Os embalos da notícia e da diversão na internet

Interatividade atrai público, mas levanta debate sobre os limites do jornalismo online

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Por Redação Link
Atualização:

Leslie KaufmanThe New York Times

 

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NOVA YORK – Qual dos destaques interativos a seguir resultou em tráfego recorde para seus respectivos sites de notícias nos últimos meses:

a) “Quanto tempo você já gastou no Facebook?”, para a revista Time;b) “O teste do dialeto interativo”, para o New York Times;c) “O gerador Adele Dazeem: ‘Travoltifique’ seu nome”; que apareceu na Slate; ou d) todas as alternativas?

Parabéns se você respondeu a última opção.

Publicações estão mudando seus formatos na era digital para se conectar com seus leitores, com testes e jogos se tornando alternativas populares e irresistíveis para o público.

O teste do Facebook ajudou a Time a conseguir em janeiro o maior dia de tráfego de sua história, totalizando 3,8 milhões de visitantes únicos. O teste do dialeto, que apareceu em dezembro, foi o artigo mais visto e compartilhado por e-mail no ano passado para o The New York Times. E o gerador de nomes Adele Dazeem, que a Slate publicou depois que o ator John Travolta se atrapalhou ao apresentar a cantora Idina Menzel na cerimônia do Oscar e a chamou de Adele Dazeem, foi a artigo mais visto nos 18 anos de existência da publicação.

A matéria, que permite aos leitores descobrir de que forma – errada – John Travolta pode pronunciar seu nome, tinha sido vista por 9,5 milhões de usuários únicos até a tarde de quarta-feira, e continuava a receber cerca de 100 mil pessoas por hora.

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Inicialmente, o editor da Slate, David Plotz, não tinha certeza se esta novidade era uma coisa totalmente boa: “A definição de ambivalente: o gerador de nomes John Travolta é a matéria mais popular na história da Slate”, ele postou no Twitter. Depois, em entrevista por telefone, ele disse que “confuso” era uma maneira melhor de descrever o que sentia.

Gostem ou não, empresas jornalísticas nestes tempos difíceis estão dispostas a se aproveitar de uma estratégia que permite que cobrem mais por publicidade – as tabelas se baseiam em visitantes mensais aos sites –, além de atrair novos leitores.

“É a ‘gamificação’ do conteúdo”, diz Joshua Benton, diretor do Nieman Journalism Lab, em Harvard. “Pegue a mesma dinâmica que faz dos jogos e do compartilhamento social algo viciante e use-a de uma maneira que conecta com o conteúdo.”

História Jogos são parte da imprensa. O New York Times traz palavras cruzadas desde 1942, enquanto outros jornais oferecem quadrinhos, jogos com palavras e acrósticos. Mas a era digital introduziu a interatividade, que torna o ato de jogar especialmente atraente. Se usuários podem colocar seu próprio nome e informações e produzir uma resposta divertida, isso geralmente os leva a compartilhá-la com outros através das redes sociais, contribuindo para a tão desejada viralidade.

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Enquanto tais divertimentos não são novos – a Slate, por exemplo, já publicou um gerador de nome Carlos Danger, referência ao suposto pseudônimo usado pelo ex-congressista Anthony Weiner – a tendência em direção à interatividade só faz acelerar. A revista Time contratou seu primeiro editor de gráficos interativos digitais em agosto passado. O BuzzFeed, o crescente site de notícias “virais”, instalou um molde de testes em seu sistema em 2012.

O problema para as organizações de mídia é onde, se é que é possível, estabelecer o limite entre conteúdo divertido e a missão de reportar notícias. Muitas publicações digitais têm se apoiado em conteúdo com potencial de compartilhamento, mas de valor noticioso dúbio – como, por exemplo, testes para determinar com qual personagem da série de TV Downton Abbey o leitor mais se parece.

Ainda assim, existem maneiras sofisticadas de usar os jogos interativos, diz Ian Bogost, coautor de Newsgames: Journalism at play (Jogos de notícias: jornalismo na brincadeira, em tradução livre, inédito no Brasil). “O que é realmente interessante em relação aos jogos é que eles podem retratar como as coisas funcionam, assim como questões sistêmicas que permeiam as matérias, que podemos ver de outras maneiras.”

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Stephen Engelberg, editor-chefe do ProPublica, um site de notícias investigativas sem fins lucrativos, disse que investiu em conteúdo interativo com um viés de serviço público, e mesmo assim teve ótimos resultados de tráfego. Seu aplicativo “Dollars for Docs” permite que usuários descubram se seu médico levou dinheiro da indústria farmacêutica. A criação foi vista 7 milhões de vezes desde que foi ao ar em 2010.

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“O objetivo do conteúdo interativo não é realmente gerar tráfego”, diz Steve Duenes, editor-adjunto de visualização do New York Times. “O julgamento é o mesmo que usamos em artigos e vídeos: é notícia, é interessante? Não é sempre totalmente sério, mas é sempre inteligente.”

A chefe de redação da Time, Nancy Gibbs, que tem reconfigurado sua publicação de uma revista semanal para uma operação digital de notícias que funciona 24 horas por dia, disse que uma de suas mais importantes contratações foi o editor de infografia interativa. Ela diz, porém, que existe uma fronteira clara entre o que eles fazem e os testes que são iscas descaradas de cliques. “O que é tão importante sobre o que fazemos é que se baseia em pesquisa de verdade”, comentou. “Não são testes aleatórios e coisas que as pessoas inventam.”

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