Os perigos do celular para pedestres

Risco de acidentes têm aumentado com as mensagens de texto; aplicativos ajudam a manter a atenção na rua

PUBLICIDADE

Por Agências
Atualização:

Todd Atwood diz que não se preocupa com acidentes ao andar na rua usando seu iPhone. Mas ele já presenciou o que isso pode causar. “Eu vi uma pessoa batendo de cara em um poste”, relembra o norte-americano, de 32 anos, morador da Califórnia. “Ela não se machucou, só se assustou. Foi engraçado, mas poderia ter sido um acidente mais sério.”

PUBLICIDADE

Usar um celular ao dirigir é proibido em diversos Estados norte-americanos e em vários países, mas especialistas dizem que os pedestres também estão correndo risco de acidentes ao atravessar a rua sem olhar e até mesmo de tropeçar em um buraco de uma obra ao bater papo ou digitar no telefone enquanto caminham.

Para ajudar, empresas de tecnologia estão criando soluções que fazem de tudo, desde tornar a tela do telefone transparente até transformar comandos de voz em texto.

Ainda é uma dúvida se a tecnologia vai previnir machucados, mas elas estão sendo bem vistas como um passo nesta direção.  “Eu não acredito que vamos impedir que as pessoas batam em objetos na rua, mas queremos ajudar que elas prestem mais atenção ao andar”, disse Travis Bogard, diretor executivo de produtos da empresa Aliph, de São Francisco, que faz fones de ouvido Bluetooth.

O fone Jawbone, da Aliph, incorpora a tecnologia de reconhecimento de voz que elimina a necessidade de olhar para o teclado para mandar e-mails ou mensagens de texto. Também permite discar para os contatos gravados pela voz, sem usar as mãos.

Outros programas usam a câmera do telefone para exibir a imagem capturada da rua no fundo de tela, assim os usuários podem ver o que está na frente deles enquanto digitam uma mensagem. Os aplicativos Text Vision, Type ‘n Walk e Email ‘n Walk são alguns deles.

 

“Ver através da tela poderia, sim, solucionar em parte o problema”, diz Clifford Nass, um professor de comunicações de Stanford e um dos autores de um estudo sobre multitarefa. “Mas ainda há um segundo problema, que tem a ver com a atenção do cérebro.”

Publicidade

O mesmo vale para a tecnologia de reconhecimento de voz, afirma Nass. “Pode ajudar um pouco, mas o problema fundamental é que temos que conviver com cérebros que não dão conta de acompanhar tudo o que estamos fazendo, tudo ao mesmo tempo”, diz.

Dois anos atrás, a associação de médicos que atendem casos de emergências dos Estados Unidos alertou para os perigos de digitar mensagens de texto enquanto caminhar, dirigir, andar de bicicleta ou de patins, baseado na experiência dos próprios médicps;

Uma pesquisa da Universidade de Ohio descobriu que, nos últimos anos, o número de casos de emergência envolvendo acidentes de pedestres que estavam usando o celular dobrou a cada ano. O estudo mostrou que em 2008 mais de mil pedestres foram atendidos com lesões causadas por bater em postes enquanto escreviam mensagens ou torceram o tornozelo depois de tropeçar enquando falavam ao telefone.

Jack Nasar, professor de planejamento urbano, que supervisionou o estudo feito por seu estudante de graduação, Derek Troyer, disse que muitos dos acidentes nem são reportados porque as pessoas não admitem como se machucaram ou sofrem acidentes que não precisam de um atendimento hospitalar.

PUBLICIDADE

Peter Loeb, um economista da Universidade Rutgers que estudou o efeito dos celulares em fatalidades em pedestres, disse que os telefones podem até ajudar, porque servem para discar para ambulâncias. Mas o estudo também concluiu que uma vez que quase todas as pessoas têm um celular, esse benefício desaparece.

“Quanto mais pessoas usam celulares, o efeito de distração é esmagador”, disse.

O problema fica ainda maior por causa das mensagens de texto, cujo uso cresceu exponencialmente nos Estados Unidos nos últimos anos. A associação da indústria de celular CTIA afirma que o número de mensagens enviadas cresceu de 32,6 bilhões nos primeiros seis meses de 2005 para 740 bilhões nos primeiros seis meses de 2009.

Publicidade

Pelo menos dois Estados — Nova York e Illinois — já consideraram criar leis para limitar o uso de eletrônicos por pedestres, mas nenhuma regulação foi aprovada.

(ASSOCIATED PRESS)

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.