O momento 'The Office' no QG da Blackberry

Semana tensa para a RIM, que viu milhões de usuários de seu BlackBerry ficarem offline. Especialmente na sede europeia da empresa

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Por Redação Link
Atualização:

Por Peter Griffiths/REUTERS Semana tensa para a RIM, que viu milhões de usuários de seu BlackBerry ficarem offline. Especialmente na sede europeia da empresa, em Slough

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O mais perto que a maioria das pessoas pode chegar do ponto a partir do qual os milhões de BlackBerries pararam de funcionar é a fachada de um cinzento bloco de edifícios, numa rua que conta também com uma superloja de artigos de golfe com desconto e uma van que vende hambúrgueres, na cidade de Slough, a uma hora de Londres.

No edifício de três andares, engenheiros corriam contra o relógio para resolver uma queda no serviço que deixou clientes em cinco continentes sem e-mail nem mensagens instantâneas durante dias. Esta é a sede europeia da Research in Motion (RIM), a companhia canadense que fabrica os smartphones.

Stephen Bates, diretor do braço britânico da empresa, apareceu no estacionamento do escritório para trazer aos repórteres as últimas notícias sobre o caso, falando em meio ao barulho dos ônibus, caminhões e carros que passavam pela rua principal que leva ao Aeroporto de Heathrow.

Ele fez uma pausa porque o motorista de um caminhão que passava abaixou o vidro de sua janela para gritar “O BlackBerry é um lixo”. Um assessor interveio e disse: “Temos recebido muitos comentários como esse nos últimos dias”. “Milhares de pessoas estão trabalhando nisso dia e noite, sem parar”, disse Bates à Reuters. Mas, com a cortina abaixada para não deixar entrar o sol do outono e com os visitantes impedidos de ir além da recepção, pouco se via de todos esses esforços na sede da companhia.

Mudos, os funcionários do escritório usavam uma entrada lateral distante das equipes de televisão que aguardavam novidades. Seguranças monitoravam por sobre a cerca viva bem aparada. Os poucos funcionários da BlackBerry que se arriscavam a sair para almoçar não falavam com a mídia. Os pedidos para visitar o data center que está no cerne da crise eram respondidos com um firme “não”. Um porta-voz da RIM explicou que os servidores não ficavam no edifício da sede, e os visitantes não podiam ver onde o local onde problema começou. “Não é permitida a entrada no edifício. Precisamos proteger a privacidade de todos os funcionários”, disse o porta-voz, recusando-se – por questões de segurança – até mesmo a identificar qual dos grandes galpões da área abriga os computadores. O verdadeiro The Office. A central europeia do BlackBerry é ladeada por dois laboratórios farmacêuticos em edifícios quase idênticos. Localiza-se numa área comercial conhecida por muitos britânicos como o local onde foi gravada a série cômica The Office, da BBC. A série, estrelada por Rick Gervais no papel de um irresponsável gerente de um escritório de comércio de papel, zombava do tédio da vida numa companhia em uma cidadezinha conhecida por suas várias rotatórias e estacionamentos de concreto. Em uma das milhares de mensagens publicadas no Twitter que ridicularizavam a RIM, o empreendedor britânico da área de tecnologia, Alan Sugar, disse: “Se o problema dos servidores do BB estiver em Slough a companhia precisará de Ricky Gervais para sair dessa”. Slough virou motivo de piadas entre os britânicos. O comediante Jimmy Carr, por exemplo, disse da sua cidade natal: “Cresci em Slough na década de 70. Se vocês quiserem conhecer como era Slough naquela época, podem ir para lá agora mesmo”. Entretanto, a cidadezinha foi escolhida como sede europeia de muitas multinacionais. A fabricante taiwanesa de smartphones HTC inaugurou lá seu quartel general europeu em junho. De acordo com o site de notícias de tecnologia The Register, a fabricante norte-americana de PCs Dell acaba de decidir investir em um novo data center na cidade. Entretanto, os usuários de Twitter que lamentavam a interrupção dos seus serviços no BlackBerry trocavam versões atualizadas de um verso do poeta inglês John Betjeman, de 1937, no qual ele denunciava a industrialização de Slough com as palavras: “Venham, bombas amigas, e caiam sobre Slough! Ela não serve mais para os seres humanos”. Uma das versões do século 21 diz: “Venham, bombas amigas, e caiam sobre Slough, não há mais acesso aos serviços do BlackBerry para os seres humanos”. TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA  
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