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Jornalista, escritor e palestrante. Escreve às quintas

Opinião|O primeiro ciborgue

Elon Musk pôs dinheiro numa startup chamada Neuralink, que quer criar ciborgues.

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Aos 45 anos, Elon Musk não é o típico bilionário do Vale do Silício. O fundador do PayPal é o principal acionista de empresas que vão da Tesla, de carros elétricos, à SpaceX, que pretende produzir espaçonaves para a NASA e turismo, passando pela indústria energética. Seu novo negócio, porém, encosta ainda mais num cenário de ficção científica. Ele pôs dinheiro numa startup chamada Neuralink. O objetivo é criar ciborgues.

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A palavra vem do encontro entre cibernético, a ciência que estuda sistemas de comunicação e controle de máquinas, e organismo. Um organismo cibernético, ou ciborgue, é tão vivo quanto eletrônico. A Neuralink foi registrada como uma empresa que trabalhará em tecnologia médica. Musk não deixa claro o que fará, mas tem escrito tuítes nos quais se refere a neural lace, laços neurais.

Outra palavra, esta oriunda dos romances de ficção do escritor Iain M. Banks, laços neurais são o que parecem ser. Uma tecnologia digital que se entrelaça com o cérebro, como que costurada à massa cinzenta.

Para além do jargão, existem algumas pistas nos registros de marca feitos em nome da empresa. A Neuralink criará ferramentas que, colocadas no cérebro, poderão diagnosticar e tratar distúrbios neurológicos. Alguns especulam que os primeiros produtos podem ser microchips para implantes em regiões específicas que tratem de epilepsia, por exemplo, ou depressão, talvez Alzheimer. Poderiam reconhecer determinadas alterações bioquímicas ou elétricas e interferir. Não é uma tecnologia trivial.

Este é o início, um quê primitivo, de um vasto campo tecnológico. É também, para Musk, uma prioridade existencial que vai além da cura de doenças. Para ele, o que está em jogo é a sobrevivência da humanidade. Este mês, por conta da Neuralink, ele iniciou uma ofensiva. É personagem da reportagem principal da influente revista Vanity Fair, foi destaque no Wall Street Journal, na britânica Economist, em todos os sites de tecnologia. Musk defende que precisamos urgentemente começar a desenvolver tecnologias para nos tornarmos ciborgues.

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O principal inimigo de nós, humanos, segundo ele, é a inteligência artificial que nós mesmos estamos criando.

Esta é uma briga que divide o Vale do Silício filosoficamente. De um lado, gente como Mark Zuckerberg, do Facebook, e Larry Page, do Google. Do outro, Bill Gates e Musk. Os primeiros investem pesado em inteligência artificial porque, consideram, ela trabalhará em benefício de todos, produzirá riqueza, aumentará o tempo de lazer da humanidade. Os outros acham que não é tão simples assim.

Quando as máquinas começarem realmente a pensar, talvez façam aquilo que nós, humanos, fizemos. Busquem o domínio. É o cenário HAL 9000 — o computador de 2001, Uma Odisséia no Espaço. Musk, Gates, até mesmo o astrofísico Stephen Hawking, temem que a inteligência artificial venha a nos dominar, nos escravizar, talvez nos exterminar. Não ocorrerá em nossas vidas, mas ocorrerá se não encararmos com seriedade, hoje, este problema.

É este o objetivo da Neuralink. Se não podemos impedir que inteligência artificial verdadeira se desenvolva, podemos cuidar para que ela esteja, desde o início, dentro de nós. Nos tornaremos, assim, super-humanos, capaz de viver muito mais, combatendo doenças neurológicas degenerativas ao mesmo passo em que digitalizamos nossos corpos.

No fundo, é uma briga que vai além da filosofia. Quem vencer definirá o futuro da tecnologia. Inteligência artificial nascerá como assistentes externos que nos servem, como querem Facebook e Google? Ou como implantes para nos sofisticar? As peças estão postas no tabuleiro.

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