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Depois de décadas de produtos caros, a Apple agora dita os preços da indústria de PCs e celulares

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Por Redação Link
Atualização:

Depois de décadas de produtos caros, a Apple agora dita os preços da indústria de PCs e celulares

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Nick Wingfield -The New York Times

Algo inesperado ocorreu na Apple, antes conhecida como a líder da indústria em preços altos. Nos últimos anos, a empresa começou a superar a concorrência até no preço.

Os consumidores que se interessaram pelo mais recente smartphone da Apple, o iPhone 4S, puderam obtê-lo no dia do lançamento nos Estados Unidos desde que estivessem dispostos a esperar na fila, pagar ao menos US$ 199 (cerca de R$ 348) e contratar um plano de dois anos com uma operadora de celular.

A alternativa era evitar as filas e escolher um dos mais recentes rivais do iPhone fabricados pelas concorrentes da Apple, desde que estivessem dispostos a pagar mais. Por US$ 300 (R$ 525) e um contrato de dois anos, os amantes dos dispositivos digitais podiam comprar da operadora Verizon Wireless um Droid Bionic, da Motorola, ou então comprar da operadora T-Mobile o Galaxy SII, da Samsung, por US$ 230 (R$ 402) ou o Amaze 4G, da HTC, por US$ 260 (R$ 455).

A nova estratégia de preços da Apple representa uma grande mudança em relação aos anos 1990, quando os consumidores consideravam a Apple uma empresa que produzia enfeites tecnológicos caríssimos, incapazes de transformar seus computadores Macintosh em concorrentes eficazes para os PCs com Windows. Mas a empresa começou recentemente a usar sua crescente capacidade produtiva e logística para levar ao mercado produtos Apple a preços muito mais agressivos e passou influenciar os valores dos produtos em toda a indústria.

As inovações da Apple – incluindo produtos como o iPhone, o iPad e o superfino MacBook Air – recebem, com razão, o crédito por terem ajudado a empresa a renascer sob a tutela do seu ex-CEO e cofundador, Steve Jobs, morto no dia 5 de outubro. Mas analistas da indústria e executivos dizem que os preços praticados pela Apple são uma parte pouco visível da sua capacidade de encontrar um grande público para todos estes produtos, indo além dos fãs mais ardentes da empresa. A Apple vendeu mais de 4 milhões de iPhones 4S somente no fim de semana de lançamento.

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Os consumidores ainda podem encontrar alternativas mais baratas, com um design menos refinado e distinto, à maioria dos produtos da Apple.

Mas, na categoria de produtos de alto preço, na qual a Apple se sente mais à vontade, a maioria dos aparelhos comparáveis aos da Apple mal se equiparam aos preços da empresa.

“Não se trata de aparelhos baratos, mas não acho que ainda sejam vistos como desproporcionalmente caros”, disse Stewart Alsop, experiente especialista em investimento.

A Apple não concedeu entrevistas para esta reportagem.

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Operação. Os preços na categoria de notebooks ultrafinos ilustram bem a nova estratégia da empresa. Embora haja no mercado laptops bem mais baratos e ofertas de netbooks que custam poucas centenas de dólares, o MacBook Air, da Apple, se tornou um sucesso entre os usuários que buscam os notebooks mais leves e finos do mercado. Nos EUA, seu preço começa em US$ 999 (R$ 1.748), pelo modelo com tela de 11 polegadas.

No dia 11 de outubro, a fabricante taiwanesa Asus apresentou sua resposta ao MacBook Air, um esguio notebook com Windows. Mas a empresa não conseguiu bater o preço da Apple; o computador também custa a partir de US$ 999. Os notebooks ultrafinos da Série 9, da Samsung, que contam com recursos comparáveis, custam a partir de US$ 1.049 (R$ 1.835).

Já a fabricante Acer conseguiu bater o preço do modelo mais barato do MacBook Air ao lançar, neste mês, os notebooks ultrafinos da série Aspire S, que custam US$ 899 (R$ 1.573) e, ainda, têm tela maior.

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O MacBook Air original parecia voltado para um público mais rarefeito quando foi lançado em 2008, ao incrível preço de US$ 1.799 (R$ 3.148) pelo modelo de 13 polegadas. Há um ano, a Apple reformou o notebook para torná-lo mais fino e menor, reduzindo seu valor inicial para US$ 999 e US$ 1.299 (R$ 2.273), para os modelos de 11 polegadas e 13 polegadas.

Jean-Louis Gassée, investidor e ex-executivo da Apple, disse que houve uma “surpresa coletiva” com os baixos e novos preços definidos pela Apple para os seus MacBook Air.

