PUBLICIDADE

?Há um renascimento do falar em público como modo de dividir ideias?

Aos 30 anos, as conferências TED se tornaram uma marca global ligada a ideias e inovação com suas exposições curtas e acessíveis sobre os mais variados temas e que geram vídeos ‘virais’; em outubro, Rio de Janeiro sediará primeira TED Global da América Latina

Por Camilo Rocha
Atualização:
 Foto:

LOGIN | Chris Anderson, curador das conferências TED

PUBLICIDADE

Para Chris Anderson, o mundo vive uma renascença da arte da palestra. O curador das conferências TED acredita que em plena era dos vários modos digitais de comunicação, há um interesse renovado em assistir a alguém expor ideias em cima de um palco.

Anderson tem 57 anos, nasceu no Paquistão, mas é naturalizado britânico. Mora nos Estados Unidos desde os anos 90. Depois de uma bem-sucedida carreira no jornalismo, comprou através de sua fundação a organização de conferências TED, que existia desde 1984.

Há vários tipos de eventos TED, de palestras locais a conferências globais, que há muito tempo deixaram de ser apenas sobre tecnologia, entretenimento e design, como diz a sigla, e passaram a incluir de filósofos a cientistas, de psicanalistas a líderes religiosos. Em todos, uma regra é sagrada: as apresentações não podem ter mais de 18 minutos. O objetivo é facilitar a conversão das palestras em vídeos para o site TED, o maior responsável por difundir a marca no mundo, onde os vídeos já somam 2 bilhões de visualizações.

Entre 5 e 10 de outubro, no ano em que a TED completa 30 anos de história, o Rio de Janeiro receberá a primeira TED Global da América do Sul. Metade dos palestrantes já foi revelada e inclui brasileiros como o cineasta José Padilha e o empresário Ricardo Semler, mas muitos “nomes fortes” ainda serão anunciados, segundo Anderson, que recebeu o Link para uma entrevista em São Paulo.

Por que fazer uma TED Global no Brasil em 2014? É uma das duas conferências desse tipo que fazemos a cada ano. Tem saído muita inovação e boas ideias daqui. Faz um tempo que estamos planejando isso, e a hora é ótima. O prefeito do Rio, Eduardo Paes, nos fez um convite caloroso, o que foi decisivo.

Que ideias relevantes tem saído do Brasil? Na área de sustentabilidade, por exemplo, há muitas lideranças. Mas a conferência que vem aqui é uma conversa global e não local. O que me chamou a atenção nos dias em que passei aqui é a paixão pela inovação, uma energia que é muito empolgante.

Publicidade

A paixão é um elemento importante para se realizar uma ideia? Uma crença, uma ideia, é uma teoria dentro da cabeça de alguém. Só que isso não diz nada, não leva a algo. O que você realmente quer são ideias que sejam entendidas e sobre as quais as pessoas se importem. Você precisa saber por que isso importa, sentir por que importa. Nesse sentido, a paixão é muito importante, é a diferença entre uma ideia existir e uma ideia ser espalhada por aí. É empolgante ver esse renascimento do falar em público como maneira de compartilhar ideias. A palavra escrita pode ser muito eficiente para isso, mas algo incrível pode acontecer quando uma plateia escuta um orador que consegue fazer com que as pessoas se importem com a ideia e a passem adiante.

A internet foi importante para essa redescoberta da palestra? Foi uma surpresa e um deleite descobrir que esse formato da palestra de 18 minutos tornava-a curta o bastante para viralizar na internet. Crescemos com essa ideia de aulas arrastadas, onde as pessoas dormiam ou logo estavam pensando em outra coisa. Com o nosso formato, os oradores passaram a realizar um grande esforço para comprimir o que queriam dizer naquele curto período. Então, você tinha um contrato incomum entre orador e plateia, em que a audiência dava atenção total ao orador, que preparava melhor o que ia dizer. Isso funcionou nas conferências em si, mas também funcionou online, com as palestras viralizando. Há quem gaste meses preparando sua participação, ensaiando dezenas de vezes. Se você é um palestrante requisitado, falará em um ano para talvez 50 mil pessoas. Na internet, você terá 50 mil nas primeiras cinco horas em que estiver online.

...

Alguns críticos acusam o seu formato de ser superficial. Existe uma diferença entre ser acessível e ser superficial. Nosso objetivo é ser acessível. Seguimos o dito de Einstein: “faça tudo o mais simples possível, mas não simplifique”. Nossa meta não é ser uma fonte completa de conhecimento. Seria impossível fazer isso em 18 minutos.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Existe alguma agenda ou viés por trás da curadoria do TED? Apenas em um nível mais básico. Coisas em que acreditamos como o poder das ideias de moldar a história, a importância da curiosidade e do aprendizado. A noção de que quando compartilhamos ideias construímos um futuro mais iluminado do que quando apenas gritamos uns com os outros. Definitivamente, temos respeito pela ciência, pelo processo de entender como é o mundo. Não temos uma agenda, apenas juntamos pessoas curiosas, que querem um mundo onde a tecnologia é uma ferramenta poderosa. Nós vamos aonde as ideias nos levam.

Mas quando vocês tem alguém como Edward Snowden ou Julian Assange participando não estão de certa forma tomando um lado? Com o Snowden, os temas que ele trouxe à tona certamente estão entre os mais importantes que estão sendo discutidos no mundo agora. Depois que ele falou para a gente, via telepresença, em cima de um robô, convidamos a (agência de segurança) NSA e eles também vieram falar. Agora no Rio teremos Glenn Greenwald, jornalista que publicou as matérias com as revelações de Snowden.

Qual sua visão pessoal sobre o Snowden? Isso não importa (risos), eu sou apenas o curador.

Publicidade

Sua visão pessoal não é relevante para o TED? Não acho que importe. Meu desejo é encontrar maneiras poderosas de trazer os temas à tona, fazer as perguntas certas, conduzir a entrevista, é o que mais interessa.

Em altaLink
Loading...Loading...
Loading...Loading...
Loading...Loading...

O preço do ingresso da TED Global no Rio (US$ 6 mil) não é nada acessível para os padrões brasileiros… Ele segue o padrão internacional do preço de admissão dos TEDs. A produção do evento é cara, a tecnologia envolvida é cara, são produções que custam milhões de dólares. Somos uma organização sem fins lucrativos, embora nossos eventos deem um pouco de lucro. Queremos muito que ideias sejam acessíveis e não queremos comercializar o site com anúncios. Atualmente ele é custeado principalmente pelo dinheiro que vem dos ingressos. O que esperamos é que as pessoas venham pensando que estão investindo em ideias. Estaremos também oferecendo streaming ao vivo da conferência para algumas escolas e universidades.

Vivemos uma boa época para as ideias, com toda as possibilidades oferecidas pela internet e pelas redes sociais? Acho que é um tempo complicado, misturado. As redes sociais permitem que boatos malucos se espalhem como um incêndio, mas também permite que artigos incrivelmente ricos fiquem mais conhecidos. Mas as redes e a internet são uma enorme causa de distração. Vivemos essa experiência inédita em que o tempo todo estão colocando debaixo dos nossos narizes, a apenas um clique de distância, um irresistível petisco de informação, que pode tanto ser muito útil como diminuir nosso ritmo.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.