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Livros escondidos pela rua. Para encontrá-los; venha pra internet

Por Lucas Pretti
Atualização:
 

Um pedaço de chita envolvendo algo sobre a estátua do fauno, dentro do Parque Trianon, na avenida Paulista, em São Paulo. Pode ter tudo ali dentro. Mas tem um pedaço de papelão com algumas folhas brancas – e palavras impressas. Dá para chamar de livro.

Durante toda a semana que passou, alguns pouco privilegiados participaram de uma “caça ao tesouro” reunindo internet, literatura e uma dose gigante de cultura livre e resistência. A cada dia, 10 cópias da Pequena Biografia da Mulher Ordinária que Desejava Ser um Agrião, escrito pela jornalista Sabrina Duran e impresso de forma artesanal, ganharam esconderijos bizarros na Paulista como forma de divulgar a obra. O “mapa do tesouro” era atualizado todos os dias no blog da autora, http://mulheragriao.wordpress.com/.

 

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Quem achasse as cópias, ficava com elas. Entre os locais, floreiras de prédios, quadro de luz de semáforos, orelhões, placas de sinalização, além de uma estante dentro da Fnac (atrás dos livros de Shakespeare) e a parte de fora da vitrine da Livraria Cultura. Sim, há um certo ativismo aqui.

“Tenho outros livros escritos e nunca fui bem recebida por editoras tradicionais. A resposta era a de que prosa e poesia de jovens autores não vende no Brasil. Não acredito nisso. E outra: pouco me importa”, disse Sabrina por telefone ao Link. Ela é coerente ao disponibilizar o livro em PDF para download também no blog. Os exemplares da rua são gratuitos, claro.

Outras ironias em relação ao “mercado” literário são o Flickr da Mulher Agrião (com imagens relacionadas ao livro) e o blog da editora fictícia que publica o livro, a La Encasa. Veja a descrição: “A editora espanhola La Encasa foi criada em Barcelona, em 1979, especialmente para a publicação de autores estreantes semi-desconhecidos, completamente anônimos, impopulares e autores inexistentes. O objetivo da La Encasa Editora é aproximar esses autores impublicáveis dos leitores mais sensíveis”.

Sabrina explica que “não tem nada contra editoras” e que “se elas me publicarem, vou achar ótimo”, mas que também “não depende da boa vontade de terceiros para levar adiante os projetos”. Pequena Biografia da Mulher Ordinária que Desejava Ser um Agrião conta em 24 textos curtos a história de uma mulher que nasceu e percebeu, do nada, que é nada (como todos nós?). Então deseja ser um agrião, um vegetal quase sem gosto (um pouco amargo) que é nada, mas não tem essa consciência.

 

“Algumas pessoas já me procuraram para falar sobre o livro que acharam na rua. Gosto da pegada analógica e orgânica (textura da chita, do carimbo nos livros, do agrião nos saquinhos que vou distribuir). Nesse caso, usei os meios tecnológicos pra impulsionar a iniciativa analógica (o lance de a pessoa ter que sair de onde está pra caçar o livro, etc., etc.).”

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Sabrina tem 28 anos, escreve eventualmente para revistas brasileiras e acabou de voltar de uma temporada de dois anos em Londres. “Levamos uma boa vantagem em relação aos nossos pais e avós: enquanto eles estavam muito mais preocupados com estabilidade, carreira e uma certa perenidade na vida (talvez pelo contexto histórico, criação, etc.), nós, hoje, conseguimos ter um desprendimento muito maior em relação às certezas que pautarão nossas vidas pra sempre e por isso arriscamos e criamos muito mais.”

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Ela diz que Mulher Agrião não é seu alter-ego. Nem a variável vegetariana da Mulher Melancia.

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