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O fim dos Macs?

Na Apple, o movimento tem cheiro de primeiro passo. O computador servirá a nichos profissionais. Para o resto de nós, ao que parece ficaremos móveis.

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A Bloomberg revelou, ontem, que a Apple deve anunciar em meados do ano seu projeto Marzipan. Aplicativos feitos para computadores Macintosh poderão rodar em iPhones e iPads. E vice-versa. A notícia é segura: Bloomberg e Wall Street Journal são os veículos nos quais saem os vazamentos “oficiais” da empresa fundada por Steve Jobs. E, perante este anúncio, não custa fazer uma provocação: quem precisa ter um computador?

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Se a pergunta parece absurda em tempos digitais, pense de novo. Quem realmente precisa de um computador?

Em agosto, logo após o anúncio da linha 2017 de computadores da Apple, o site especializado iMore se debruçou sobre eles para fazer recomendações a seus leitores. Chegou a uma conclusão que impressiona. Usuários que desejam rodar jogos com realidade virtual precisarão trocar. Quem usa softwares gráficos pesados, idem. Para o resto, se o computador pessoal foi comprado após 2012, não há motivo para comprar outro.

Sim: 2012. Para a maior parte dos usos, não há qualquer avanço tecnológico que justifique a troca da máquina cinco anos depois. É quase inacreditável. O Windows 95 não rodaria num PC de 1990. O recém-lançado iMac azul translúcido, em 1998, feito para ser simples e amigável para o usuário doméstico, dava uma surra em qualquer um dos 21 Macs diferentes que saíram em 1993 – incluindo os profissionais.

Não é um fenômeno isolado no mundo Macintosh. Os PCs que rodam Windows são também um pouquinho mais rápidos, têm HDs um pouco mais espaçosos – mas as diferenças reais não existem. Carregam sites mais ou menos na mesma velocidade, rodam vídeos, tocam música, neles funcionam a mesma versão do Office, e o último sistema operacional.

Não é que a tecnologia tenha estagnado. É que o foco das empresas mudou para os dispositivos móveis e é lá que o esforço de melhoria se concentrou. Um smartphone de cinco anos atrás continua fazendo o básico. Mas não roda o último sistema. É proposital. Boa parte das novidades não são fundamentais para todo mundo, embora o marketing nos convença do contrário. É para que compremos aparelhos novos. Mas os bichos ficaram mais rápidos e têm maior capacidade de processamento, sem dúvida.

O foco não mudou à toa. O foco nos seguiu. Nós, os consumidores. Não queremos comprar computadores com frequência, mas celulares estão entre as coisas mais íntimas que carregamos. Ora. Todos nossos segredos estão ali. E a indústria sabe.

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Sabe, inclusive, que cada vez mais gente vai mantendo desligado o computador de casa.

Em sua newsletter semanal, Jean-Louis Gassée, ele próprio um ex-executivo da Apple, lembrou na última segunda que, nas palavras de Tim Cook, “o iPad Pro é a visão mais clara do futuro da computação” que nasceu dentro da empresa. Um tablet grande é o futuro para o presidente da companhia.

É um jogo de juntar os pontos. Em meados deste ano, a empresa anunciará que será possível começar a rodar no Mac apps de iPhone e iPad. E vice-versa. Não será uma transição simples e mexerá com hábitos arraigados. A Microsoft já fez movimentos similares, construindo máquinas bonitas que ocupam nichos.

Um iPad Pro não será capaz tão cedo de editar o próximo blockbuster de Hollywood. Ou desenhar o complexo projeto de um edifício de apartamentos. Ou ainda diagramar uma revista espessa com design arrojado. Ou mesmo desenvolver um videogame de última geração, quanto mais com realidade virtual.

Mas, com teclado e, quem sabe, um mouse, poderá encarar uma planilha ou servir à escrita de um livro com 300 páginas. Na Apple, o movimento tem cheiro de primeiro passo. O computador servirá a nichos profissionais. Para o resto de nós, ao que parece ficaremos móveis.

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