Custos. Os analistas dizem que os preços agressivos refletem a capacidade da Apple de usar sua crescente produção para reduzir o custo das peças essenciais que compõem os dispositivos. A Apple também se mostrou disposta a usar os recursos do seu imenso baú do tesouro – no último trimestre, sua riqueza chegava a US$ 82 bilhões (R$ 143,5 bilhões) – para garantir o fornecimento de peças para os anos futuros, assim como fez em 2005, quando estabeleceu um acordo de cinco anos, avaliado em US$ 1,25 bilhão (R$ 2,19 bilhões), com os fabricantes de chips de memória flash para garantir o fornecimento para os iPods e demais dispositivos.

Ao comprar antecipadamente a produção, a Apple obriga a concorrência a disputar as peças que ainda estão no mercado, aumentando o custo dos produtos concorrentes, dizem os analistas. A Apple é a maior compradora de chips de memória flash em todo o mundo, de acordo com a firma de pesquisas iSuppli.

Gassée disse que a decisão da Apple em relação ao preço do MacBook Air deixa claro que o gerenciamento da cadeia de suprimentos por parte da empresa se tornou uma “arma estratégica”.

Outro exemplo é a decisão da Apple de estabelecer o preço do modelo básico do iPad em US$ 499 (R$ 873) quando lançou o tablet em 2010, centenas de dólares abaixo da expectativa.

“Acho que todos ficaram perplexos com o custo do iPad”, disse John Gallagher, professor de sistemas da informação da universidade Boston College. “O dispositivo ganhou um preço extremamente competitivo.” Durante algum tempo, as principais concorrentes da Apple não conseguiram vender tablets a um preço inferior.

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Quando o tablet Xoom, da Motorola Mobility, chegou ao mercado em fevereiro, o modelo mais barato disponível custava US$ 800 (R$ 1.400). Posteriormente, a Motorola anunciou um uma oferta de um modelo mais simples do Xoom por US$ 379 (R$ 663) nas lojas da Best Buy, por tempo limitado. Depois que a Hewlett-Packard anunciou seus planos de cancelar a produção dos seus tablets TouchPad depois de ficar aquém das metas de vendas, o preço do modelo mais simples do aparelho foi reduzido para US$ 99 (R$ 173), para acabar com o estoques.

O mais crível dos desafiantes do iPad deve ser o Kindle Fire, da Amazon, vendido a US$ 199, que deve chegar ao mercado na semana que vem. Embora analistas digam que a Amazon vai perder dinheiro com a venda de cada aparelho, o plano da rede varejista é usar o dispositivo para incentivar a compra de outros produtos e serviços da Amazon, como os livros em formato digital.

Transformação. Toni Sacconaghi, analista da Sanford C. Bernstein & Company, disse que o preço do iPad refletia uma “mudança de mentalidade” na Apple após o lançamento do primeiro iPhone, em 2007, cujo preço inicial era de US$ 499. Tratava-se de uma soma intimidadora para um celular nos EUA. As pessoas estavam acostumadas a celulares baratos, subsidiados pelas operadoras, em troca do compromisso com longos contratos.

Poucos meses depois de o produto ter chegado ao mercado, a Apple reduziu o preço cobrado pelo modelo mais sofisticado do iPhone, que passou a custar US$ 399 (R$ 698). A Apple acelerou o ritmo mais uma vez em 2008 anunciando o iPhone 3G por US$ 199, depois de começar a aceitar subsídios para os aparelhos dentro dos planos das operadoras parceiras, algo que não tinha ocorrido com a primeira versão. As operadoras pagam à Apple quantias maiores pelos iPhones 4S – cerca de US$ 600 (R$ 1.050) cada, estimam os analistas – com o objetivo de lucrar com os planos.

Sacconaghi disse que o preço do iPhone original e o acordo exclusivo de distribuição com a AT&T nos EUA criou, na época, uma brecha para o Google e seus fabricantes de celular parceiros, que inundaram o mercado com smartphones equipados com o sistema operacional Android.

Embora os iPhones estejam proporcionando à Apple grande prosperidade, os celulares da plataforma Android correspondiam a 43,4% do mercado mundial de smartphones no segundo trimestre, enquanto a Apple tinha 18,2% deste mercado, de acordo com estimativas da firma de pesquisas Gartner.

Muitas operadoras oferecem agora modelos mais antigos de smartphones Android que são entregues gratuitamente aos consumidores quando estes assinam com elas contratos de dois anos. Agora até a Apple está seguindo a tendência: ao anunciar seu mais recente modelo de iPhone, a empresa disse que o iPhone 3GS, lançado dois anos atrás, seria oferecido de graça com os novos contratos de dois anos.

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—-Leia mais:• Objeto de desejo e muito caroLink no papel – 07/11/2011

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