I/O 2019: Google Stadia tem boa experiência, mas conexão será calcanhar de Aquiles

Serviço de streaming de games da gigante de buscas precisará de conexão com pelo menos 25 Mbps para funcionar de forma apropriada; 'Estado' testou conceito durante evento

PUBLICIDADE

Por Bruno Capelas
Atualização:
Stadia Controller, controle lançado pelo Google para ser usado com o Stadia, serviçode streaming de games da companhia Foto: Bruno Capelas/Estadão

A partir de qualquer dispositivo, ter partidas de videogame com experiência digna de um console de última geração: essa é a proposta do Google Stadia, serviço de streaming de games da gigante de buscas, anunciado com entusiasmo em março e previsto para chegar ao mercado -- americano, pelo menos -- até o final de 2019. Nesta semana, durante o I/O, evento anual de desenvolvedores realizado pelo Google em sua sede, em Mountain View, o Estado pode experimentar o serviço em seus primeiros testes "públicos". A primeira impressão foi boa: a sessão, realizada dentro do game Assassin's Creed Odyssey, teve ótima experiência, mas a necessidade de uma conexão estável poderá ser um empecilho quando o serviço chegar ao Brasil. 

PUBLICIDADE

Isso porque, para funcionar bem, o Google Stadia precisará de conexões de pelo menos 25 Mbps (megabits por segundo) -- algo que está acessível a poucos brasileiros. Com essa velocidade, é possível jogar partidas em alta definição (Full HD, 1080p), a 60 frames por segundo -- taxa de frequência de quadros considerada de alta qualidade pela maioria dos jogadores. 

Para quem quiser jogar em altíssima definição (Ultra HD, 4K), a conexão precisará ser ainda mais rápida: na casa de 35 Mbps. Já quem tiver planos de banda larga mais lentos perderá qualidade -- embora o Google garanta que o serviço não vá funcionar abaixo de alta definição (HD, 720p). 

A velocidade mínima para que o Stadia funcione ainda é um mistério -- só será revelada no terceiro trimestre de 2019. "Quem tem conexões em torno de 3,5 Mpbs, por exemplo, provavelmente não vai conseguir usar o Stadia", diz um porta-voz do Google ao Estado. "Será algo que divulgaremos, com certeza: não deixaremos as pessoas pagarem por algo que não terão certeza de que não conseguirão usar". 

No entanto, não bastará apenas que a conexão seja veloz: ela precisará ter estabilidade em alta velocidade. Segundo um porta-voz do Google, uma conexão estável, mais lenta, terá uma experiência de jogo melhor que aquela que traga apenas picos de velocidade, mas também experimente alguns instantes sem tráfego. Estabilidade pode ser, de fato, um desafio: até mesmo no teste em um ambiente controlado, como o da conferência I/O, foi possível ver a qualidade dos gráficos cair em um momento em que a velocidade da conexão foi reduzido -- nada, porém, que tenha comprometido a experiência real. Em São Paulo, em zonas de tráfego de internet mais congestionado, talvez não seja a mesma coisa. 

A favor do Google, porém, há um ponto importante: o conceito do Stadia é voltado para jogadores que desejam experimentar games, mas não necessariamente têm um console de última geração. É um público, a menos a princípio, menos exigente que os jogadores tradicionais, ultimamente bastante preocupados com a qualidade dos gráficos. Além disso, o Stadia está direcionado para partidas em laptops e smartphones, dispositivos que têm telas menores e onde a diferença de qualidade entre Full HD e 4K, por exemplo, é menos perceptível que numa televisão de 65 polegadas. 

No caso de desconexão, porém, um alento para os possíveis jogadores brasileiros: toda vez que a internet cair, o Stadia salva a partida automaticamente de onde o jogo parou. "Será como assistir um vídeo no YouTube: a transmissão é retomada no mesmo ponto", explicou o porta-voz do Google. Além disso, claro, será possível salvar a partida em pontos determinados, dependendo da vontade do desenvolvedor do jogo. 

Publicidade

Controle

Além de testar o conceito em si, a reportagem do Estado também pode ter acesso ao Stadia Controller, joystick anunciado pelo Google em março e que poderá ser usado pelos jogadores na plataforma -- o controle, porém, pode ser substituído por qualquer outro compatível com USB que o jogador tenha acesso no momento. 

Em um teste de 15 minutos, a experiência com o Stadia Controller foi bastante satisfatória. A princípio, ele lembra o Dual Shock, do Playstation 4, mas tem uma estrutura física mais robusta, o que dá segurança ao jogador. A única confusão fica por conta dos quatro botões centrais, usados tanto para acessar o menu quanto para iniciar a transmissão de uma partida diretamente para o YouTube. 

A ideia é boa, mas pode confundir jogadores experimentados (e acostumados com outros controles). É o único ponto fraco do dispositivo, que ainda não tem preço definido. O próprio modelo de negócios do Stadia, vale lembrar, também ainda não foi divulgado pelo Google -- rumores dizem que ele será uma assinatura, tal como Netflix e Spotify, mas as novidades serão divulgadas apenas no segundo semestre. 

*O jornalista viajou a Mountain View (EUA) a convite do Google

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.