Na segunda feira, em Los Angeles, num evento para a mídia envolto em sigilo, a Microsoft anunciou o lançamento de um maravilhoso tablet com tela sensível ao toque como o iPad. Trata-se do tablet conhecido como Surface. Suas principais diferenças em relação ao iPad: ele conta com um estande, tem entradas típicas de um PC e vai rodar o sistema operacional Windows 8.
Sob certos aspectos, o anúncio foi um marco para a Microsoft, empresa que se manteve durante décadas fora do ramo dos PCs. Nunca houve um computador da Microsoft. Por outro lado, parece que conhecemos bem as cenas iniciais deste filme. A Apple cria um produto de grande sucesso (iPod, iPhone). A Microsoft cria um concorrente de design simpático (Zune, Windows Phone).
Infelizmente, a empresa não acrescenta novidades suficientemente atraentes para atrair os consumidores e afastá-los da escolha mais segura. Como resultado, ninguém compra a alternativa da Microsoft.
Haverá na verdade diferentes modelos do tablet Surface; afinal, estamos falando da Microsoft. Já foram anunciados dois modelos básicos: uma versão mais básica e ultrafina, equipada com processador ARM, que roda uma versão modificada do Windows 8 chamada Windows RT, e uma versão Pro, equipada com chip Intel e uma versão completa do Windows 8.
São muitas as perguntas. A Microsoft não informou a data de lançamento, nem o preço nem o tempo de duração da bateria. A Microsoft deu a entender que a versão Pro custará o mesmo que um ultrabook (US$ 1.000) e rodará aplicativos normais do Windows como o Office e o Photoshop; assim sendo, quais serão exatamente os aplicativos disponíveis para o modelo equipado com o Windows 8 versão RT?
Será que as “parceiras de hardware” tradicionais da Microsoft não vão ficar furiosas ao ver que a empresa está agora fabricando seu próprio tablet competitivo?
Haverá uma versão celular? A empresa demonstrou uma capa magnética que, engenhosamente, acumula a função de teclado e trackpad. Esta será incluída com o produto ou vendida separadamente?
Creio que o Windows 8 representa um dos melhores trabalhos da Microsoft. Fluido, rápido, útil, fácil de aprender – e diferente do velho conceito de ícones-no-preto do iPhone/Android. Tenho usado uma versão de testes do Windows 8 num tablet Samsung e o sistema funciona maravilhosamente.
Mas o iPad está no mercado há dois anos; já está um pouco tarde para que a Microsoft comece agora a querer alcançá-lo. (Ver também: tablet da HP, tablet da BlackBerry, Zune.) Para mim, o modelo mais atraente parece ser a versão Intel; imagine um tablet bonito, arrojado e fino que seja capaz de rodar de fato os programas do Windows.
Dito isto, o teclado removível é imprescindível para aqueles que desejam trabalhar a sério, e nenhum PC de duas peças conseguiu fazer sucesso no mercado até o momento. (Ver também: tablets conversíveis, celulares Motorola com dock.)
E há também o elefante na sala. Se o consumidor terá de gastar cerca de US$ 1.000 para ter um tablet com teclado removível, por que não optar logo por um ultrabook, que nada mais é do que um PC mais completo de peso semelhante?
Assim, não é minha intenção desrespeitar a Microsoft ao prever que o Surface terá um duro caminho rumo ao sucesso. Mas esta é uma semana de celebração, e não de análises fatalistas. Afinal, independentemente do sucesso ou fracasso do Surface, seu lançamento representa a concorrência, a escolha e algumas ideias novas.
Por causa destas contribuições, devemos desejar ao aparelho o melhor dos destinos.
* Publicado originalmente em 19/6/2012.