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Óculos do Google elevam receio com a privacidade

Capacidade de gravar visão do usuário terá mudança ainda mais profunda na sociedade, já exposta às câmeras de smartphones

Foto do author Anna Carolina Papp
Por Anna Carolina Papp
Atualização:

Capacidade de gravar visão do usuário terá mudança ainda mais profunda na sociedade, já exposta às câmeras de smartphones

SÃO PAULO – Enquanto a tecnologia vestível desperta curiosidade e empolga a muitos, também levanta preocupações a respeito de privacidade, uma vez que os usuários poderão fotografar, filmar e compartilhar conteúdo de uma maneira ainda menos perceptível. Apesar de o produto nem ter sido lançado ao público geral, alguns estabelecimentos dos EUA, como bares e restaurantes, já disseram que proibirão o uso em seu ambiente.

 
Visor. Crítico compara Glass a programa espião dos EUA. FOTO: Pawel Kopczynsky/REUTERS – 19/6/2013 Foto:

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Em maio, oito congressistas norte-americanos enviaram uma carta ao Google com perguntas a respeito da privacidade no Glass– se os óculos armazenam dados, se farão reconhecimento facial e se será implantado algum tipo de proteção. Em resposta, o Google, afirmou que garantir a segurança e a privacidade dos usuários é uma de suas maiores prioridades e que uma das maneiras de fazer isso é exigir um comando de voz para iniciar um vídeo. A empresa disse ainda que não permitirá ferramentas de reconhecimento facial, mas nenhuma mudança em sua política de privacidade está prevista.

A carta, no entanto, não agradou. “Estou decepcionado. Há perguntas que não foram adequadamente respondidas ou sequer respondidas”, disse o deputado Joe Barton, que tinha feito o questionamento ao Google. “Quando uma nova tecnologia que pode mudar as normas sociais é introduzida, é importante que os direitos das pessoas sejam protegidos”, disse. Comissários no Canadá, Austrália, Nova Zelândia, México, Suíça e Israel também enviaram questionamentos à empresa.

“A tecnologia que você é capaz de vestir impõe um novo padrão de comportamento social”, diz Alexandre Pacheco, pesquisador do grupo de ensino e pesquisa em inovação da FGV-SP. Para ele, é preciso primeiro observar como os vestíveis vão influenciar os hábitos sociais; depois, avaliar se a reação – como a proibição em certos locais ou situações – é suficiente para a proteção do usuário. “Um ótimo começo é pensarmos num regime jurídico de proteção de dados pessoais que podem estar inseridas em fotos ou vídeos. Hoje consideramos apenas informações que circulam na internet”, afirma.

“É plenamente válido que cinemas ou restaurantes comecem a adotar regras de uso próprias; que cada entidade dentro da sua esfera de regulação consiga resolver os problemas que o Glass poderia trazer para aquela atividade”, diz Dennys Antonialli, coordenador do Núcleo de Direito, Internet e Sociedade da USP.

Medicina. Enquanto o Glass não chega às lojas, alguns profissionais fazem uso do produto à sua maneira. É o caso de Rafael Grossmann, cirurgião do Eastern Maine Medical Center, nos EUA. Entusiasta de tecnologia, o médico transmitiu uma cirurgia gástrica ao vivo com o Glass. Ele teve autorização do paciente, cujo rosto não foi mostrado.

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“O Glass é uma ferramenta que pode mudar radicalmente a maneira que lidamos com a saúde. Pode ajudar a cuidar de pacientes de uma forma melhor e mais rápida”, disse ele, que usa a tecnologia para auxiliar médicos a distância e fazer monitoramento cirúrgico.

Para Grossmann, as preocupações sobre a privacidade não devem ofuscar o potencial do produto. “Quando comecei na telemedicina, não havia nada além do Skype. Em seis meses, a indústria produziu três programas para ambientes médicos, atendendo aos requisitos de privacidade. Acredito que a mesma coisa acontecerá com o Glass”, prevê.

—-Leia mais:Eletrônicos vestíveis já são realidadeAvaliação: Nada mais escapa aos olhos – e às lentes – com o Google GlassEntrevista: ‘A maioria dos produtos ainda não é usável‘ • Link no papel – 5/8/2013

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