O brasileiro que começou o Grooveshark

Paulo da Silva começou a desenvolver o serviço de streaming que hoje desafia a indústria musical

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Por Tatiana Mello Dias
Atualização:

Paulo da Silva começou a desenvolver o serviço de streaming que hoje desafia a indústria musical

 Foto: Estadão

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SÃO PAULO – Paulo da Silva, paulista de Presidente Prudente, tinha acabado de entrar na faculdade de engenharia na Universidade da Flórida em Gainesville (a 480 km de Miami) quando viu um aviso no mural: uma startup precisava de um programador. Ainda nas primeiras semanas de aula, sem carro nem experiência, ele foi a pé ao endereço indicado.

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O bairro não era nada amigável. A única sinalização era um cartão pregado com durex na porta de uma sala pequena. Ao entrar, ele viu computadores sobre mesas improvisadas feitas de caixas de papelão e três caras sentados, de bermuda e chinelo. Eles começaram a falar sobre a ideia: criar um produto para concorrer com o iTunes. O brasileiro desconfiou, mas topou e foi contratado no mesmo dia. Seis anos depois, os números mostram que os planos dos fundadores não eram tão irreais assim.

Hoje o Grooveshark, cuja sede fica na mesma cidade da Flórida, registra 30 milhões de usuários ativos e 1,2 bilhão de músicas tocadas por mês. Os números o colocam lado a lado com o Spotify, o site sueco de streaming que é a menina dos olhos da indústria fonográfica. O Grooveshark tem 17 milhões de usuários registrados ante os 15 milhões do Spotify. A empresa tem quatro escritórios e 130 funcionários – e Silva foi o número um.

Sem receber salário por seis meses, o brasileiro começou ainda em 2006 a escrever as primeiras linhas de código que se tornariam o Grooveshark. A primeira versão do site saiu em março de 2007. Era bem diferente do serviço que existe hoje. Na verdade, era um programa de compartilhamento de arquivos P2P concorrente do Kazaa. Quem baixava a música pagava US$ 1. Uma parte do dinheiro era distribuída para o usuário que fez o upload e outra ficava com o Grooveshark.

Mas aqueles anos foram marcados por um fenômeno que mudou mais uma vez a maneira como as pessoas consomem cultura na internet: o YouTube. E o Grooveshark resolveu apostar no streaming, tendência que parecia promissora. A investida ocorreu aos poucos. Naquele verão eles lançaram uma versão “lite” (enxuta) na web. Mais simples, permitia procurar e ouvir uma música sem precisar de nenhum programa. O serviço, que no primeiro ano tinha conseguido 15 mil usuários, pulou para 50 mil em dois meses com a mudança. O streaming ficou óbvio.

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O site encontrou seu caminho, mas é cercado de polêmicas. Nele, os usuários podem fazer o upload de músicas e ouvir o enorme acervo gratuitamente. Quem paga a conta é a publicidade – principalmente os anúncios direcionados. As empresas usam a segmentação musical para atingir públicos específicos – homens de até 25 anos que gostem de rock, por exemplo. Os anúncios, que o Grooveshark tenta fazer de uma forma que “não pareça propaganda”, viraram a maior fonte de lucro.

Para funcionar, o Grooveshark precisa fazer acordos com as gravadoras para pagar os direitos autorais pela transmissão de músicas. Aqui no Brasil, por exemplo, o serviço é pirata – o site não paga direitos autorais para as gravadoras brasileiras. A situação é parecida com a do início do YouTube, que mais tarde conseguiu encontrar uma solução jurídica para o impasse. Mas o Groveshark ainda está na berlinda. Em janeiro, a entidade de direitos autorais da Alemanha conseguiu na Justiça que o serviço fosse bloqueado por lá.

O Grooveshark enfrenta problemas judiciais com as grandes gravadoras – Universal, EMI e Sony estão entre as que processaram o serviço. Segundo a EMI, o site não pagou os direitos autorais previstos em um acordo de 2009. A EMI revogou o contrato, mas o Grooveshark não removeu as músicas da gravadora nem controlou os uploads dos usuários.

O CEO da empresa, Sam Tarantino, tenta adotar uma postura conciliatória, definindo regras próprias que equilibrem o interesse dos usuários e o das gravadoras. “Nós queremos fazer parcerias para transformar a indústria da música. Até agora as grandes gravadoras não nos deram uma chance para trabalharmos juntos”, disse ele ao site Digital Music News.

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Paulo da Silva afirma que as gravadoras independentes são as que mais gostam do Grooveshark. “Elas veem que é um modelo novo, uma evolução do rádio”, diz Paulo, que não mantém arquivos de música no computador. “O streaming não vai fazer o músico perder lucro. Conheci muitas bandas pelo Grooveshark, depois fui a um show, mostrei para os meus amigos, comprei camiseta. E, ao ter suas músicas em um lugar só, você pode ouvir tudo de qualquer lugar, no computador ou no celular.”

De fato, uma das graças do streaming é a possibilidade de o acervo ser acessado de qualquer aparelho. Mas o aplicativo do Grooveshark para celular foi banido da App Store e do Google Play, as lojas de aplicativos do iOS e do Android. A empresa não desanimou: lançou uma versão mobile do site em HTML5 para driblar a restrição. Ela tem os mesmos recursos dos apps e roda em quase todos os smartphones. E há mais por vir. Tarantino diz que o Grooveshark vai passar pela “maior mudança desde o lançamento”. Os problemas não afetam a equipe.

Adiante. Hoje, aos 25 anos, além de ser desenvolvedor sênior, Paulo da Silva coordena a Universidade Grooveshark, projeto de educação gratuita criado em 2010. Na empresa, cada funcionário pode dedicar 20% de seu tempo ao projeto que preferir. “Um dia por semana você trabalha no que quiser”, explica.

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A universidade foi o projeto dele. “Em vez de esperar a faculdade produzir os programadores que a gente precisa, pegamos quem acabou de entrar na faculdade e ensinamos o que ele precisa, as tecnologias que usamos, e o jeito como fazemos as coisas no Grooveshark”, diz. As aulas começaram com turmas de cinco pessoas, mas o projeto cresceu. “Percebemos que aqueles que gostam de aprender são os melhores programadores”, diz Silva. A universidade vai a todo vapor. Treinou 200 programadores e lançou mais de mil aplicativos.

—-Leia mais:• Link no papel – 17/09/2012

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