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Meme acidental

Brasileiros que fizeram sucesso sem querer refletem sobre a vida após a fama inusitada e inesperada

Por Vinicius Felix
Atualização:

Brasileiros que fizeram sucesso sem querer refletem sobre a vida após a fama inusitada e inesperada

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SÃO PAULO – Conhecer as consequências do viral na vida do garoto Nissim Ourfali é uma tarefa complicada. A família procurou manter distância da confusão gerada pelo sucesso do vídeo. Não deram nenhuma declaração a respeito e também não aproveitaram a oportunidade para fazer publicidade – embora tenham recebido algumas propostas. É difícil imaginar exatamente o impacto da situação em sua rotina, suficiente para gerar um processo.

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Anônimos que ganharam fama repentina acidentalmente e viraram viral sem querer, como o garoto, trataram o acontecido de maneiras bem diferentes. A maioria abraça a repercussão e transforma o problema em oportunidade, aproveitando, como pode, o impacto de um sucesso que não conseguiriam de outra forma.

Culpem o Canadá. “Foi uma espécie de furacão Sandy na vida da família. O mundo parecia que estava centrado em nós”, lembra Gerardo Rabello, o protagonista da propaganda que gerou o meme Luiza que estava no Canadá – e pai da menina citada no meme. A frase solta em uma propaganda imobiliária de 30 segundos. quando Rabello mencionava a família e lembrava da filha que estava viajando. começou a repercutir online através de uma hashtag no Twitter e logo chegou aos noticiários e na boca de celebridades.

A avalanche de pessoas procurando pela família, após o vídeo ter se popularizado, veio de maneira rápida. Uma intensidade que fez Rabello pensar no que deveria priorizar – sua família, a educação da filha e seu estado, a Paraíba. Quando voltou do Canadá, Luiza apareceu na televisão, nos jornais, depois foi passar uma temporada Londres. O pai, conhecido colunista social da cidade, fez peças publicitárias, ganhou espaço no rádio e voltou a trabalhar na televisão em um programa diário.

“Desde que tudo aconteceu, percebo em meu escritório de comunicação um porcentual acentuado de empresas que nos procuram justamente por tudo o que ocorreu”, conta. Hoje, quase um ano depois do vídeo, a situação é de estabilidade. Luiza não deseja virar uma celebridade, está estudando arquitetura e pretende ser reconhecida por algo “real”, na definição do pai . “Vez por outra ela atende uma solicitação, mas sempre com cuidado de não passar a imagem de que vai virar artista”.

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Vida artística. O comportamento é diferente dos meninos do vídeo Para Nossa Alegria, outro sucesso inusitado e improvável. O clipe dos irmãos cantando – e desafinando antes de cair na gargalhada – a canção gospel Galhos Secos, que foi sucesso nos anos 70 com a banda Êxodos, foi postado pela vizinha da família, dona da câmera, e não pelos garotos. “Quando soube não gostei, porque era um momento de intimidade, mas depois estourou e até agradeci a ela”, diz Jéfferson. Ele e a irmã Suéllen ainda cursam o terceiro ano colegial, mas abraçaram a oportunidade de levar a vida artística.

Como a repercussão inicial fez a dupla participar de uma série de programas de televisão e campanhas publicitárias, agora a meta é a continuidade. Um CD infantil, chamado Para Crianças e Adultos Bem Humorados, foi lançado por uma gravadora gospel e as faixas seguintes conseguiram boa repercussão. Um Dia Especial alcançou 10 milhões de visualizações e Era Uma Vez teve 500 mil visualizações. “Tem muito estabelecimento comercial que leva a gente pra fazer tarde de fotos, vai muita gente. Tem igreja que leva a gente para dar nosso testemunho, contar o que Deus fez em nossas vidas, a dificuldade que a gente passou e como Deus mudou tudo isso”, conta Jéfferson.

“Já que estão rindo de você, talvez a melhor solução seja rir junto com as pessoas. Virar uma celebridade do dia pra noite não deve ser algo tão fácil de lidar, mas depois de passada a histeria, pelo menos você também se divertiu com a situação”, considera Bia Granja, curadora do festival YouPix, que reúne celebridades na web todo semestre em São Paulo, sejam elas acidentais ou não. Para ela, a opção de tentar apagar o conteúdo que deu origem à piada é uma saída ineficaz. “É algo impossível”.

Ela já trouxe muitas nomes que fizeram sucesso na internet de maneira parecida em seu festival, inclusive nomes internacionais, como o garoto do vídeo David After Dentist, em que o pai gravou o filho comentando os efeitos de uma anestesia após uma cirurgia dentária. “Essa é a vida real?”, pergunta o menino, ainda confuso com os efeitos da sedação. Até hoje, três anos após ter postado o vídeo, pai e filho mantém um blog contando o que acontece em suas vidas. Também deram sequência à história postando novos vídeos, sem tanta repercussão.

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Depois do hype, cauda longa. A duração do sucesso de alguém que surgiu após se tornar meme é tão indefinida quanto o sucesso gerado pelos seus passos seguintes, sempre planejados, sem a espontaneidade inicial. Bia acredita em três momentos: nascimento, hype e “cauda longa”, em referência ao livro de mesmo nome do editor da revista Wired, Chris Anderson, sobre a economia na era digital. “Um meme nunca morre completamente, ele apenas cai na categoria do ‘Long Tail Memético’”. ela teoriza. “Ele se torna um clássico que pode ser usado sempre que você lembrar dele”, conclui.

Rabello, que considera a abordagem comercial sobre o meme da filha encerrada, concorda: “é um fenômeno e quando parece que está adormecendo vem mais uma onda, outras abordagens”.

Jéfferson, que também mantém o posto de líder dos jovens da Assembleia de Deus do Parelheiros, encara com serenidade: “fama, dinheiro, sucesso, isso tudo traz alegria passageira. Tanta gente que tem fama, dinheiro e não tem alegria. A gente sabe que é tudo passageiro. Tudo na vida. A gente tem consciência disso.”

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—-Leia mais:Link no papel – 12/11/2012Sem querer

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