PUBLICIDADE

Novas plataformas ajudam artistas a mapear desempenho de sua música

Sistemas que utilizam tecnologias de identificação de áudio e análise de dados ganham espaço no País ao promover uma maior transparência do mercado musical, evidenciando sucessos regionais e permitindo que músicos descubram novas praças

Por Redação Link
Atualização:
 

Camilo Rocha Ligia Aguilhar

PUBLICIDADE

SÃO PAULO – O cantor e compositor Carlos Careqa está no mercado desde a década de 1990, mas só agora descobriu que a rádio que mais toca suas músicas está em Brasília, e que sua obra também faz sucesso em rádios do interior de São Paulo e Paraná. Ele é usuário de uma plataforma de inteligência musical que utiliza tecnologia de identificação de áudio e análise de dados para detectar em qual rádio, site ou programa de TV sua música é executada, ajudando-o a controlar o pagamento dos seus direitos autorais.

Ferramentas como essa, que combinam processamento de Big Data com análise de arquivos de áudio, representam um novo estágio na fiscalização de direitos autorais e são a aposta de algumas startups brasileiras que surgiram no mercado nos últimos anos. Dados que até pouco tempo atrás estavam ao alcance apenas do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), entidade que monitora o pagamento de direitos autorais no País, agora começam a ter acesso facilitado a artistas, gravadoras e editoras musicais.

Por trás de muitas dessas ferramentas está uma tecnologia chamada “audio fingerprinting” (a mesma usada no app de descoberta de músicas Shazam), que identifica digitalmente um arquivo de áudio. Os serviços varrem as emissoras e sites e comparam as identificações do que é executado com aquelas contidas em seus bancos de dados, conseguindo assim detectar músicas e autores.

Ao escalar essa tecnologia, as empresas conseguem processar milhares de execuções por dia e permitir que músicos possam calcular os direitos autorais a serem pagos, além de identificar tendências e comportamentos musicais de uma cidade ou região. “Toda hora descubro uma cidade nova onde sou tocado. Isto me anima para tentar uma apresentação ao vivo nestas cidades”, diz o músico Carlos Careqa.

“Para alguns artistas, às vezes o recolhimento do direito autoral nem é tão importante, e sim saber que a rádio tocou sua música, daí ele pode realizar uma ação específica com aquela emissora”, explica Tibor Yuzo, sócio da AudioMonitor, empresa que monitora eletronicamente rádios de todo o Brasil, identificando 9,6 milhões de músicas por mês. A empresa fechou uma parceria com a IBM em 2013.

Com os dados é possível criar um mapeamento de sucessos bem mais apurado e localizado, que pode ajudar a destacar fenômenos regionais. Por exemplo, dados da AudioMonitor para a semana entre 11 e 17 de fevereiro deste ano indicam que a música mais executada no Rio de Janeiro foi Rude, da banda canadense de pop reggae Magic!. Bem longe dali, em Pinheirinho do Vale, interior do Rio Grande do Sul, quem encabeça a lista é Adons & Alana, dupla de sertanejo de Maringá, com O Que Tem Pra Hoje.

Publicidade

Antes, era necessário depender de relatórios do Ecad ou de aferições rudimentares como a “rádio escuta” (onde pessoas passavam horas ouvindo emissoras e registrando execuções de músicas) para ter acesso a esse tipo de informação.

O Ecad desenvolveu uma tecnologia nos últimos anos em parceria com a PUC-Rio e com especialistas da USP de São Carlos para automatizar a escuta de rádios e TVs, mas o serviço não pode ser acessado por artistas. “Não é objetivo do Ecad fornecer informações do que está sendo executado para um determinado artista”, declarou a entidade ao Link por meio de nota. “O Ecad trabalha para a coletividade de artistas filiados às associações de música e, por esta razão, prioriza a identificação das execuções musicais de todos os artistas constantes da amostra (coletada).”

InteligênciaOutra startup do ramo é a Playax, que pretende ser uma espécie de “Google da música” e, além de rádios, monitora também sites e canais de TV. A plataforma faz 500 mil identificações diárias em rádios, TVs e webradios e 600 milhões em sites como YouTube, SoundCloud e Rdio.

“Hoje as pessoas ouvem música de várias maneiras e de forma fragmentada e o artista não entende como a sua música é consumida”, diz Daniel Cukier, cofundador da plataforma e responsável pelo desenvolvimento da tecnologia da Playax. Casado com uma cantora, ele criou o negócio com o amigo Juliano Polimeno, veterano do mercado com experiência no desenvolvimento de estratégias digitais para artistas.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Além de gerar dados e insights para músicos, a empresa pretende ampliar sua inteligência oferecendo uma ferramenta para as rádios que mostra, por exemplo, quais artistas estão “bombando” no YouTube e podem fazer sucesso em sua programação, ou fazendo recomendações de outros cantores similares aos mais tocados em um local e que podem agradar ao público.

“O Ecad já deveria estar prestando esse serviço há tempos. A entidade abocanha uma parte considerável dos direitos autorais dos autores e há pelo menos 10 anos estamos cobrando deles a modernização do sistema para tornar todas as informações relativas as obras e à execução pública mais transparentes”, diz a cantora Fernanda Abreu, uma das 2 mil usuárias da Playax.

A startup diz ter interesse em fazer uma parceria com o Ecad para integrar suas bases de dados no futuro e ajudar nessa transparência. Isso ajudaria o site a se tornar um ponto para que artistas independentes que recebem menos pelas execuções de suas músicas possam recolher micropagamentos pelo site. “Essas plataformas têm potencial para se tornar um referencial para a solução dos desafios que enfrentamos com a internet e as novas formas de utilização de obras musicais”, diz o músico Dudu Falcão.

Publicidade

A tecnologia ajuda, mas não resolve totalmente o problema. Tibor concorda que esses sistemas auxiliam o artista, mas o cenário tem outras complicações. “Só 30% das rádios do Brasil paga o Ecad”, revela. Ou seja, se a emissora não repassa o dinheiro, não há como ele chegar ao artista que teve música tocada.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.