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O mundo dos dois

Enquanto a Apple investe em tablet menor e reforça seus produtos, a Microsoft aposta no Windows 8 como mudança

Por Redação Link
Atualização:

Enquanto a Apple investe em tablet menor e reforça os produtos para o fim do ano, a chegada do Windows 8 pode representar uma mudança na indústria do hardware e reerguer a Microsoft

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Filipe Serrano 

SAN JOSE – Entre os jornalistas que estavam em San Jose, na Califórnia, para cobrir o lançamento da Apple na semana passada, as expectativas iam das mais otimistas às duvidosas, de quem imaginava que este seria um evento menor e sem novidades, apenas para ofuscar a semana em que a Microsoft faria seus principais lançamentos do ano (leia abaixo).

Foi um pouco dos dois. Se no lançamento do iPhone 5, a empresa se concentrou na apresentação de seus aparelhos mais portáteis, como o smartphone e o iPod, desta vez ela focou em seus produtos voltados para a computação. Além do iPad Mini e de um novo iPad de quarta geração, foram mostradas novas linhas de seus notebooks (o MacBook Pro de 13 polegadas) e de seus computadores iMac e Mac Mini.

Com estes lançamentos, a empresa chega à temporada de compras de fim de ano com todas as suas categorias de produtos renovadas. Agora a fabricante tem aparelhos novos em áreas que já estão mais definidas: tocadores de música, smartphones, mini tablets, tablets tradicionais, notebooks leves, notebooks com mais processamento e desktops, uma estratégia que pode fazer diferença para empresa e principalmente para manter suas vendas em alta nos Estados Unidos.

“Creio que a Apple esteja marcando uma posição para a indústria, para os concorrentes, para os consumidores, de que eles não vão tirar o pé do acelerador”, disse ao Link Ben Bajarin, analista da consultoria Creative Strategies.

‘Ano incrível’. Tim Cook, presidente executivo da Apple, falou sobre este momento da empresa antes de se despedir, no fim da apresentação. “Este tem sido um ano incrível para a Apple, com todos esses novos produtos, com esses aplicativos e serviços na nuvem”, disse ele, que está no comando da empresa desde o início de 2011, quando Steve Jobs se afastou em licença médica. Cook assumiu o cargo definitivamente depois da morte de Jobs, há um ano.

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O “ano incrível” a que se refere é a sequência de novidades que foram lançadas durante o período, entre elas a terceira e a quarta gerações do iPad (uma em março e a outra na semana passada), o novo sistema iOS 6, o iPhone 5, os novos iPods e, agora, um novo modelo reduzido do iPad, com tela menor (7,9 polegadas) e pesando 308 gramas (menos da metade do peso do tablet maior, de 662 gramas).

O novo aparelho custará a partir de US$ 329 nos Estados Unidos e começa a ser vendido em 2 de novembro em 34 países, junto do novo iPad de quarta geração.

O Brasil não está na lista desses países, mas a Apple deve encontrar aqui um mercado pronto para aceitar tablets mais leves e menores. Segundo a Nielsen, desde maio os tablet com telas menores representam mais da metade dos aparelhos vendidos no Brasil. E o número vem aumentando a cada mês. Em agosto, quase dois terços (65,1%) dos tablets vendidos no País tinham telas de até 7,9 polegadas. Já os tablets com mais de 8 polegadas, o que inclui o iPad, representaram o restante das vendas.

“A Apple também quer marcar este segmento de tablets menores com o seu bem sucedido produto, o iPad”, disse Thiago Moreira, diretor de telecom da Nielsen. “Como este segmento vem crescendo, possivelmente vamos observar um incremento nas vendas, principalmente no fim do ano, que é um período de vendas mais altas, puxadas por causa do Natal.”

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No total, a Apple diz já ter vendido 100 milhões de unidades do iPad desde o primeiro modelo. Ela lidera no mercado de tablets, mas os concorrentes têm conseguido também seu espaço. O que a empresa faz agora é dificultar o avanço de outros fabricantes, ao mesmo tempo que se protege para não perder sua liderança.

A nova geração do iPad – que tem processador mais rápido e resolução de tela maior – é lançada apenas sete meses depois do modelo anterior e na mesma semana que a Microsoft começou a vender seu novo tablet Surface com o Windows 8, o primeiro computador produzido pela empresa. Já com um iPad menor, a Apple também vai para cima de Google, Amazon, Samsung e outros fabricantes que têm tablets mais baratos com telas de 7 polegadas, competindo em uma área que a Apple ainda não tinha um aparelho próprio.

