Mão no controle; olho na bola

Game de futebol não é só brincadeira. Conheça pessoas que levam torneios como estilo de vida

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Por Tatiana Mello Dias
Atualização:

Uns jogam mais no ataque. Outros, na defensiva. O que pode definir um campeonato é a frieza do jogador – a torcida vibra muito, contra e a favor, e pode desestabilizar os corações mais fracos. A técnica, é claro, também conta – há quem treine até quatro horas por dia. Mas chutes certeiros, dribles e defesas espetaculares dependem, na verdade, menos de pernas fortes e mais de dedos e cérebros bem treinados. Esse é, sim, um campeonato de futebol – mas digital, cuja etapa brasileira começou no último fim de semana em São Paulo.

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Jogos como Fifa Soccer e Pro Evolution Soccer (o antigo Winning Eleven) podem até ser diversão, mas também são assunto sério para muita gente. Tanto é que hoje, no Brasil, a Confederação Brasileira de Futebol Digital e Virtual (CBFDV) tem mais de 10 mil atletas federados e realiza por ano pelo menos 300 torneios. E esqueça a visão de moleques jogando bola vidrados com os controles – apenas 30% dos jogadores têm menos de 17 anos. E 40% deles jogam há mais de oito.

Na época em que a Confederação surgiu, em 2005, os pais liam sobre um “tal campeonato de videogame” e levavam os filhos para competir. Hoje não. “O pai vai disputar o campeonato e filho vai torcer”, explica Edivaldo dos Santos Junior, presidente da Confederação. Tanto é que eles preferiram proibir a participação de menores de idade nas competições e contam com a própria categoria sub-17.

No futebol digital, é difícil falar em favoritos. Júnior diz que há tantas possibilidades de zebra quando no real. “Se um cara começar a treinar hoje, ele já tem chances de ganhar”, diz. “Há quem jogue com o time atrás, na retranca, e ganha a partida por 1 a zero. Estilo Dunga. Há quem jogue para frente e perde. Não tem como falar quem vai ser o campeão, cada ano há uma surpresa”.

O game usado nos campeonatos é o Pro Evolution Soccer, evolução do Winning Eleven da Konami. Embora a competição entre o PES e o Fifa exalte os ânimos como um Fla x Flu, a organização do torneio diz que usa o PES pelo maior número de jogadores. “Os participantes jogam, em média, há seis ou oito anos. São adeptos do Evolution desde o primeiro PlayStation”, diz Júnior. “Já organizamos campeonatos com Fifa Soccer mas o número de competidores ficou muito aquém”. Além disso, vale um adendo: a principal patrocinadora dos campeonatos é a Konami, fabricante do PES. Ela paga a gorda premiação dos atletas: US$ 10 mil para o campeão brasileiro.

Um campeonato de futebol digital acontece da mesma maneira como o real. As federações estaduais realizam campeonatos locais, e os vencedores vão para a etapa nacional. Os paulistas, até por serem em maior número, sempre chegam como favoritos – mas, nos últimos três brasileiros, foram os nordestinos que levaram o caneco. O atual campeão é maranhense: Marcos “Cruel” Vidal, que também venceu o mundial na França no fim do ano passado e virou garoto-propaganda da Konami.

“Cruel” é um dos poucos que têm patrocínio. O raro suporte financeiro geralmente vem de lojas de games ou informática. Júnior diz que o Brasil está à frente de muitos países no quesito organização, mas ainda sofre com a falta de verbas. “Lá fora, as empresas enxergam isso como uma forma de estar em contato direto com seu público. Aqui, levamos cinco anos para conseguir o primeiro patrocínio”.

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Parte do jogo

Entre 2002 e 2009, Victor Romualdo Francisco era um dos consultores da EA Games no Brasil. “Eu fazia o banco de dados dos times brasileiros”, explica o jornalista. Era ele o responsável por repassar à produtora do game Fifa Soccer todas as informações – nome, estilo de jogo, time – sobre os jogadores brasileiros que aparecem no game. Victor também chegou a viajar para outros países para testar protótipos do jogo. “Fazia os testes para ver se o bonequinho chutava no gol direito”, diz. Por causa de sua estreita relação com o game, Victor foi juiz de eliminatórias nacionais do campeonato oficial de Fifa Soccer e também do próprio jogo. O rosto dele, digitalizado, aparece ao lado do de outros consultores aleatoriamente na tela de entrada da versão 2010 do game. “Depois de um tempo, acabei parando. É que tem gente que faz esse trabalho, de consultoria, até de graça para a EA. E eu já passei dessa fase”. /ANA FREITAS

Aterrorizando os adversários

Dos pequenos torneios promovidos por locadoras ao mundial na França foram só sete anos. Ergueu o caneco de campeão brasileiro em março – foi recebido com festa e embolsou um prêmio de US$ 10 mil – e seis meses depois venceu o belga “Jinxy” no mundial. “Ele é muito confiante. Consegue intimidar a pessoa mais experiente”, elogia Júnior, presidente da CBFDV. “A torcida influencia muito. O jogador fica com medo, é uma pressão incrível”, diz o craque. “Tem que ser frio. Tem que ter coração de pedra para aguentar a pressão”, diz. Na época dos torneios, “Cruel” treina de três a quatro horas por dia, mas já pensa no futuro: quer ser analista de sistemas. /T. M. D.

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Game de futebol de verdade chega às redes sociais

Até algum tempo atrás, jogos de futebol em redes sociais não eram exatamente partidas. Era possível encontrar testes ou gerenciadores de campeonatos, daqueles em que você só fica olhando uma tabela, torcendo para que seu time ganhe, e a graça está em comprar jogadores e negociar. Isso mudou com a chegada do Bola ao Orkut e ao Facebook.

No Orkut desde o fim de março, o Bola é um game da Playdom trazido ao Brasil em parceria com a Mentez, produtora do Colheita Feliz. “Tem crescido bastante: já há mais de um milhão de pessoas jogando Bola no Brasil, no Orkut e no Facebook”, informa Andy Kleinman, um dos executivos da Playdom.

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No Bola Social Soccer, o jogador começa herdando um time de futebol falido. O game ainda precisa ser melhor traduzido: não raro, o jogador topa com frases construídas de forma estranha no português. Mas os gráficos e a jogabilidade espantam.

Além disso, as possibilidades que o jogo traz ao gamer casual são muito divertidas: dá para controlar todos os aspectos do time de futebol, da cor da camisa ao patrocinador do estádio, e ir levando um time de várzea até a primeira divisão. E o aspecto social? Você pode desafiar seus amigos para partidas e compartilhar com eles seus avanços e derrotas. “É o que nós chamamos de segunda geração dos games sociais”, conclui Kleinman./ANA FREITAS

Clique para ampliar  Foto: Estadão

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