Futuro ainda distante

Para concorrentes do Netflix, que chegou ao País semana passada, o mercado brasileiro ainda tem de amadurecer – e muito

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Por Murilo Roncolato
Atualização:

Para concorrentes do Netflix, que chegou ao País semana passada, o mercado brasileiro ainda tem de amadurecer – e muito

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O Netflix não assusta ninguém. Pelo menos essa é a impressão que os demais provedores de entretenimento por streaming estão espalhando. O serviço aterrissou por aqui, vindo dos EUA, há uma semana e é encarado pelos rivais mais próximos como algo positivo para a popularização do negócio, ainda pouco expressivo no País.

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O serviço oferecido pelo Netflix aqui se resume à oferta de filmes e séries de TV por um mecanismo de streaming, sendo possível assistir por smart TVs, computador, console de videogame ou qualquer dispositivo de mídia conectado, como tablets. O detalhe é que o catálogo da Netflix agrega uma seleção de títulos lançados há pelo menos três anos nos cinemas. Para isso, o cliente deve firmar uma assinatura mensal ao custo de R$ 14,99. Nos EUA, e só lá, além do streaming, a companhia tem ainda um modelo de entrega de DVDs pelo correio.

No mercado brasileiro, operadoras de TV a cabo como Net e Sky oferecem serviço de vídeo sob demanda (on demand, em inglês) com uma seleção de títulos destinada apenas a assinantes; os demais são o portal Terra com a sua Video Store; a livraria Saraiva e o Netmovies, que mais se assemelha ao serviço oferecido pelo Netflix nos EUA.

As operadoras de TV por assinatura apontam o comportamento do brasileiro como uma barreira entre elas e o Netflix.

“As pessoas estão acostumadas à TV, a assistir à grade ao mesmo tempo que todo mundo. É uma questão de costume”, acredita Márcio Carvalho, diretor de produtos e serviços da Net.

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A diretora de programação da Sky, Marcia Cruz, acha que a imaturidade no mercado pode atrapalhar serviços como o do Netflix. “TV a cabo no Brasil ainda é novo. É um mercado que ainda vai crescer e antes que o streaming online possa competir”, diz. Cruz ainda define o vídeo sob demanda como algo “complementar”.

Netmovies, Terra TV Video Store e Saraiva Digital empurram suas fichas para o privilégio de oferecerem filmes mais novos do que os da Netflix (não em streaming online, mas por locação digital e física). Isso porque os estúdios e demais produtores de conteúdo estabelecem intervalos de exibição que determinam em quanto tempo e de que maneira determinado serviço vai poder exibir ou comercializar algum título após a sua estreia nos cinemas. São as chamadas janelas.

O filme sai primeiro do cinema. Seis meses depois (isso varia de acordo com o estúdio) chega à locadoras. Aí são mais três meses para que alcance o varejo. A lista continua, passando pelos canais de TV e, por fim, chega ao streaming online ilimitado.

Nessa hierarquia, os serviços que alugam digitalmente (deixa o streaming disponível por até 48 horas) entram na mesma janela das locadoras, tendo assim um conteúdo mais fresco que os demais. “Se esse conteúdo chegar para o streaming ao mesmo que para a TV a cabo, ele mata a TV. Com o surgimento desse novo modelo, os estúdios estão ainda procurando um modo de lucrar sem afetar o resto da indústria”, observa Daniel Topel, diretor executivo da Netmovies.

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Por ficar tão atrás dos outros na escala de distribuição da indústria, serviços de streaming ilimitado ainda são oferecidos em paralelo a outros mais rentáveis, como faz a Netmovies, ou nem se tornam opção para as empresas, embora seja atraente para clientes em função do baixo preço. É o caso da Saraiva Digital, que apenas aluga ou vende os títulos digitalmente, por meio de download. “Gostaríamos de ter um modelo de assinatura, mas hoje ainda não vejo como um modelo viável em função da falta de acervo”, lamenta Deric Guilhen, diretor de produtos digitais da loja, que aposta em conteúdos de nicho, como vídeo de treinamento e palestras.

O diretor de mídia do Terra para América Latina, Pedro Rolla, prevê que todos os dispositivos e serviços afunilarão para a internet, mas não qualquer internet. “A gente precisa esquecer essa visão da internet como WWW e passar a vê-la nos mais variados dispositivos”, diz. “O usuário tinha de sair de casa, ir na locadora, o filme que ele queria está esgotado, ele pega outro, atrasa para devolver, tem que pagar multa. Toda essa má experiência não existe no digital”, ilustra. Para ele, o mercado de televisores será dominado pelas smart TVs. E cita a morte da TV de tubo como exemplo do processo de substituição de tecnologias no setor.

Vale a pena?

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Qualquer comentário sobre o Netflix corre o risco de se tornar superado, já que a empresa acabou de chegar no Brasil, mas a verdade é que à primeira vista ele é legal, mas a longo prazo nem tanto. O Netflix só recebe filmes com três anos depois de lançado no cinema, por isso o catálogo tem pouca coisa nova e pouca coisa boa (além de problemas com legendas ou títulos só dublados). Talvez o melhor acervo seja o infantil; e os piores, documentários, clássicos e séries. Pelo preço, é um serviço interessante. Mas com o catálogo sem novidades, por quantos meses vai continuar valendo a pena assinar?

—-Leia mais:Personal Nerd – TV além da TVTV social começa antes no BrasilTV socialLink no papel – 12/09/2011

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