Portátil, não móvel. O iPad Mini é mais caro, mas também é mais leve do que seus concorrentes, como o Kindle Fire HD (395 g) e o Google Nexus 7 (340 g). “Por que o peso é tão importante? Porque quanto mais leve e menor for o tablet, é mais provável que ele possa ser usado em mais lugares, principalmente fora de casa”, escreveu Sarah Rotman Epps, analista sênior da consultoria Forrester Research, em seu blog. Ela afirma que a maioria das pessoas usa os tablets dentro de casa, ao mesmo tempo que assistem à televisão ou quando estão na cama. “Tenho dito repetidamente que os tablets hoje são ‘aparelhos portáteis, mas não verdadeiramente móveis’, mas um iPad Mini pode mudar essa diferença.”

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Mas, se na área dos portáteis a Apple tem uma larga vantagem sobre os concorrentes, com 275 mil aplicativos disponíveis para o iPad, ela ainda fica atrás no setor dos computadores tradicionais. Com os novos lançamentos, ela continua a velha briga contra os PCs com Windows. Seus computadores com preços altos, historicamente vendem menos do que as máquinas com Windows.

“O lado bom para eles é que continuam a aumentar sua participação nas vendas de notebooks e desktops, o que mostra que ainda há uma oportunidade de crescimento para eles, especialmente em um ano de renovação para a Microsoft”, continua Bajarin, da Creative Solutions.

O bom momento da Apple é notado no interesse dos consumidores por seus produtos. Em um shopping de San Jose, enquanto a loja da Apple estava lotada, a loja da Microsoft – com um ambiente aberto e bem iluminado, mesas para testar os produtos e atendentes prontos para tirar quaisquer dúvidas –, praticamente em frente, atraía cerca de um terço da quantidade de clientes da concorrente. Na tentativa de modernizar sua marca, seus produtos e suas revendas, a Microsoft fica cada vez mais parecida com a Apple.

* O jornalista viajou a convite da Apple

NOVIDADES DA APPLE

iPad mini| Tela de 7,9 polegadas, espessura de 7,2 mm, pesa 308 g, de 16 GB a 64 GB; Wi-Fi ou 3G/4G. Entre US$ 329 e US$ 659 (EUA)

iPad 4ª geração | Tela de 9,7 polegadas e processador A6X. A partir de US$ 499

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iMac | Tela de 21, 5 ou 27” e processador de até 3,2 GHz. US$ 1.499 e US$ 1.999

Mac mini | Processador Intel Core i7 de 2,6 GHz e até 1 TB. US$ 999

Tatiana de Mello Dias

NOVA YORK – Começou uma nova fase para a Microsoft na semana passada. Foi lançado oficialmente o Windows 8, versão do sistema operacional que não só é totalmente redesenhada, como também representa uma mudança na estratégia de negócios da empresa em várias frentes. O inimigo é claro: a Apple. A meta também: recuperar o tempo perdido desde que a concorrente mudou o mercado da computação pessoal com o lançamento do iPad.

A partir dele teve início a era chamada de pós-PC – e todo o universo dos tablets – , que simboliza o mercado em que não há mais computadores pessoais tradicionais. Mas a era dos PCs não acabou para a Microsoft. Durante o lançamento do Windows 8 e do tablet Surface, em Nova York, na quinta-feira passada, a Microsoft martelou: todos os novos aparelhos são computadores pessoais. Ao apresentar as dezenas de computadores e tablets que chegam ao mercado rodando Windows 8, Steve Ballmer, CEO da Microsoft, repetiu várias vezes: “esses são os melhores PCs de todos os tempos”.

A Microsoft perdeu relevância nos últimos anos. Patinou em lançamentos medianos e conservadores e entediou seus consumidores, que começaram a migrar em massa para os concorrentes. Tirando o Kinect, a empresa que popularizou a computação pessoal não apresentou nada de novo na última década. Até que Steve Ballmer, CEO da empresa desde janeiro de 2000, resolveu tomar uma atitude.

