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Lastro em bits

BitCoin, moeda nascida na rede, ganha adeptos, assusta o mercado e agora espera oficialização para que possa cumprir a promessa de criar uma economia digital livre

Por Filipe Serrano
Atualização:

??? BitCoin, moeda nascida na rede, ganha adeptos, assusta o mercado e agora espera oficialização para que possa cumprir a promessa de criar uma economia digital livre

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SÃO PAULO – Entre uma tarefa e outra, o mineiro Leandro César alterna a janela do navegador e uma página que exibe cotações atualizadas em tempo real. Em outra época, a tela mostraria transações na bolsa de valores, onde ele antes investia seu dinheiro. Mas desde que descobriu uma nova forma de investimento chamada BitCoin há “quatro ou cinco meses”, o arquiteto de soluções passou a acompanhar esse outro tipo de variação financeira digital.

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Leandro é parte das centenas de milhares de entusiastas que aderiram a um projeto semelhante ao conceito das redes de troca de arquivos na internet, mas, em vez de vídeos e músicas, são moedas digitais online que são trocadas. Não é muito diferente da forma como preços de ações são negociados. A diferença é que não há uma entidade ou governo que regule essa nova moeda e taxe as trocas realizadas nessa rede.

Usando um programa de código aberto, todas as transações na rede de bitcoins, como são conhecidas as moedas virtuais, são negociadas de pessoa para pessoa (P2P) e registradas usando o processamento dos computadores de cada um. As transações são criptografas e podem ser vistas por qualquer pessoa, mas o usuário dificilmente é reconhecido porque recebe apenas um código de registro que não detalha sua origem ou identidade.

Compra-se bitcoins com dinheiro de verdade. Leandro explica que existem fóruns online em que as pessoas oferecem bitcoins em troca de um valor em dinheiro, o que geralmente é pago usando transferências em sites como o PayPal ou, então, depósitos em contas de banco. Também há sites que fazem a mediação do negócio, cobrando taxas sobre o comércio de bitcoins. O mais popular chama-se MtGox, referência entre os usuários para saber a “cotação oficial” dessas moedas, que custa cerca de US$ 15 a cada unidade.

“Quando ouvi falar de bitcoin, eles valiam menos de um dólar”, conta Leandro. “A primeira leitura que eu tive é que seria igual ao torrent. Ou não ia dar em nada, ou ia estourar. E, como estava muito no início, achei que poderia ser interessante investir.” Segundo ele, os oito bicoins que ele tem hoje já dobraram de valor. E de tão entusiasmado, Leandro criou um site (http://www.bitcoinbrasil.com.br) que pretende ser referência em bitcoins no Brasil e planeja, ainda, lançar um serviço para intermediar as transações, assim como o MtGox faz.

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Paralelo. Acostumada a lidar com um sistema financeiro regulamentado, é difícil para uma pessoa crer que a moeda surgida e negociada no submundo da internet em um mercado paralelo, informal e experimental possa provocar algum impacto na economia. Mas a ideia de um sistema financeiro descentralizado e global tem assustado alguns.

No início do mês, o site Gawker descreveu bitcoins como “o equivalente online a um nota de dinheiro feita num saco de pão” em reportagem – republicada pela Wired – sobre uma loja online que vende drogas ilegais e aceita bitcoins como pagamento.

Outras reportagens descreveram os bitcoins como a invenção mais perigosa já criada na internet. E, há duas semanas, um senador dos EUA pediu uma intervenção no BitCoin, para que ele pudesse ser fechado pelas autoridades do seu país.

A publicidade negativa não abalou o novo mercado – pelo contrário, fez o valor da moeda disparar, chegando perto dos US$ 30 para cada bitcoin nas últimas semanas. Um de seus criadores e desenvolvedor do software do site, o inglês Amir Taaki, quer que o mecanismo também seja regulamentado para que possa cumprir a sua promessa de criar uma nova economia digital livre.

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Ele abriu uma consultoria em Londres para promover o uso dos bitcoins e afirma estar em contato com o órgão regulador no Reino Unido para trazer os bitcoins à legalidade. “Precisamos de regulações senão o perigo de o BitCoin se tornar algo fora da lei não vai terminar. O problema é que, se o BitCoin for considerado ilegal, as atividades ilícitas vão continuar”, defendeu, em entrevista ao Link.

Ele afirma que é impossível saber a quantidade exata de usuários. Isso porque, cada vez que o software é instalado em um computador, a pessoa recebe um código de identificação único que é usado para fazer as transações de uma conta para outra. De acordo com seus cálculos, Taaki chuta que “entre centenas de milhares e um milhão” de usuários estejam registrados no BitCoin.

“BitCoins fazem o mundo mais vibrante e culturalmente melhor ao eliminar a maioria das despesas extras para transferir dinheiro. Se você quer pagar alguém pela internet, é difícil mandar US$ 0,01. Com o BitCoin, é fácil”, defende Taaki, que entrou no projeto depois de se revoltar com as taxas cobradas por sites de pôquer online. Ele jogava profissionalmente e queria criar um sistema de pagamento alternativo. E assim aderiu ao projeto.

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O dinheiro já é virtual. A ideia dele é que o BitCoin se torne uma moeda de troca na internet também para a compra de produtos e serviços. O site do BitCoin lista centenas de estabelecimentos que oferecem a opção para comprar camisetas, eletrônicos, livros, músicas e até reservas de hotéis usando a moeda. Mas, em geral, são lojas online que dificilmente se encaixariam na categoria “confiável” para a maioria dos consumidores.

“O que chamamos de dinheiro ‘verdadeiro’ já é virtual. O Real não é real. Ele tem valor só porque as pessoas acreditam no seu valor. A única diferença entre o Real, o Dólar, o Yen e o BitCoin é a confiança”, disse Edward Castronova, professor de telecomunicações da Universidade de Indiana, nos EUA, que estuda mundos virtuais. Ele é um dos criadores do blog Terra Nova, especializado no tema. Seu colega e também cofundador do blog, Dan Hunter, porém, afirma que tais moedas digitais ainda estão longe de criar um problema econômico.

“O principal problema com esse tipo de dinheiro é que eles representam uma forma de transação que não pode ser taxada nem rastreada”, disse Hunter, professor na Escola de Direito de Nova York e pioneiro no estudo de economias virtuais. “Mas essas moedas não representam muito em termos de comércio e, provavelmente, há mais dinheiro guardado em milhas aéreas e pontos de cartões de crédito do que nelas”.

—-Leia mais:‘O Facebook pode criar um sistema econômico’Personal Nerd: dinheiro digitalMoedas da economia digitalLink no papel – 20/06/2011

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