Mark Zuckerberg faz ‘grande turnê’ nos Estados Unidos

Em desafio pessoal, cofundador do Facebook quer percorrer os 50 Estados americanos para conhecer melhor os usuários da rede social

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Por Mike Isaac
Atualização:
Em Blanchardville, Wisconsin, Zuckerberg almoçou com uma família de fazendeiros e andou de trator Foto: Facebook

Em março, Mark Zuckerberg visitou a Igreja Metodista Africana Episcopal Emanuel, em Charleston, na Carolina do Sul – o lugar foi palco de um assassinato em massa por um supremacista branco. Em abril, ele foi a um centro de reabilitação em Dayton, Ohio, e também passou uma tarde em Blanchardville, Wisconsin, com Jed Gant, um fazendeiro cuja família tem produzido carne e laticínios por pelo menos seis gerações. Todas essas foram paradas de uma grande viagem feita por Zuckerberg, presidente executivo dos Facebook, pelos Estados Unidos. 

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Seu objetivo é simples: visitar todos os cinquenta Estados durante 2017, aprendendo um pouco mais sobre as vidas de parte dos 2 bilhões de pessoas que usam regularmente sua rede social. É uma de suas metas anuais – a cada temporada, o fundador do Facebook se impõe um desafio pessoal (veja mais ao lado).

No fim de maio, em um discurso na Universidade Harvard – que ele largou em 2005 –, Zuckerberg disse ter percebido que sua maneira de enxergar o mundo mudou desde que ele começou a turnê. Ele percebeu que igrejas, centros cívicos e espaços organizados de encontros são importantes para construir e manter um senso de comunidade entre as pessoas. 

“Enquanto viajava, sentei com jovens em detenção e viciados em drogas, que me disseram que suas vidas poderiam ser diferentes se eles tivessem algo para fazer, como atividades depois da escola ou algum lugar diferente para ir”, disse Zuckerberg, que recebeu um título de doutor honoris causa na ocasião. “Conheci trabalhadores de fábricas que sabem que seus antigos empregos não vão voltar mais e ainda estão tentando se recolocar no mercado.”

Por enquanto, Zuckerberg já percorreu metade dos Estados, incluindo aqueles nos quais ele já passou algum tempo. As visitas levaram o fundador do Facebook a momentos de autorreflexão, segundo quatro colegas e antigos funcionários do Facebook que pediram anonimato, pois não são autorizados a falar publicamente do assunto. Segundo os amigos, Zuckerberg reflete sobre questões como a responsabilidade do Facebook na vida de seus usuários – muitos deles confiam na rede social para receber notícias. 

Além disso, as viagens são parte de uma “educação do mundo real” para Zuckerberg, que cresceu confortavelmente em uma família de classe média alta de Nova York, esteve na elite acadêmica de Harvard e depois se mudou para o Vale do Silício. Lá, na Califórnia, ele se tornou um bilionário aos 23 anos – hoje, tem 33 anos. 

Foram eventos recentes que forçaram Zuckerberg a sair da “bolha do Vale do Silício”. No ano passado, depois da eleição norte-americana, o Facebook foi acusado de ser um repositório de notícias falsas, que influenciaram diretamente a maneira que o eleitorado americano votou. Também cresceu o número de vídeos de mortes publicados na rede social, levantando questões sobre qual é o papel do Facebook ao distribuir tal conteúdo. 

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Críticos. Para críticos, a turnê de Mark Zuckerberg pelos Estados Unidos é um golpe de marketing – por trás dela, estão as armadilhas usadas por políticos em campanha. Cada uma de suas paradas – entre almoços com fazendeiros em Ohio ou dar leite a um bezerro em Wisconsin – foram muito bem manipuladas e fotografadas, para depois serem publicadas na página oficial no Facebook.

“Ele tem todas as mecânicas necessárias para uma operação de mídia massiva”, disse Angelo Carusone, presidente da Media Matters for America, uma organização não governamental de vigilância de mídia. “Ele está aparecendo em um momento em que não há nenhum líder do Partido Democrata para contrabalançar Trump.”

Zuckerberg já negou que esteja usando as visitas como uma plataforma para concorrer a um cargo público. Ele disse que tudo o que quer é ter uma “perspectiva mais ampla” de como deve comandar o Facebook e a Chan Zuckeberg Initiative, fundação sem fins lucrativos para a qual o empresário e sua mulher, Priscilla Chan, devem doar a maior parte de sua fortuna até o final da vida.

Propósito. A “grande turnê americana de Zuckerberg” se segue a diversas viagens internacionais feitas pelo fundador do Facebook nos últimos dois anos. Em janeiro, ele disse no Facebook que gostaria de falar com mais pessoas sobre como elas “vivem, trabalham e pensam o futuro”. Para amigos, Zuckerberg está tentando entender muitas coisas que perdeu nos últimos dez anos, enquanto construía a empresa de US$ 438 bilhões. 

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“Acho que ele está curioso e quer visitar todos os lugares que não conhece”, disse Ashley Gant, de 27 anos, que conversou com Zuckerberg quando ele visitou a fazenda de sua família, em abril. Durante o almoço com rosbife, purê de batatas e gelatina caseira de maçã, Ashley respondeu as perguntas de Zuckerberg sobre a vida na fazenda. “Parecia uma conversa normal com alguém que não é daqui”, disse ela. “A única diferença é que ele inventou o Facebook.”

Ele voa e volta das cidades entre seus dias no escritório em Menlo Park, na Califórnia, onde fica a sede do Facebook. Zuckerberg usa um avião privado e tem uma equipe para organizar os encontros – algumas das atividades, porém, são repentinas. A família de Ashley, por exemplo, foi contactada depois que Zuckerberg viu uma foto de seus laticínios na conta de um “amigo de um amigo” no Facebook. 

Em março, ele falou sobre diversidade e artes em uma escola na Carolina do Sul. “Foi legal ver um homem branco cheio de privilégios falar sobre isso. Ele parecia entender a posição diferenciada que tinha e falava sobre isso abertamente”, disse Cam’Ron Stewart, de 18 anos, um estudante de teatro que conversou com o fundador do Facebook no encontro. 

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Em Ohio, quando conheceu viciados em drogas em reabilitação, Zuckerberg se sentou com o grupo em um círculo e ouviu testemunhos sobre como a droga acabou com suas vidas e os deixou sem um senso de propósito. O criador do Facebook parece ter entendido. 

“Ter um propósito é quando entendemos que somos parte de algo maior que nós mesmos, que temos algo por que lutar”, disse Zuckerberg em seu discurso em Harvard. “Para manter nossa sociedade, temos um desafio geracional: não precisamos só criar novos empregos, mas também um senso de propósito renovado.” / TRADUÇÃO DE BRUNO CAPELAS