Mania de primeiro

Esse serviço é fútil ou útil? O produto é caro ou vale cada centavo? Aquela tecnologia é genial ou apenas ordinária? Só tem um jeito de descobrir – e os early adopters vão lá antes de todo mundo

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Por Redação
Atualização:

Você deve conhecer alguém assim. Às vezes é um tio que você vê de vez em quando; às vezes um amigo blogueiro meio nerd. O que importa é que o cara está sempre na frente de todo mundo quando se trata de tecnologia. Ele foi a primeira pessoa a ter um Playstation 3 e uma coleção de Blu-Ray. Foi ele que convidou você para o Orkut, anos atrás, para depois ser ele a primeira pessoa a dizer que o Orkut já não estava mais com nada e o que pegava, agora, era o Facebook.

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Assim é o early adopter, termo em inglês para definir os primeiros a adotar a novidade. Pode ser um aparelho, um serviço ou uma tecnologia: eles testam antes, aprovam ou reprovam e depois saem contando para o mundo o que acharam. São eles que dormem em fila nas lojas da Apple. E na semana passada, eles estavam atrás de convites para o navegador RockMelt.

“Confesso que tem um lado fútil de querer estar à frente, de ser uma das primeiras privilegiadas”, diz a publicitária Ana Paula Viana. “Mas, como trabalho com web marketing, tenho obrigação de estar por dentro das novidades e inovações tecnológicas, até para oferecer aos meus clientes um serviço de qualidade e inovador”, explica. Ela estava no Gmail, no Foursquare e no Twitter desde o início. Para ela, estar na vanguarda é uma mistura de necessidade profissional e manutenção de status social.

O empresário Nick Ellis, do blog Digital Drops, também é do tipo que guarda parte do salário para comprar produtos recém-lançados. Ele foi um dos primeiros brasileiros a ter a primeira geração do iPhone, quando o aparelho foi lançado nos EUA, em 2007. “Agora estou atrás de um iPhone 4, mas está difícil de encontrar aqui”, reclama. Ellis reconhece que há desvantagens de ser sempre o primeiro. “Você corre o risco de virar um beta tester da empresa, descobrindo em primeira mão eventuais bugs e problemas dos aparelhos.” Para ele, ter os produtos antes de todo mundo era um hobby que virou necessidade, por causa do trabalho. “Meu critério é simples, estou atrás de produtos que representem uma grande inovação, uma mudança de paradigmas. Apesar de adorar determinadas marcas, não me prendo a elas e gosto de experimentar vários sistemas diferentes.”

Retorno. Publicitária de 22 anos, Alessandra Ferreira também tem como hobby o consumo de eletrônicos em primeira mão. Para ela, consumidores assim são importantes para a marca entender melhor o público para quem produz seus aparelhos. “O early adopter tem a função de dar feedback para a marca e compor uma estrutura melhor para o produto. Acaba fazendo parte do papel de ‘ter primeiro’ ser um cara bom de feedback e que compreende as falhas iniciais do produto”, diz Alessandra. Ela acha que vale a pena. “Posso formar opinião com base nas minhas experiências e, depois, trocar figurinhas com outros usuários. Ter acesso ao novo é impagável para quem gosta de aprender”, diz.

O pesquisador Eric Messa, professor de Comunicação e Marketing na FAAP/SP, também é um early adopter. Mas ele diz tentar seguir um caminho mais crítico. “Por conta de uma observação crítica, consigo sustentar uma visão reflexiva sobre esses novos produtos e serviços. Não costumo me deixar levar pelo consumismo desenfreado”, diz Messa.

Early Adopter se difere por conhecer o assunto Login: Eric Messa, professor do curso de Comunicação e Marketing da FAAP/SP Foto: Estadão

Como você analisa essa vontade de ser o primeiro a ter um aparelho ou adotar um serviço? Nossa sociedade tem uma tendência natural pela novidade. O modelo capitalista em que vivemos estimula esse consumo do novo. Sob esse ponto de vista acredito que o que difere os early adopters é apenas a intimidade deles com determinado segmento.

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Qual a importância dos early adopters para as marcas? Cada vez mais, há envolvimento do consumidor com as marcas. O grupo dos early adopters é aquele que possui um conhecimento muito grande do segmento e da história da marca. Sem dúvida, eles são levados em consideração em diferentes momentos da estratégia de marketing de muitas empresas.

O que atrai consumidores mais empolgados para certas marcas, como a Apple? Acredito que seja um fenômeno sociológico, justificado a partir das características de uma sociedade baseada no consumo e na tendência pela novidade. Há um jogo social um tanto contraditório no qual nos movemos num determinado sentido para fazer parte de um grupo social ao mesmo tempo em que buscamos mecanismos para nos diferenciar desse grupo. É esse processo que faz o sucesso de estratégias como a limitação do número de produtos, a distribuição controlada de convites, as versões beta restritas, etc.

—- Leia mais:Link no papel 15/11/2010Rockmelt: um convite à distração

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