O palco do novo

Festival de música e tecnologia Sónar comemora 20 anos de experiências multimídia

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Por Camilo Rocha
Atualização:

Festival de música e tecnologia Sónar comemora 20 anos de experiências multimídia

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O ano é 1995. Dois músicos da Sensorband tocam num palco do festival Sónar, em Barcelona, Espanha. Acima deles, em dois telões, mais dois instrumentistas completam a formação. Um está em Paris e o outro em Amsterdã. Com áudio e vídeo transmitidos por cabo ISDN, o show acontece em três lugares ao mesmo tempo.

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Enric Palau, um dos fundadores do festival, lembra de como a iniciativa foi “inovadora e revolucionária” na época. “Hoje essa tecnologia ficou completamente banal, algo que temos em casa com um laptop e uma webcam. É engraçado ver como em pouco tempo o que era incrível ficou normal”, disse Palau ao Link por telefone, de Barcelona.

O festival catalão sempre marcou posição como evento que celebra a união entre música e tecnologia. Em 24 e 25 de maio de 2013, ele terá sua terceira edição em São Paulo (e a segunda consecutiva; a primeira foi em 2004). Ano que vem será a comemoração de 20 anos do Sónar, que terá festivais também em Tóquio (Japão), Reykjavik (Islândia), Cidade do Cabo (África do Sul) e Barcelona.

“Todas as transições e formatos passaram pelos palcos do Sónar. Quando começamos, os DJs tocavam vinil. Hoje, vários já usam o iPad”, diz Palau. “Sempre apoiamos artistas com novas ferramentas e técnicas. Mas o que apoiamos não é a tecnologia pela tecnologia, mas sim o seu uso criativo. Queremos sempre afirmar essa conexão estreita entre criatividade e tecnologia.”

Qual o risco de a arte ficar em segundo plano? Há quem diga que as pessoas estão mais interessadas hoje em lançamentos de smartphones do que de álbuns.

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“Não concordo”, rebate Palau. “Acho que as novas gerações querem ter os últimos itens de tecnologia, mas para ouvir os últimos lançamentos de música. É apenas uma ferramenta, um veículo, para conectar a pessoa com a música. Antes tínhamos as picapes, agora temos o aparelho móvel. A diferença é que o acesso é maior. Por mais que as pessoas achem o iPod sexy, elas ainda querem usá-lo para ouvir o último álbum do Explosions In The Sky.”

Esse acesso muito maior à música trouxe um novo desafio para festivais como o Sónar, que apostam em “música avançada”, como diz o mote do evento. Afinal, a internet tirou das mãos de especialistas remunerados o monopólio da novidade. Hoje, o garoto numa cidade remota também descobre bandas e conhece artistas fora do radar.

“Acho muito bom que as pessoas fiquem mais informadas”, avalia Palau, com uma crítica embasada. Para ele, o papel de um festival como o Sónar é fazer a curadoria para selecionar aquilo que é mais relevante. Assim, pode-se traduzir a quantidade de informações sobre música em uma experiência real, em que a música e a tecnologia se comunicam com o público.

“A democratização que a internet traz é muito positiva, mas o que você consegue numa tela de computador nunca vai se comparar com a experiência ao vivo”, diz. “Um festival é onde as pessoas se encontram. É uma mistura de públicos diferentes ou de expressões visuais diferentes.”

O anúncio dos primeiros nomes do festival teve controvérsias. Entre os artistas, estavam Jamie Lidell, The Roots, Explosions In The Sky, Matmos e os brasileiros Taksi, Renato Ratier e Mau Mau. Mas a atração mais questionada foi a mais famosa: a dupla pop Pet Shop Boys, vista como deslocada no Sónar.

Para Palau, é natural trazer nomes conhecidos. “Isso nos permite trazer os nomes mais experimentais, como o Matmos e o Taksi. O show do PSB será um dos primeiros do mundo de sua nova turnê. Será uma experiência multimídia.”

20 ANOS DE SONAR

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1 Ciberpalco Em 95, o Sensorband juntou músicos em cidades diferentes, com som e imagem transmitidos digitalmente

2 VJ Em 97, o Coldcut apresentou um software que permitia “tocar” imagens como DJ (incluindo scratches)

3 DJ de laptop Em 2009, o canadense Richie Hawtin aposentou de vez as picapes, tocando só com o computador

4 Óculos 3D Apesar do sabor vintage, as imagens em 3D do Kraftwerk em 2011 foram novidade em termos de show

5 Arte visual Em 2012, Amon Tobin causou comoção ao projetar estruturas 3D no palco (video mapping)

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