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Na entressafra

Games sociais vivem momento de crise ao se adaptar à realidade da web móvel

Por Filipe Serrano
Atualização:

Games sociais vivem momento de crise ao se adaptar à realidade da web móvel

SÃO PAULO – O que parecia ser uma nova categoria promissora de jogos, hoje passa por uma transição que tem muito a ver com a mudança de hábito das pessoas. Se antes o game social era composto por joguinhos simples que viciavam, atraindo usuários no Facebook e no Orkut que não estavam acostumados a jogar games, hoje muitos têm preferido o smartphone para passar o tempo a cuidar de fazendinhas e pequenas cidades.

FOTO: Divulgação 

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Líder desse segmento, a Zynga é a principal referência e a mais afetada por essa mudança. A companhia norte-americana fundada em 2007 por Mark Pincus cresceu à medida que o Facebook se popularizava pelo mundo, usando mensagens automáticas trocadas entre os usuários para espalhar seus jogos mais famosos, como FarmVille, CityVille, Mafia Wars e Zynga Poker. Seu lema é até hoje “conectar o mundo através dos jogos”. Mas o mundo que ela conecta cresceu pouco no último ano. Ela não conseguiu lançar outros jogos de sucesso para compensar a queda do interesse pelos seus títulos mais conhecidos e os problemas começaram a aparecer.

As ações da Zynga, que estrearam na bolsa de valores em dezembro do ano passado valendo US$ 11, hoje estão na faixa dos US$ 2,20. Vários executivos de altos cargos já deixaram a produtora de games (mais infomações nesta página) e, em outubro, a empresa anunciou um corte de 5% de sua equipe. No dia 23, cerca de 100 funcionários foram demitidos. Na semana passada, o grupo de hackers ativistas Anonymous ameaçou publicar online os jogos da Zynga, que teriam sido roubados de seus servidores, em represália às demissões.

A maior tentativa da Zynga de se fortalecer nos smartphones foi a compra da produtora de games Omgpop, do jogo Draw Something, por US$ 183,1 milhões, em março. O aplicativo era sucesso instantâneo, mas perdeu usuários desde então – 5 milhões deles deixaram de jogá-lo só no primeiro mês depois da aquisição.

“Nós falhamos em alcançar nossas expectativas de crescimento”, disse Mark Pincus durante a apresentação do último balanço trimestral. “Os tablets e smartphones fizeram aumentar a concorrência pelo tempo e a atenção do usuário.” Mesmo assim, os games sociais ainda estão em alta. Segundo o Facebook, 251 milhões de seus 1 bilhão de usuários jogam na rede social. Em 2011, eram 226 milhões.

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Os números da Zynga também surpreendem para uma empresa que tem passado por turbulências. No último trimestre, a média mensal de jogadores foi de 177 milhões de pessoas (eram 152 milhões no mesmo período do ano passado). Ela não divulga os números no Brasil, mas, segundo a Comscore, seus jogos tiveram 1,87 milhão de visitantes únicos em setembro.

Os games são gratuitos, mas os usuários pagam pelos itens virtuais que aceleram e facilitam o progresso do jogo. De acordo com a empresa, 2,9 milhões de usuários por mês chegaram a pagar por algum tipo de conteúdo entre julho e setembro, e cada um gastou em média US$ 25. Somada, é uma quantia que rendeu US$ 71,76 milhões por mês no período. O valor é alto, mas apenas três jogos (Zynga Poker, FarmVille e CityVille) foram responsáveis por mais da metade (53%) da receita com jogos online. A empresa também lucra com publicidade nos games.

É de olho neste dinheiro que as produtoras de games sociais investem em modelos de negócios parecidos: oferecem jogos gratuitos, que são jogados por milhões de pessoas e cobram por itens virtuais. Ainda que poucos dos jogadores realmente paguem por eles, a quantia aumenta conforme a popularidade.

A Vostu é uma das empresas que também apostam nesse segmento e tem jogos parecidos com os da Zynga, voltados para a América Latina. As duas companhias chegaram a disputar na Justiça se os games de uma eram cópia da outra, que depois foi encerrada com um acordo. Com sede na Argentina, ela cresceu principalmente lançando jogos sociais no Orkut e conquistou usuários no Brasil, onde estão 90% dos seus 20 milhões de usuários.

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Matias Recchia, presidente executivo da Vostu, diz que houve uma queda no uso dos jogos no Orkut, mas o números de jogadores tem se mantido estável nos últimos seis meses, já que houve uma migração para o Facebook. Hoje, 30% dos jogadores acessam por meio da rede social.

Com o crescimento dos smartphones, a Vostu aposta também no formato mobile. A empresa tem três títulos para celular, dois deles adaptados dos seus jogos. “Nos próximos seis meses, esperamos lançar dez jogos novos para celular”, disse Recchia em entrevista ao Link.

Segundo ele, a demora em levar os jogos para smartphones e tablets foi um dos problemas enfrentados pelo setor de games sociais. “A Zynga, e também a Vostu, são um pouco vítima de seu próprio sucesso”, disse. “Essa indústria exige muita disciplina para tomar decisões rápidas no portfólio. A velocidade para inovar, lançar títulos novos, é mais importante.”

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—-Leia mais:A Zynga faz mal para o Vale do Silício • Link no papel – 5/10/2012

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