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Pena Schmidt: 'O streaming está sendo questionado como negócio'

Para veterano da indústria musical brasileira, empresas como Spotify ainda precisam provar que são viáveis financeiramente

Por Camilo Rocha
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LOGIN | Pena Schmidt, produtor musical

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O maior serviço de streaming musical do mundo, o Spotify, acaba de chegar ao País. Essa chegada altera o cenário brasileiro? Por quê? Spotify é uma empresa moderna, evoluida, entende de internet e está com um bom impulso em sua chegada oficial ao Brasil, mas não será uma disruptura de nada, apenas um pouco mais do mesmo que já oferecem outros serviços como o Rdio e Terra/Napster. Se o impulso vai fazer com que o Spotify tome o mercado da concorrencia, isso ainda precisamos ver acontecer. Em breve a concorrencia vai se acirrar com a chegada dos concorrentes internacionais, o Play da Google e o Beats Music, agora dentro da Apple. O cenário brasileiro não faz diferença nesta competição, mesmo.

As gravadoras tendem a ver serviços como Spotify como a salvação da indústria por oferecerem um modelo legal que acreditam estancar a perda com “pirataria”. Será que é isso mesmo? Rá, a indústria fonográfica e sua autoflagelação, quem aguenta? O streaming está sendo questionado como negócio, já que não existe nenhuma empresa que seja lucrativa, apesar dos milhões de assinantes. O custo maior são as licenças pagas aos detentores dos direitos. A industria não para de colocar mais e mais demanda$ pelo uso de seu repertório – transformando em galinha dos ovos de ouro um catálogo que se não fosse isso estaria se extinguindo comercialmente. A informação que circula é que o streaming na verdade está tirando vendas dos downloads e este é um dos motivos que fez a Apple pagar 3,2 bi na Beats, fabricante de fones, mas também o serviço de streaming que cresceu mais rápidamente, o Beats Music. A Apple se defende da perda progressiva de valor do iTunes e traz para dentro de casa as cabeças da Beats, Dr.Dre e Jimmi Iovine, hitman do disco que ajudou a conceituar o iTunes. Vem ai iTunes Streaming e será amarrado ao hardware, sem dúvida. A pirataria? Está estabilizada como o serviço com mais usuario.

Esse modelo de negócios ainda precisa provar que é sustentável, certo? Até agora tem sido difícil saber porque existe pouca informação sobre receita e ganhos das empresas da área. O que se sabe é que ainda faltam muitos milhões de assinantes para que as empresas possam dizer que passaram do ponto do investimento e a taxa de crescimento diminui porque os novos assinantes não são mais os tarados por música, os que assinaram logo no inicio. As queixas dos artistas se multiplicam, são muito mal pagos pelos detentores dos direitos que ficam com a parte do leão. Muitos artistas estão lançando seus discos e impedindo as músicas de irem para o streaming para não tirarem as vendas iniciais de downloads. Sustentavel, ainda não mesmo.

Você acha que serviços como o Spotify são benéficos para os artistas? Ou depende do caso? Alguns artistas podem surfar a onda, sempre. Uma banda colocou no Spotify um disco com 12 faixas, como um CD normal, porem as faixas eram de minutos de silencio, todo o disco. A banda pedia que seus fãs dormissem ouvindo seu disco de silencios, para que a contagem de faixas ouvidas se transformasse em dinheiro que iria financiar a banda. O Spotify descobriu a tramoia depois de pagar 30 mil dolares para a banda. A maioria dos artistas se ve colocada num oceano horizontal de irrelevancia, onde todos são iguais. Não existem mecanismos de descoberta de músicas que realmente seja consistentemente eficaz, costumam cansar. Transformar em rede social – mostrar a música para os amigos, fazer listas coletivamente, são apostas que ainda não se mostraram capazes de gerar a avalanche, que transformem um novo artista num novo astro. O que se sabe é que o mecnismo centralizador – toca quem toca, vende quem vende – comanda as sugestões que o site faz, cheio de estrelas comerciais na primeira página, e estes são o um por cento do um por cento.

Desde o surgimento do iPod e do iTunes, as principais soluções e modelos para viabilizar o consumo de música digital de maneira legal tem partido de empresas de tecnologia, e não da própria indústria fonográfica. Por que vc acredita que isso acontece? Porque é isso, tecnologia pura que destroi o sistema de distribuição, as lojas de tijolo e os pedaços de plastico que faziam a festa da industria phonografica, que vivia de vender objetos fabricados em condições de privilégio e monopolio do formato, ja faziam algumas décadas. A velha industria agora manda e lucra porque se mudou para o reino virtual da venda de licenças, cada vez mais imprescindiveis seja para qual for a nova tecnologia que transporte a música.

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