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Jornalista, escritor e palestrante. Escreve às quintas

Opinião|O antitruste digital

Governos precisam criar novas estratégias para lidar com monopólio de empresas digitais

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Na segunda-feira, o valor da Apple no mercado de capitais ultrapassou a linha dos US$ 800 bilhões. Nunca uma empresa valeu tanto. Em Wall Street, a segunda empresa em valor total é o Google. A terceira, a Microsoft e, a quarta, o Facebook. Coca-Cola chega em quinto. Das cinco maiores empresas, quatro são de tecnologia. Sinal dos tempos: é um negócio novo que assume as rédeas. Mas, por ao menos um ângulo, também sinal que desperta preocupações.

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O valor de uma companhia no mercado de capitais tem a ver, claro, com seu desempenho: o quanto fatura, como sua marca é reconhecida. Mas não é só. É também um jogo de percepção. E a leitura que os analistas de mercado fazem é muito simples: no encontro entre grandes massas de dados e inteligência artificial está o mais importante negócio das próximas décadas. Todos os setores da economia – energia, transporte, saúde, educação, mídia, bancos, varejo, não importa o quê – serão definidos por dados.

O que faz destas empresas valiosas é isto: elas têm aquilo que todas as outras precisam. Em sua última edição, a revista The Economist, bastião britânico do liberalismo, levantou a bola: não será hora de começarmos a nos preocupar com a formação de monopólios digitais? De trustes? Pior: se for mesmo a hora, talvez tenhamos de encarar o fato de que as ferramentas atuais dos governos para encarar monopólios não funcionam para estes tipos de negócio.

O mito do Vale do Silício determina que alguém, trabalhando em alguma garagem, pode criar um novo mecanismo de busca capaz de desbancar o Google; ou uma nova rede social matadora, que deixe o Facebook para trás. Afinal, o próprio Google superou concorrentes muito maiores. O Facebook, idem.

Na prática, não é tão simples. Quanto mais estes sistemas armazenam e processam dados de seus usuários, mais refinados ficam e melhor o serviço que oferecem. Quando chegam a um tamanho tal, empresas de tecnologia conhecem tão profundamente seus clientes que se tornam imbatíveis. É o caso do que o Facebook está fazendo agora: esganando o Snapchat, concorrente que não foi capaz de comprar no passado.

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A Economist sugere que o método antigo de lidar com trustes é ineficaz. Pegar uma destas gigantes e dividi-las mediante ordem judicial iria diminuir o ritmo de inovação e não impediria que, em algum tempo, um dos braços atingisse novo domínio. Mas há duas iniciativas de governo que podem render resultados.

Uma é ser mais rigoroso com aquisições. Mesmo os reguladores europeus, em geral mais rígidos do que os americanos, permitiram ao Facebook que comprasse o WhatsApp. Raciocinaram à antiga: existem outros serviços de mensagens por texto, portanto não haverá monopólio. Mas monopólio criou-se: uma rede de mensagens é útil porque todo mundo usa. Ao Facebook pertence a principal rede de mensagens e a principal de fotografias, o Instagram. Acaso não pudesse fazer tais aquisições, teríamos maior competição no mundo das mídias sociais.

O outro caminho é entrar na briga pela propriedade dos bancos de dados. O que dá poder a estas empresas é a inacreditável quantidade de informação que acumularam ao longo dos anos. Quando analisados por programas inteligentes, estes dados revelam padrões de comportamento dos usuários que se tornam estratégias quase infalíveis de negócio. Um jeito é a criação de bancos de dados públicos para auxiliar empresas iniciantes. Outro é a obrigação, mediante regras, de compartilhar ao menos em parte estes bancos.

A alternativa é a criação de um mercado hiperconcentrado global. Já está acontecendo.

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