PUBLICIDADE

EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Por dentro da rede

Opinião|Os sobrenomes

Antes da criação da ICANN, já existia forte pressão para a criação de nomes genéricos

Atualização:

Quinta-feira passada acabou a 58ª reunião da ICANN, em Copenhague, Dinamarca. ICANN é a corporação que faz a atribuição de nomes e números na internet. Quem precisa de um nome para seu sítio na rede acaba por usar o serviço ancorado na ICANN. O mesmo para quem precisa de números do protocolo internet, na versão 4 (IPv4) já praticamente esgotada, ou na versão 6 (IPv6) base da tal “internet das coisas”. Todo dispositivo que interage na rede precisa de um número, esquisito e grande, difícil de memorizar.

PUBLICIDADE

Por isso, em 1987, criou-se uma solução simples e natural que permite identificar os equipamentos por um nome. Temos muito mais facilidade, por exemplo, em lembrar de “registro.br” do que de “200.160.2.3”.

Essa ferramenta para tradução de nomes para números, o DNS (Sistema de Nomes de Domínio), deveria prever um crescimento vertiginoso da rede e, portanto, deveria ser hierárquica e distribuída. No caso de “*.*.br”, o sobrenome “br” fica com os outros TLD (domínios de nível mais alto) na raiz, de onde aponta para algum endereço do nic.br (200.160.4.7). O Nic.br que é quem conhece e mantém o conteúdo da “família br”. Antes da criação da ICANN, em 1998, quem cuidava da raíz era um grupo de pesquisadores liderados por Jon Postel, que faleceu em outubro de 1998, poucos dias após a entrada em cena da ICANN.

Na raiz havia sobrenomes norte-americanos (.com, .gov, .mil, .edu etc) e sobrenomes para os países e territórios do mundo (.br para Brasil, .de para a Alemanha, .aq para a Antártida e mais duas centenas). Tudo parecia resolvido, mas o mundo gira e o serviço de traduzir nomes para números, que era grátis, passou a ser cobrado. 

O negócio fez com que o .com, .net e .org expandissem suas fronteiras: tornaram-se “genéricos”: gTLD e, claro, surgiram candidatos a entrar no mercado. Já os sobrenomes de países e territórios, predefinidos por uma tabela internacional – ISO-3166 –, passaram a ser conhecidos como “ccTLD”, onde esse “cc” significa “country code”, código de país, e eram historicamente operados dentro de universidade ou instituições sem finalidades lucrativas.

Publicidade

O início da exaustão de “bons nomes” sob os três genéricos, aliada ao apelo que a nova fonte receita trazia, trouxe, antes mesmo da criação da ICANN, forte pressão para a criação de nomes mais genéricos que pudessem ser ofertados no mercado. Hoje os sobrenomes genéricos passam de mil, competindo entre si e, claro, também com os ccTLD. 

Enquanto os ccTLD são, em geral, mais restritos e seguros, alguns novos genéricos são agressivos e servem aos que querem entrar para o ramo do “comércio de nomes”. Acesse ftp.isc.org/www/survey/reports/, uma varredura que é feita semestralmente desde 1995, e as diferenças aparecerão.

Lá vemos que o .br, com seus 3,8 milhões de nomes, reúne mais de 45 milhões de equipamentos. Só perdemos para .net, .com, .jp e .de. No outro extremo, o .xyz, um genérico recente, que anuncia ter cerca de 6 milhões de nomes, abriga menos de 2 mil gatos pingados. Ou seja, é 30 mil vezes menos “denso” que o .br. Alguém por aí recebeu correio eletrônico com origem em .xyz? Fausto disse que “o nome revela a essência”: o “br” forma uma grande e saudável família.

Opinião por Demi Getschko
Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.