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Jornalista, escritor e palestrante. Escreve às quintas

Opinião|O TSE sob ataque

O voto eletrônico é conquista importante, mas há quem queira abalar sua credibilidade

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O ministro Luís Roberto Barroso, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Foto: Dida Sampaio/Estadão

O Tribunal Superior Eleitoral precisa ter alguém que entende de tecnologia, tenha ampla capacidade de explicar de forma simples o digital, e leve consigo carta branca para dar respostas em público, via imprensa e redes sociais, no período das eleições. O voto eletrônico é uma conquista importante demais da democracia brasileira e tem gente que quer abalar sua credibilidade. No domingo, o ataque parece ter sido sincronizado. Foi também de baixa eficácia. Ótimo. Mas o TSE não ajudou.

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Nos tempos da Primeira República, as eleições brasileiras pareciam coisa da Cuba de Fidel ou do Iraque de Saddam. Teve muito presidente eleito com 90% dos votos. Quando voltamos à democracia, após o Estado Novo, picaretagem nesse nível não teve mais. Mas nunca deixou de haver fraude enquanto as cédulas estiveram no papel. Toda eleição tinha denúncia aqui e ali, indícios mais ou menos fortes, urnas impugnadas, em alguns cantos do interior a farra corria solta. Aí veio a urna eletrônica.

O voto digital não resolveu os problemas da política brasileira, mas deu integridade às eleições e agilidade para a apuração. Mesmo no domingo, em que houve problemas técnicos reais, o atraso foi de quatro horas. Só a comparação com o pleito americano já dá mostras de como esta é uma parte do Brasil da qual devemos nos orgulhar.

Mas há uma ameaça que paira sobre as democracias liberais. É este populismo autoritário que ganha eleições. Chegando ao poder, ele dessensibiliza a população para ataques ao regime. Quando reeleito, faz uso desta insensibilidade conquistada e começa a desmontar as estruturas que protegem minorias e garantem um Estado de Leis, distribuindo o poder em três braços independentes. Foi o que ocorreu na Hungria, o que aconteceu na Venezuela, é a história de Turquia e Rússia, e já está em curso na Polônia. Donald Trump inventou o roteiro para quando o autoritário vê sua reeleição ameaçada, o bolsonarismo o abraçou. Acuse fraude onde não há. Trump já vem fazendo há tempos, Bolsonaro idem.

Não é coincidência que o TSE sofreu dois ataques hackers. Um, mais antigo, invadiu sistemas não relacionados com a eleição, capturou dados, e os divulgou no domingo. Outro, no próprio domingo, não tentou invadir mas derrubar servidores. Aí, à noite, um problema técnico sem qualquer relação causou um gigantesco atraso na apuração. Em momento algum a integridade da contagem esteve em risco, só a agilidade da divulgação dos resultados. De acordo com informações preliminares, a Corte comprou mal equipamentos caros que a gigante Oracle vendeu. O fato de que os executivos demitidos pela companhia americana são os de venda, e não os responsáveis pelo suporte técnico, sugere que o problema foi terem vendido ao tribunal algo que não resolveria seu problema. Que o problema não foi no braço de tecnologia, mas no que se apressa em fechar o contrato.

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O problema de tecnologia, técnicos resolvem. O de comunicação exige também sua especialização. O ministro Luís Roberto Barroso deu explicações, ao longo no domingo, que lembravam um mecânico falando de rebimboca da parafuseta. Não faziam muito sentido. E isso enquanto o tribunal estava sendo atacado por hackers que têm por objetivo desacreditar a base da democracia. A arquitetura tecnológica do TSE é opaca, portanto é difícil compreender o que desativar um servidor por conta do ataque pode afetar noutro serviço. É claro que gera insegurança. Não é culpa do ministro — sua função é cuidar da democracia. Mas ele precisa ter, ao lado, alguém que transmita segurança, tranquilidade, e que explique com simplicidade o que está acontecendo. Em 2022 será fundamental.É JORNALISTA

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