Marco Civil 'dificilmente' será votado nesta semana

Relator acredita que projeto pode ser aprovado, apesar de resistência quanto a datacenters e neutralidade de rede

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Por Redação Link
Atualização:

Deputados pedem ‘mais debate’ sobre projeto do Marco Civil, formulado publicamente em 2009

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BRASÍLIA/SÃO PAULO – Apesar da pressão do Planalto pela votação do Marco Civil da Internet mesmo sem acordo com o PMDB, o tema “dificilmente” será analisado pelo Plenário da Câmara dos Deputados hoje ou mesmo durante esta semana. A avaliação foi feita por deputados que participaram há pouco da reunião de líderes da base, que contou com a presença dos ministros da Justiça, José Eduardo Cardozo, e das Relações Institucionais, Ideli Salvatti.

O líder do governo na Casa, Arlindo Chinaglia (PT-SP), disse que o PSD e outras legendas colocaram que, no Marco Civil da Internet, o melhor é “aprofundar o debate do que ter pressa”. O PSD é um dos partidos que ainda não fechou acordo em relação à questão da neutralidade da rede, ponto defendido pelo governo.

Arlindo Chinaglia lembrou ainda que a Câmara deve voltar hoje a debater o novo Código do Processo Civil, votação que deve ser demorada. Outro fator que dificulta a apreciação ainda nesta semana do Marco Civil da Internet é o processo de cassação contra o deputado Natan Donadon (sem partido-RO), agendado para ser analisado na noite de amanhã pela Câmara.

‘Falta debate’

O projeto do Marco Civil da Internet foi inicialmente formulado em 2009, ficou sob consulta pública, recebendo sugestões de qualquer cidadão pela internet durante quase um ano, e foi para o Congresso em 2011, quando foi protocolado sob o nº 2.126. Desde então, tramitou pelas comissões da Câmara até ser criada uma Comissão Especial, dedicada unicamente à discussão do projeto. Aprovado o texto nesta Comissão, em meados de 2012, o projeto tenta ser votado em plenário desde então, mas sem sucesso.

Alessandro Molon (PT-RJ), relator do projeto, acredita que o Marco Civil tem condições de ser aprovado em função do “franco, amplo e declarado apoio de todos partidos da base à exceção do PMDB, que não estava presente na reunião de líderes, e essa dúvida do PSD quanto à neutralidade. E também a manifestação de vários líderes de oposição que apoiam o projeto, inclusive a neutralidade, mas com divergências quanto ao artigo 12, dos datacenters”. Além da discussão entre parlamentares, entidades civis antigas apoiadoras do projeto ameaçam “mudar de lado” caso três artigos não sejam alterados.

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Uma carta publicada pelas entidades, sugere alterações nos artigos 10 (armazenamento e disponibilização de dados pessoais), 16 (armazenamento de registros de conexão e conteúdo) e 22 (retirada de conteúdo de pornografia motivado por vingança). Sobre violação de conteúdo, as entidades defendem que o projeto siga uma lei de 1996, vista como mais rígida; pedem que o armazenamento de registros volte a ser facultativo; e sobre a retirada de conteúdo de nudez, as entidades defendem que seja feita apenas a pedido da vítima, para evitar “patrulhamento”.

O deputado Ricardo Izar (PSD-SP) fez parte da Comissão Especial em 2012 e considera que, de fato, ainda falta debate. “A Comissão não foi até o final. Havíamos sugerido várias emendas, mas o texto saiu do jeito dele. De lá, temos tido algumas conversas, mas todos os entendimentos em salas fechadas chegam de um jeito diferente na redação”, afirmando que apoia o Marco Civil, inclusive a neutralidade, mas “tem que dar ‘braço’ para investimento”.

O deputado ressaltou ainda outros duas questões que, segundo ele, para seu partido são fundamentais. “A questão do parental control e a demanda da Polícia Federal, para que provedores de conexão possam guardar os registros. Se não tiver isso, o PSD não vota”, sugerindo que o texto atual não permite que pais possam filtrar o que seus filhos veem na internet, primeiramente, e que autoridades legais teriam dificuldades de investigação caso o texto atual permanecesse como está.

Segundo Molon, as demandas da Polícia Federal já foram pacificadas com o último texto, que previa a guarda de registros pelos provedores de aplicação por até seis meses. A guarda de registros por provedores de conexão já é permitida e pode ser solicitada a qualquer momento mediante ordem judicial. Sobre parental control, o Marco Civil não afeta em absolutamente nada sobre isso, que é um controle feito pelos pais a partir de ferramentas presentes nos navegadores (browsers).

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“A gente tem que dar liberdade, tem que dar privacidade, mas tudo tem limite”, opina Izar. “Todos países tem tudo o que a gente está propondo, só o Brasil que é ‘moderninho’ não vai ter?”, diz Izar, que acredita que com os argumentos citados conseguirá convencer a banca evangélica “formada por mais de 70 deputados”, além de outros deputados que o perguntam sobre Marco Civil nos elevadores.

“No começo eram só uns 6 ou 7 deputados que conheciam o Marco Civil. Hoje isso já aumentou, mas sempre vem gente nos elevadores me perguntar sobre o Marco Civil. Eu explico, coloco esses detalhes mais técnicos que ninguém fala, e assim acredito que eles estão se convencendo a votar com a gente.”

/Ricardo Della Coletta (Agência Estado) com Murilo Roncolato (Estadão)

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