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Networks de YouTube ganham espaço no Brasil

Empresas crescem ajudando canais a se profissionalizarem para se destacar na rede

Por Murilo Roncolato
Atualização:
 

SÃO PAULO – Liga a webcam e começa a gravar. O que vem a seguir pode ser uma piada, a opinião sobre um novo game, um tutorial de maquiagem ou uma apresentação musical. Depois, sobe o vídeo no YouTube. A prática já é comum. Por isso, para se destacar da massa, muitos produtores de vídeo buscam se profissionalizar. Para ajudar nessa escalada, empresas assumiram para si a missão de tornar sustentável a carreira de milhões de “youtubers” no Brasil e no mundo.

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São as chamadas networks, (MCNs, na sigla em inglês), redes de canais que recrutam produtores de conteúdo, oferecendo ajuda técnica, conselhos e intermediando contato com marcas e o Google. Em troca, abocanham parte da receita gerada pela audiência e pelos produtos anunciados.

Uma MCN pode acumular até dezenas de milhares de canais sob seu guarda-chuva. Nos Estados Unidos, essas empresas se concentraram em Los Angeles, onde logo chamaram atenção de gigantes como Warner, Disney e DreamWorks;

Para o Google, o novo filão é do seu absoluto interesse – não só por a empresa abocanhar 45% da receita gerada pelos vídeos, enquanto o produtor fica com 38,5% e a network com 16,5%. Segundo o diretor de conteúdo do YouTube Brasil, Álvaro Paes de Barros, as networks ajudam a produção de vídeos. “Elas criam valor em torno de uma série de serviços, como gestão de talentos e desenvolvimento de séries, que estão fora do alcance do YouTube.”

O Brasil é hoje o segundo maior público do YouTube. Esse fato não passou despercebido das networks, que olham com interesse para o País, recrutando mais canais – além dos nacionais que já fazem parte da sua rede – ou expandindo sua base de escritórios.

A Style Haul, focada em moda e beleza, é uma das que acompanha de perto o que acontece por aqui. Dos seus 4 mil canais, 320 são brasileiros. “O Brasil é muito importante para nós e para o setor de beleza. Há canais que chegaram a quadruplicar suas visualizações conosco. A tendência é continuar esse crescimento e a expansão no Brasil tende a ser muito mais forte”, disse Luiza Ricupero Negret, vice-presidente da Style Haul Mundo, divisão focada no atendimento a canais de língua espanhola e portuguesa.

A rede Big Frame, da DreamWorks, é conhecida por ser muito seletiva, o que explica seu número “baixo” de canais. Apenas 300. A empresa tem planos de instalar escritório no Brasil já no início de 2015, e aumentar o volume de canais nacionais.

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“Tanto os criadores como os fãs brasileiros gostam muito de cultura criativa. É provavelmente o país mais semelhante aos EUA nesse sentido”, diz o cofundador e CEO da Big Frame, Steve Raymond. “Por isso, estamos muito confortáveis sobre como nossos negócios vão se traduzir por aqui.”

 

O único brasileiro na rede de Raymond hoje é Joe Penna, conhecido por seu canal MysteryGuitarMan, com vídeos que misturam humor e música. Seguido por 2,9 milhões de fãs, Penna vive com o dinheiro que ganha com os vídeos. Para ele, a parceria com uma rede é fundamental para quem, assim como ele, quer lucrar com o YouTube. “Eles me ajudaram a encontrar anunciantes, investidores para projetos maiores e a desenvolver minha carreira como produtor e diretor”, disse.

É do Brasil! Por aqui, dois grandes fenômenos da internet são responsáveis por networks. De um lado, Felipe Neto, com 26 anos é o responsável pela ParaMaker. Criada há dois anos a partir de um acordo entre sua produtora Parafernalha e a americana Maker, a rede já tem quase 4 mil canais para cuidar.

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Um dos primeiros brasileiros a se tornar popular no YouTube, o jovem empresário vê com bons olhos a profissionalização da indústria. Neto, que viu a receita da ParaMaker crescer 700% entre um ano e outro, hoje diz com propriedade que é possível viver do YouTube, e que o bom momento se deve ao potencial de crescimento que o YouTube ainda tem no Brasil e ao interesse demonstrado pela “mídia tradicional”.

“O mundo está cada vez mais conectado e exigente. O consumo de televisão diminuiu muito e as empresas já estão ligadas nisso”, diz. No entanto, apesar do bom momento de aquisições nos EUA, Felipe rejeita a ideia de se desfazer da empresa. “Estamos negociando projetos com a TV, mas não passa pela minha cabeça vender a ParaMaker.”

 

Do outro lado, a dupla do site Jovem Nerd, Alexandre Ottoni e Deive Pazos, está à frente da Amazing Pixel. Criada em outubro de 2013, a rede conta com apenas 12 canais – número que deve chegar a 100 no ano que vem –, mas se especializou em buscar empresas interessadas em anunciar seus produtos durante os vídeos – e não em banners. Apesar de menor volume, a prática gera mais receita, dividida apenas entre produtor e network, além de melhores resultados para as marcas.

“A gente faz mídia direcionada e cada canal tem uma linguagem diferente. É muito mais trabalhoso”, explica Deive Pazos. Para ele, trabalhar com atendimento mais pessoal – e menos automatizado, como ocorre nas grandes redes – é o que permitirá o crescimento da empresa. Segundo Pazos, já há inclusive conversas com investidores. “É um passo bem grande, mas ainda estamos em negociação.”

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“Estamos profissionalizando esse novo mercado que tem muita gente querendo crescer, mas não sabe como. A network veio para fazer esse meio campo”, diz Alexandre Ottoni. “Fazemos parte dessa pequena grande revolução no entretenimento digital.”

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