Mais suave; menos rígido; mais devagar; mais fraco

BANCO DE IDEIAS

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Por Redação Link
Atualização:

Gustavo Mini 

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SÃO PAULO – Tudo bem que o Brasil está vivendo uma época interessante, que faz convergir estabilidade econômica com transformações culturais, e que neste momento a linguagem das startups tomou conta até de mesas de bar e de programas de TV aberta. Tudo bem que tem horas que é preciso falar em metas, profissionalismo e eficiência. Mas eu espero sinceramente que essa onda dê uma diluída em 2013.

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Não me leve a mal, não é que eu queira que sejamos um povo acomodadão. É que eu acho que andam nos aplicando um golpe nos últimos anos com todo esse papo de liderança e empreendedorismo. A chegada de investimentos e escritórios de centenas de empresas americanas no Brasil nos últimos anos trouxe junto na bagagem a bíblia americana do fazer negócios. Um evangelho recheado de ideias bem sucedidas, mas também de uma retórica chatíssima e perigosa para a saúde mental do cidadão.

O expoente desse pensamento tem nome e sobrenome. Steve Jobs foi o gênio criativo que costurou num só negócio diferentes culturas e estratos sociais. Foi na sua morte que essa segunda face mais pop apareceu. De repente, Jobs não era apenas o mártir de geeks e entrepreneurs mas figurinha de chiclete no bolso de trabalhadores de classes emergentes e sub-celebridades.

A face de Jobs mais visível e citada em geral são sua intuição para entender movimentos culturais e sua capacidade de articular diferentes linguagens para fazer acontecer. O que no léxico popular acaba reduzido a clichês abstratos como “inovação”, “liderança” e “convergência”. Menos comentado e menos conhecido é seu lado nervoso, ditatorial, talvez doente. Sua índole “patrola”, que produziu não apenas produtos memoráveis e relevantes mas também talvez uma boa dose de aflição mental em quem trabalhava com ele. E é aí que eu quero chegar.

O lado obcecado, nervoso e intempestivo dos gênios é frequentemente usado por líderes não tão geniais assim para justificar comportamentos inapropriados e compor ambientes de trabalho nos quais as pessoas dão o sangue e a vida pela empresa como se estivessem criando o próximo iPhone. Mas em 99,9% dos casos elas não estão trabalhando no próximo iPhone, muito embora alguns líderes usem a retórica a la Jobs pra tentar convencer suas equipes de que as bizarrices pelas quais passam no dia-a-dia vão, de alguma forma, mudar o mundo.

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Lembra quando o Daft Punk cantava “Harder, Better, Faster, Stronger”? Pois então. A música foi lançada em 2001, deve ter sido composta no século anterior. Talvez seja hora de apostar em um mantra contrário, mais afinado com as necessidades contemporâneas: softer, worser, slower, weaker. O seu chefe não vai gostar, mas sua família, seus amigos, seu coração e sua sanidade vão.

*Gustavo Mini é publicitário e responsável pelo blog Conectoronde o texto foi publicado originalmente.

—-Leia mais:Feed • Link no papel – 14/1/2013

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