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Hotel oferece 'detox tecnológico' por R$ 674

Objetivo é livrar hóspedes da 'eletropoluição' ; pesquisadora contesta e diz que detox de campo eletromagnético é 'papo furado'

Por Murilo Roncolato
Atualização:
 

SÃO PAULO – Se por um lado há hoteis no Japão selecionando robôs para seu quadro de funcionários, um outro empreendimento do setor na Inglaterra espera “eliminar a ‘eletropoluição’” do seu corpo.

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Por lá, nada de celular ou computadores. A única coisa que pode ser recarregada no myhotels Bloomsbury, de acordo com o pacote “Dot.com Detox”, são as “reservas de energia pessoais” dos seus hóspedes.

Para uma diária, o hóspede pode ir à academia local, tomar um suco verde e usar adesivos (tags) que prometem “sintonizar e harmonizar os efeitos da radiação” para “ajudar a manter seu corpo balanceado e saudável”. E afirmam: “o investimento é modesto, os resultados podem ser profundos”.

O pacote que oferece o “detox tecnológico” cobra 159 libras por diária (cerca de R$ 674) e visa atender todos os dependentes de tecnologia e que esperam se livrar dos efeitos dos campos eletromagnéticos gerados nas cidades.

Dá para acreditar?

Segundo a doutora especializada em efeitos à saúde por campos eletromagnéticos, Ciliane Sollitto, há uma “batalha científica muito séria e complicada” sobre esse assunto. Ela explica que há diversas pesquisas sobre o tema, mas não há nenhuma conclusão definitiva assumida pela Organização Mundial da Saúde.

“Há trabalhos – que inclusive relacionam maior incidência de câncer em pessoas que vivem próximas a estações de radiofrequências – que geram sugestões”, diz. “Como a que relacionou o uso de celular na orelha a feitos no cérebro, que resultou em um aconselhamento para que as pessoas prefiram usar fone de ouvido para ligações”, diz. Segundo ela, dá para olhar para todas as pesquisas e ver “um copo meio cheio ou meio vazio”.

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“A gente pode falar que não pode colocar wi-fi nas praças, mas não tem como justificar. Éramos contra colocar antena dentro do metrô porque ele vira um microondas, mas isso é uma coisa que poucas pessoas entendem e acaba sem resultados.”

Questionada sobre o serviço oferecido pelo hotel, a pesquisadora riu e afirmou que “fazer desintoxicação de campo eletromagnético é papo furado”. “A não ser que esse hotel seja uma gaiola de faraday ou fique em um lugar isolado, ele não está livre de nada”, diz – o hotel está localizado no centro de Londres.

“Qualquer fio ligado na tomada gera corrente de campo eletromagnético, de baixa frequência no caso da eletricidade, e de alta, no caso de celulares e computadores.”

Eletrosensibilidade

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A exceção seriam as pessoas “eletrosensíveis” (diagnosticadas como EHS, sigla em inglês para síndrome de hipersensibilidade eletromagnética). Quem a possui, pode sentir dores de cabeça, dores no corpo e até desenvolver depressão.

“Para quem é diagnosticada com a doença, é importante morar em locais especialmente construídos para serem livres de campos eletromagnéticos”, diz a pesquisadora.

Para Sollitto, a comprovação de que as ondas geradas por celulares e todos os eletrônicos com que convivemos deve levar tempo. “Se fizermos uma analogia com o cigarro, precisamos de 50 anos para a OMS afirmar que ele gera câncer.”

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