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O herói esquecido dos smartphones

Como os vidros dos celulares e tablets não arranham?

Por Redação Link
Atualização:

Sempre fico um pouco perplexo com a ideia das capas para telefones. As pessoas fazem questão de comprar estes lindos iPhones e Android bem finos, que depois escondem em uma horrível borracha preta de 2 centímetros de espessura!

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Eu sei: bastará que um dos meus aparelhos caia e se quebre, para eu mudar imediatamente de atitude. Mas por enquanto, continuo carregando meu telefone sem nenhuma proteção e sem um arranhão.

O que nunca entendi é como isto é possível. As telas (e no iPhone4 também as costas) são de vidro, pelo amor de Deus! As pessoas carregam seus celulares nos bolsos junto com chaves e moedas. Às vezes, os deixam cair, os jogam em qualquer lugar, os arranham. Por que não ficam totalmente riscados?

Acabo de passar um ano filmando a nova minissérie Nova para a emissora PBS sobre ciência dos materiais. (Sou o anfitrião do programa que irá ao ar em janeiro. O trailer pode ser visto aqui.) A ciência dos materiais é um campo multidisciplinar pouco conhecido — física, química, biologia, nanotecnologia, etc. — em que estão ocorrendo avanços absolutamente espantosos.

Na semana passada, fiz parte de um panel apresentando clipes do programa na conferência anual da Sociedade de Pesquisa dos Materiais, grupo científico que nos assessora no programa. Depois da palestra, um cientista me disse: “Vejo que o seu programa não cobre um dos materiais mais fantásticos que está bem debaixo do seu nariz: o Gorilla Glass”.

De fato, falei, não está no programa. Do que se trata?

 

“É a tela de todo telefone de toque, como o iPhone e o Android, e o iPad e o iPod Touch. É uma história incrível. A empresa Corning inventou este material na década de 60, mas não sabia como aproveitá-lo. Anos mais tarde, alguém mostrou um pedaço do material ao Steve Jobs. Imediatamente, ele colocou um pedaço do vidro em uma bolsa cheia de chaves e a chacoalhou energicamente; o vidro saiu de lá inteiro, sem um arranhão. Jobs então teve a ideia de usá-lo em seu iPhone. Hoje, a Apple compra praticamente todo o Gorilla Glass que a Corning produz, e é a maior consumidora do material.”

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Não sei até que ponto a história é verdadeira, mas em parte é correta; o fato de Steve Jobs perceber na hora o valor dos inventos na área de tecnologia já se tornou parte do folclore tecnológico. E o site da Corning parece confirmar que é isto mesmo: “O Gorilla Glass é uma substância que não prejudica o ambiente, um vidro fino de silicato de alumínio com soluções alcalinas, com uma excepcional resistência a arranhões, quedas e aos impactos do uso diário. É fino, frio ao toque e pode ser limpo com facilidade — o que constitui a solução perfeita para designs elegantes e sem emendas”.

Então entrei em contato com a Corning, e descobri que a maior parte da história é verdadeira:

“Em 1962”, escreveu o cara das relações públicas da companhia, “lançamos o Chemcor, um novo vidro resistente. O material foi usado em uma variedade de aplicações comerciais e industriais, inclusive na indústria automotiva, na aviação e na indústria farmacêutica, até o início da década de 1990. Com o aparecimento dos primeiros celulares com tela de vidro, por volta de 2005, a Corning considerou este mercado uma fabulosa oportunidade.”

“Nossos cientistas foram buscar a antiga tecnologia do Chemcor e fizeram uma série de experimentos com a finalidade de criar um vidro mais resistente e mais durável. Em 2008, depois de dois avanços inovadores, graças à nova fórmula foi possível produzir folhas uniformes, finas com uma superfície pura. O que saiu do nosso laboratório foi um novo composto que patenteamos como Corning Gorilla Glass”.

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Hoje, afirma, este vidro cobre a tela de 280 aparelhos de 20 marcas — Samsung, LG, Dell, Motorola, Acer e assim por diante. Não é preciso dizer que foi um sucesso; no ano passado, as vendas de Gorilla Glass chegaram quase a US$ 100 milhões; em 2010, chegarão a US$ 250 milhões, e, se o mercado de televisores decolar, como prevê a Corning,  chegarão a US$ 1 bilhão no próximo ano.

O site da Corning dá alguns detalhes sobre a fabricação do vidro: “O vidro é colocado em um banho quente de sal derretido a uma temperatura de aproximadamente 400ºC. Íons menores de sódio se desprendem do vidro, e são substituídos por íons maiores de potássio do banho de sal. Estes íons maiores ocupam mais espaço e se comprimem com o resfriamento do vidro, produzindo uma camada comprimida sobre a superfície do vidro. A composição peculiar do Gorilla Glass permite que os íons de potássio se espalhem por toda a superfície, provocando uma elevada compressão no interior do vidro. Esta camada de compressão cria uma superfície mais resistente aos danos do uso diário”.

Muito bem.

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No entanto, nem a Apple nem ninguém, na minha opinião, fez o devido estardalhaço em torno deste material. Humilde, com sua troca de íons, ele possibilitou o surgimento da nova era de telefones fininhos de toque, à prova de arranhões, e dos tablets de toque.

E, é claro, este ano haverá Gorilla Glass para quem quiser no mercado.

(P.S.: Ligue seu TiVo! No domingo, estarei no programa “CBS News Sunday Morning”, com uma série de sugestões para presentes natalinos high-tech.)

/ Tradução Anna Capovilla

* T?exto originalmente publicado em 09/12/2010.

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