Padre Anchieta. “Você acha que a TV Cultura tem um filtro ideológico?”, questionou. Segundo ele, embora o conteúdo disponibilizado no sidebar seja de instituições parceiras, não há possibilidade de veicular conteúdo comercial.

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E como garantir que o usuário de lan house se interesse pelo conteúdo educativo? Segundo o presidente da Fundação, há duas maneiras. A primeira é um sistema de milhagem, no qual o usuário se cadastra e tanto ele quanto a lan podem ganhar vantagens (oferecidas pelos parceiros) conforme usam o sistema. Além disso, foram convidados “embaixadores” para divulgar o projeto – entre eles, Gilberto Gil, Marcelo Tas, Soninha e o rapper Thaíde. O plano é estender o acesso para atingir seis milhões de usuários.

“Quando o sistema estiver em funcionamento e o dono da lan house ver vantagens reais em utilizá-lo, isso vai crescer muito”, diz Markun. “Essas vantagens podem ser um curso de capacitação pra ele gerenciar, um selo que diga que ele é do bem, e mais do que isso, estamos trabalhamos em um projeto pra que determinadas atividades governamentais sejam realizadas na lan house”.

“O Conexão não é a ferramenta, é um componente de uma ação maior”, diz Ana Ralston. Parte dessa ação é o Prêmio Conexão Cultura, que convida donos de lan houses a contarem suas boas práticas – como, por exemplo, dar horas grátis para estudantes que tiram boas notas. A idéia é tirar o estigma de que lan houses são casas de jogos ilegais e impróprias para menores quando, na verdade, podem ser o único ponto de acesso à cultura em muitos lugares do País.

“Não estamos preocupados se a lan house usa software pirata ou não, ou se está regularizada. A idéia é que essa imensa massa preste um serviço”, diz Markun.

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