Nós e os robôs

O futuro não será de androides, mas de eletrônicos que reagem a voz, movimentos e gestos da mesma forma que um ser humano

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Por Vinicius Felix
Atualização:

O futuro não será de androides, mas de eletrônicos que reagem a voz, movimentos e gestos da mesma forma que um ser humano

Carla Diana*, do The New York Times

NOVA YORK – Encontrar-me com Simon pela primeira vez foi uma das experiências mais sublimes que já experimentei. Em cada movimento tímido da sua cabeça, em cada aceno casual com a mão e no jeito atento de olhar, senti que ele já me conhecia.

O psicólogo suíço Bertolt Mayer olha para ‘Rex’ no Museu de Ciência de Londres FOTO: Toby Melville/REUTERS Foto:

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Simon é um robô humanoide desenvolvido no Instituto de Tecnologia da Georgia para explorar maneiras intuitivas de pessoas e máquinas viverem e trabalharem lado a lado. Eu projetei a carapaça do robô – sua aparência externa – e por isso sabia exatamente o que esperar, mas interagir com ele me surpreendeu de um jeito que não esperava. Simon compreendia frases faladas e usava habilidades sociais para respondê-las. Se não entendia, erguia os braços para se desculpar ou inclinava a cabeça para expressar confusão. Suas orelhas se acendiam quando reconhecia uma cor, e ele só me respondia depois que eu terminava de falar.

Simon, um esforço de pesquisa sem fins lucrativos, faz parte de um grupo crescente de robôs sociais que podem fundamentalmente ver, ouvir, sentir e reagir por meio de sons e movimentos parecidos aos de uma pessoa.

Nosso futuro poderá não corresponder a nossas fantasias de ficção científica de androides com pernas, torsos e faces expressivas circulando por nossas casas para recolher roupas e preparar bebidas, mas os robôs estão entrando em nossos lares de maneiras sutis, por meio de eletrodomésticos e ferramentas que têm certas reações robóticas especializadas.

Sua máquina de café ou câmera, por exemplo, já podem ter alguns desses elementos, programados automaticamente para se desligar ou obedecer a uma sequência de comandos (esperar 30 segundos, tirar uma foto; às 6 da manhã, começar a preparar o café, etc.). E a próxima geração de produtos será ainda mais sofisticada.

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Enquanto os designers de produtos usam forma, cor e materiais para fazer um objeto expressar alguma característica humana (um cabo de furadeira pode ter um padrão agressivo, uma torradeira pode ter botões amigáveis), estamos entrando num tempo em que som, luz e movimento são partes igualmente importantes da criação. Objetos do dia a dia, que foram por muito tempo estáticos, agora brilharão, cantarão, vibrarão e mudarão de posição num piscar de olhos.

Os comportamentos desses objetos robóticos futuros vão ser utilitários, como uma lâmpada que se inclina para iluminar um objeto que você trocou de posição ou um garfo que vibra quando você está comendo muito rápido.

Não será preciso apertar um sequência de botões para que os aparelhos façam as coisas. Eles vão responder a comandos de toque, gestos ou voz. Alguns simplesmente vão nos observar para descobrir o que precisamos.

Muitos produtos vão estar conectados à internet. Uma capa de chuva pode brilhar ou assobiar quando sabe que você vai precisar dela ao sair de casa. Webcams já se levantam para nos dizer quando alguém está pronto para conversar, e elas vão imitar os movimentos para expressar nossa opinião a um amigo do outro lado.

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À medida que os produtos se tornarem mais inteligentes, eles vão manter conversas conosco, por voz ou não. Assim como percebemos sutilezas no comportamento de nossos animais de estimação (como as orelhas de um cão), vamos captar emoção em nossos produtos. Por exemplo, luzes coloridas num aspirador nos dizem o que está se passando: verde, pulsação lenta, indica “Todos os sistemas ligados”; luz vermelha piscando apregoa “Socorro! Tem alguma coisa errada aqui”. Uma melodia alegre no fim do ciclo de uma máquina de lavar diz: “Foi tudo bem e suas roupas estão prontas!”. Esses comportamentos animados se combinam e é da natureza humana entendê-los como se fossem de um ser vivo.

Por suas personalidades, esses objetos vão demonstrar um valor emocional. O Siri, sistema de busca por reconhecimento de fala do iPhone, ganhou os corações com sua personalidade espirituosa com a qual as pessoas podem conversar. Autom, um produto novo para perda de peso, foi criado por pesquisadores que aprenderam que um instrutor robótico com olhos e rosto expressivos era mais eficaz para manter as pessoas dentro de uma dieta saudável e fazendo exercícios porque ele tem um laço emocional.

Pesquisadores do Instituto de Tecnologia da Georgia descobriram que essa relação emocional leva pessoas a sentirem empatia pelo produto, tornando-as muito mais tolerantes com falhas mecânicas que seriam vistas como aborrecimento. Apesar de a ideia de entidades simpáticas nos cercando, nos guiando pelas tarefas do dia e nos lembrando de coisas parecer benigna, alguns especialistas se preocupam com a presença de robôs no cotidiano. Fabricantes poderiam usar esse poder para induzir pessoas a fazerem algo que não é de seu interesse. Poderia haver, por exemplo, um robô que tentasse nos induzir a comprar comidas menos saudáveis ou a apostar na loteria.

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Além disso, há muitos riscos de segurança sobre os objetos robóticos, principalmente quando eles se movem e estão dentro de casa. Por exemplo, o que poderia ocorrer se os produtos fossem hackeados por um criminoso para ver o interior da casa? Ou, pior, e se fossem invadidos para induzir um comportamento em alguém?

Apesar dos riscos potenciais, o futuro será rico de objetos animados que usam som, luz, movimento e telas para nos elogiar, encorajar, aconselhar e confortar. Nós nos divertiremos com aparelhos de som e televisores que respondem a movimentos de dança. E o trabalho doméstico será aliviado por robôs que limpam migalhas de comida e varrem o piso.

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Com essa multidão de objetos sensíveis, teremos de criar um novo conjunto de relações. Adoraremos nossos novos produtos como se fossem animais de estimação? Ou toda essa comunicação criará uma cacofonia incômoda de aparelhos? Minha esperança está na primeira opção, mas isso depende da capacidade dos designers de usar o valor emocional na hora de criar as interações de um produto. Se forem bem projetadas, essas criaturas mecânicas, como meu amigo robótico Simon, poderão provocar nossa simpatia de uma nova maneira. / Tradução de Celso Pacionik

*É designer de produto e consultora de criatividade especializada em animar objetos eletronicamente

—-Leia mais:• Link no papel – 11/02/2013

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