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Opinião|Os grupos de WhatsApp construíram Bolsonaro e agora podem destruí-lo

Se a turma do gabinete do ódio entende mesmo de internet, há neste momento uma sirene vermelha gritando alto no terceiro andar do Planalto

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WhatsApp foi palco da disseminação de notícias falsas durante as eleições de 2018 Foto: Jon Nazca/Reuters

As pesquisas eleitorais mostram que pela primeira vez em muitos meses algo mudou. Há um novo terceiro lugar na corrida, o ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro. Ele ainda está distante dos bem mais de 20% do segundo colocado, o presidente Jair Bolsonaro, mas o jogo já é outro. Foi colocar seu nome na disputa que Moro deu um salto. Não foi assim com os outros postulantes à terceira via. Ciro mantém o tamanho que tinha em 2018.

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Os outros candidatos dão entrevistas, fazem discursos, participam de debates, e mal encostam nos 5%. Não sabemos se Moro se manterá nesta rota. Mas se a turma do gabinete do ódio entende mesmo de internet, há neste momento uma sirene vermelha gritando alto no terceiro andar do Planalto. É que grupo de Zap não tem dono. O que o bolsonarismo construiu pode vir a destruí-lo.

Ainda não são muitos que compreendem a maneira como Bolsonaro usou o WhatsApp para se eleger. Lentamente, mas com propósito, desde 2016 quem trabalha para o presidente foi montando grupos de Zap aqui, entrando em grupos já montados ali, e os transformando em veículos de comunicação direta.

O bolsonarismo tem equipes que criam vídeos, memes, áudios, tudo sempre reagindo aos acontecimentos do dia. Os profissionais irrigam com o conteúdo do dia inúmeros grupos com a certeza de que vai ser redistribuído. O reflexo que tantos têm de encaminhar o que recebem é seu trunfo. É uma rede pronta para atingir eleitores que de alguma forma simpatizam com ou se posicionam na direita brasileira.

Mas uma rede é, por natureza, descentralizada. Pode-se entrar nela por qualquer porta. Cada nó desta rede é um grupo, alguns maiores, outros menores, e os agentes que fazem a distribuição do conteúdo são as próprias pessoas que estão lá. A maioria não é profissional. A maioria nem compreende que faz parte de uma poderosa estrutura.

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Moro é a encarnação do espírito de higienismo político que um dia Carlos Lacerda representou, com muitas pitadas do tenentismo conservador do brigadeiro Eduardo Gomes. Ele representa um jeito de pensar política muito antigo na República brasileira. Moro é o que o eleitor queria quando votou Bolsonaro.

A dúvida é quanto do eleitorado ainda quer isso. Mas o bolsonarismo já fez o trabalho de organizar este eleitorado. Esta mesma rede pode ser levada a apoiar Moro. De forma espontânea. Ou de forma trabalhada. Basta entrar nos grupos e começar a irrigar. Se a mensagem der liga, chega a dezenas de milhões. Afinal, grupo de Zap não tem dono.

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