Nova rede social de Orkut Buyukkokten terá foco em interação pessoal e interesses.
Chegou a hora de dizer "hello": a nova rede social do criador do Orkut, o engenheiro turco Orkut Buyukkokten está finalmente disponível nas lojas de aplicativos brasileiras do iPhone e do Android. Disponível apenas para dispositivos móveis, o Hello foi lançado originalmente no início de junho nos EUA, Austrália, Reino Unido e Canadá. Antes do Brasil, o aplicativo chegou também à Irlanda, Inglaterra e França.
"O Hello é a primeira rede social construída através de amizades profundas, e não de 'curtidas'", disse Büyükkökten, ao apresentar sua rede social, concebida desde março de 2014, quando o turco deixou o Google. Em setembro daquele ano, o Orkut fechou suas portas e se tornou um museu na internet – a "primeira rede social dos brasileiros" chegou a ter 40 milhões de usuários no País.
À primeira vista, no entanto, o Hello difere bastante do Orkut: no lugar das comunidades, textos e dos GIFs coloridos e antiquados, o foco está nos interesses dos usuários e nas fotos. “Hoje, você entra em uma rede social e recebe atualizações com aniversários dos seus amigos, mas não tem interações significativas. Queremos trazer de volta a diversão”, disse o engenheiro em entrevista ao Estado em junho.
Demora. Apesar do lançamento, as primeiras tentativas da reportagem do Estado de se cadastrar na plataforma não foram bem sucedidas: por vezes, os servidores do Hello pareceram sobrecarregados, ou o aplicativo foi incapaz de mandar o código de confirmação via SMS.
Procurada, a assessoria do aplicativo no País declarou que "devido ao alto número de cadastros, está demorando um pouco para o envio do código de confirmação. A situação deve ser normalizada em breve". Segundo a assessoria do Hello, mais de 100 mil brasileiros tinham se registrado no site oficial da empresa para baixar o app assim que ele fosse lançado por aqui.
10 motivos para sentir saudade do Orkut
Parece até estranho, mas sem um feed de notícias, boa parte da interação que você podia ter no Orkut era dentro das comunidades. E algumas delas eram bastante sérias: durante muito tempo, comunidades de times de futebol eram os melhores lugares para saber de notícias, enquanto bandas divulgavam seus trabalhos e muita gente dividia links para compartilhar filmes, séries e músicas – é o caso da Discografias, que foi excluída (e recriada) da rede social diversas vezes por ações judiciais que diziam que ela incentivava a pirataria.
Além de lugares legais para trocar ideias e conhecer pessoas, as comunidades funcionavam como as fanpages do Facebook, servindo para mostrar para quem visitasse o seu perfil que você gostava de uma banda ou compactuava com uma ideia. E algumas delas eram pura piada ou galhofa – a comunidade mais popular no Brasil durante muito tempo foi a “Eu Odeio Acordar Cedo”. Mas o que dizer de clássicos como “Lenin, de três”, “Além do Ben e do Mao” (que homenageava Jorge Ben e Mao Tsé Tung), “Não fui eu, foi meu eu-lírico” ou “Sou mole, tô te dando um legal”, além da que ilustra esse texto, a “Luta de classes”.
Atire a primeira pedra quem nunca mandou um depoimento fofo para um amigo ou lutou pelo “topo” de uma página cheia de “testmonials” (como eles eram chamados lá no comecinho do Orkut, quando o site ainda nem era traduzido). Declarações de amizade, de amor, piadas internas e até mesmo revelações sinceras eram o centro da parte mais sentimental da rede social.
Muito antes do Facebook se tornar popular aqui no Brasil e trazer à tona o “cutucar”, o Orkut tinha o BuddyPoke. Era um aplicativo com gráficos meio toscos, mas que recriava os usuários do site em versão 3D e os colocava para interagir com seus amigos. Você podia dar um abraço, oferecer uma rosa, contar uma piada ou até jogar uma partida de futebol, tudo virtualmente.
Às vezes, parecia que o Orkut era 2 em 1: junto com a rede social, você ganhava de graça um conselheiro anônimo na sua tela de entrada. Era a “sorte do dia”, que tinha palavras edificantes dignas de um biscoitinho da sorte chinês. Mas de vez em quando esse conselheiro anônimo tirava férias, e o resultado era sempre engraçado.
Em uma época que a internet não era tão instantânea assim, a conversa entre os amigos no Orkut rolava através dos scraps, os famosos recadinhos – que podiam ir de cantadas até gifs animados ou um pedido de amizade, uma vez que tinha muita gente que obedecia à regra de “soh add com scrap” (traduzindo para os dias de hoje: só adicionar com um scrap). Para não falar numa galera que tinha outra lei muito pessoal: “Leio, respondo e apago”, sempre avisada de jeitos muito originais.
Outra tendência dos dias de hoje, mas que o Orkut já mostrava há muito tempo, era a possibilidade de ranquear seus amigos – alô, Lulu! Claro que, ao contrário do #UsaCrocs, o Orkut só deixava você fazer avaliações positivas, dizendo se seu amigo era legal, sexy ou confiável, além de te deixar ser fã dele.
A foto quase sempre pouco importava, mas ter um texto caprichado no seu perfil era imprescindível para ser uma pessoa legal no Orkut. “Quem se define se limita”, diziam as recalcadas, mas tinha gente que apostava em citações de poemas (quase sempre atribuídas a Clarice Lispector) ou em crônicas bem construídas para falar sobre si mesmo. Isso para não falar nas invasões, quando um amigo roubava a sua senha e deixava um recadinho mostrando para os outros quem você era de verdade – carinhosamente, é claro. Havia até briga entre amigos para ver quem conseguia invadir o perfil mais vezes.
Essa servia para quem queria se sentir popular ou tinha mania de perseguição: em cima da sorte do dia, na tela de entrada, todo dia o orkut avisava quantas pessoas tinham visto sua perfil recentemente, e dava até os nomes dos curiosos – há quem até tenha começado namoros graças a essa ferramenta, mas também servia para lembrar que cada um tinha que cuidar um pouco da sua vida.
Hoje, redes como o Facebook, o Twitter e o Instagram podem ter superado o antigo e desativado Orkut na preferência dos internautas brasileiros, mas uma coisa é certa: se você navegou na web entre 2005 e 2011, você esteve lá – e também todos os seus amigos. Era um grande espaço de convivência, e, mais do que isso, a primeira interação social de muitos brasileiros na internet. E a primeira rede social a gente nunca esquece.