Ninguém representa melhor a mudança do que Panos Panay, responsável pelo desenvolvimento do Surface da Microsoft. Jovem e entusiasmado, o executivo jogou um tablet no chão para demonstrar a robustez do equipamento durante o lançamento. É a primeira incursão da Microsoft pela produção de hardware, e a figura de Panay deu um tom otimista para o lançamento. Carismático, ele é apontado como o melhor porta-voz da Microsoft. A apresentação entusiasmada terminou com aplausos e gritinhos eufóricos da plateia, algo significativo para uma empresa que só provocou bocejos nos últimos anos.

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Trocas. A Microsoft passou por uma reestruturação nos últimos anos. Importantes executivos foram substituídos, provocando uma mudança em cadeia. Finalmente Ballmer abriu espaço para a corrente interna que queria investir em um produto realmente novo – a esta altura, o mercado não ficaria satisfeito com uma versão mais do mesmo do Windows. Foi difícil, mas a ideia de redesenhar completamente o sistema finalmente tornou-se o plano maior.

Segundo a empresa, o Windows 8 foi testado por 1,2 bilhão de horas. “Nenhum produto em nenhum momento teve tantos testes antes do lançamento”, disse Steven Sinofsky, presidente da divisão de Windows. Para garantir que o produto chegue ao mercado em um hardware que faça jus às suas possibilidades, a Microsoft fechou o cerco às fabricantes de PCs.

Como Windows 8 foi projetado para rodar em telas touchscreen, sua chegada provocou uma onda de criatividade na indústria do hardware. Foram apresentados dezenas de novos modelos de computadores com múltiplas configurações. Mesmo os mais baratos, como o Asus Vivobook, têm uma tela que responde de maneira decente – e os preços são acessíveis, começando em US$ 499. “Todos poderão encontrar seu PC perfeito”, disse Ballmer no lançamento.

Empresas que querem lançar um PC com Windows 8 de fábrica precisam atender a uma série de requisitos técnicos, que vão da resolução da tela (no mínimo 720p) à qualidade do microfone. Assim, a Microsoft garante que a nova versão de seu sistema operacional chegue ao mercado em aparelhos topo de linha, que podem agradar ao consumidor acostumado ao padrão Apple de cuidado e acabamento. O mercado começa a ser nivelado por cima.

O Windows RT também ganhará atenção especial, sinalizando uma maior flexibilização na política da empresa para atrair novos fabricantes de hardware. Se antes o foco principal era nos computadores com arquitetura Intel, agora ARM e Nvidia têm mais possibilidades no universo Windows.

Software. Outra mudança é a criação da loja de aplicativos Windows Store. A empresa sempre foi liberal com os desenvolvedores em suas plataformas mas, desta vez, estabeleceu vários padrões para os aplicativos rodarem no Windows 8. A ideia é ter mais controle e, também, garantir uma experiência homogênea e coerente para o usuário. Por enquanto, porém, há pouquíssimos aplicativos disponíveis na Windows Store, um ponto fraco.

A nova organização pode gerar estranheza aos usuários, e aqui a Microsoft corre riscos. A empresa fará um esforço de marketing para educar e convencer os usuários de Windows tradicional (ou de outros sistemas) a organizar aplicativos e informações em blocos coloridos.

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O novo Windows pode mudar toda a dinâmica do mercado e estabelecer novos padrões de hardware e software ou se revelar um grande fiasco. Os consumidores darão o veredito sobre o futuro da Microsoft.

* A jornalista viajou a convite da Asus

NOVIDADES DA MICROSOFT 

Surface | Tela touch de 10,6”, até 128 GB de capacidade, 907 g, 4 GB de RAM, câmera frontal e traseira. US$ 499 (EUA)

Windows 8 | Versões normal e Pro. Para atualizar para versão Pro, custa R$ 69

NO BRASIL

O tablet Surface foi exibido pela Microsoft no evento de Nova York e a loja da empresa na Times Square teve filas durante toda a sexta-feira. O tablet, porém, ficou de fora da apresentação no Brasil. A fabricante não divulgou data da chegada do aparelho por aqui. A principal novidade para o País foi a atualização para o Windows 8 Pro por R$ 69 via download até 31 de janeiro, que pode ser feita por usuários que o Windows original instalado (XP SP3, Vista ou 7). Por enquanto, só a versão Pro é vendida no Brasil. No varejo, tem o preço sugerido de R$ 269./Nayara Fraga

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—-Leia mais: • Link no papel – 29/10/2012

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