'Perdemos dinheiro com o PS4 a R$ 4 mil'

Diretor da Sony na América Latina, Mark Stanley fala ao Link sobre o preço do videogame no Brasil, produção local e impostos

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Por Bruno Capelas
Atualização:

Diretor da Sony na América Latina, Mark Stanley fala ao Link sobre o preço do videogame no Brasil, produção local e impostos

 

SÃO PAULO – “Nós estamos perdendo dinheiro lançando o PlayStation 4 no Brasil”. É o que disse o diretor da Sony Computer Entertainment para a América Latina, Mark Stanley, em entrevista ao Link. De acordo com ele, a empresa preferiu lançar o aparelho por aqui em sinal de respeito ao mercado brasileiro, considerado pela própria companhia um dos mais importantes do mundo.

 

A empresa parece mesmo focada em produzir o videogame localmente o mais rápido o possível, como se pode ver logo a seguir na entrevista que Stanley e o gerente geral para PlayStation no Brasil, Anderson Gracias deram ao Link, comentando a alta carga tributária praticada no País e as perspectivas da empresa face a concorrência do Xbox One e do mercado cinza.

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Além da entrevista, a Sony também disponibilizou para o Link a planilha (veja acima) no qual destrincha os impostos e as margens de lucro inseridas para que o PlayStation 4, que custa US$ 399 nos EUA, chegue ao Brasil por R$ 4 mil. Ao comentar a planilha, o professor Fernando Zilveti, da Escola de Administração da Fundação Getúlio Vargas (FGV), disse que “ao analisá-la, é possível perceber uma alta carga tributária no País, mas também há margem de lucro praticada pela empresa, e é difícil opinar sobre ela, porque isso faz parte do comércio. Seria muito simples uma empresa ter o esporte de vender um produto no Brasil sem margem de lucro, mas o mundo não é bem assim”.

Entretanto, o próprio professor afirma que há algumas distorções no cálculo divulgado pela Sony. “O cálculo foi feito com os impostos calculados em cima da margem de lucro da distribuição, e os impostos são demonstrados na tabela de maneira a unir o pior dos mundos – nem todos os tributos são cobrados dessa maneira, o que faz a margem de lucro ser ainda maior. Além disso, há contas sobre distribuição e importação que não são bem explicadas, e é natural que não sejam, porque revelariam detalhes de negócios da companhia”. Zilveti disponibilizou ao Link uma planilha feita por seu colega Nelson Beltrame, da Fundação Institut0 de Administração, mostrando outra fórmula de cálculo para o PlayStation 4, inserindo impostos e margem de lucro. A análise segue logo abaixo (clique para ampliar). Na sequência, a entrevista com Stanley e Gracias.

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Vocês estão satisfeitos com o preço de R$ 4 mil?Mark Stanley: Não. É um preço horrível, ninguém se beneficia de um preço tão alto. Não ajuda a Sony e não ajuda o consumidor, o que é uma pena, porque é um produto do qual nós nos orgulhamos muito e que chega ao mercado com um preço inacessível para as massas.

Vocês preferiram lançar o PlayStation agora com esse preço do que esperar por um momento em que ele poderia chegar ao mercado brasileiro por uma quantia menor?Mark Stanley: Nós discutimos muito sobre o Brasil, é um mercado importante para nós, e achamos que vocês deveriam estar no lançamento global. Nosso foco sempre foi em ter um bom preço, e é o que estamos fazendo agora: nossos esforços estão todos reunidos para fazer a produção local do PlayStation 4 acontecer. Nossa meta é reduzir o preço do aparelho pela metade ao produzi-lo em Manaus. Além disso, estamos tendo muitas conversas com o governo para que os impostos dessa área sejam reduzidos no setor de videogames. Como uma companhia séria, nós temos de respeitar os impostos e as leis brasileiras, e mesmo com todo o subsídio que nós colocamos no produto, ainda assim não temos um preço competitivo.Anderson Gracias: Se nós não tivéssemos lançado o PS4 junto com o mundo, estaríamos sendo criticados por acreditar que o Brasil não é um mercado importante, e ele é. Sabemos que a demanda vai ser baixa por esse preço, embora não possamos compartilhar quantas unidades estimamos que serão vendidas.

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Em uma reportagem na última semana, o Estado publicou que sairia mais barato pegar um avião até os Estados Unidos e comprar o PS4 no exterior do que comprar o videogame por aqui. O que vocês têm a dizer sobre isso?Mark Stanley: Nós somos uma marca muito sortuda de ter fãs que pegariam um avião para Miami só para comprar o nosso produto, mas esse é o tipo de coisa que nos deixa muito tristes, porque investimos muito no Brasil, como fizemos ao abrir uma fábrica só para a produção do PlayStation 3, mas infelizmente, nem sempre esses investimentos parecem dar resultado. Vamos buscar a produção local assim que for possível, embora não tenhamos ainda uma previsão para que isso aconteça.

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Vocês têm medo que o consumidor brasileiro busque o PS4 no “mercado cinza”?Mark Stanley: O mercado cinza é um fenômeno interessante, porque ele existirá aconteça o que acontecer. Não podemos lutar contra isso, infelizmente, porque vivemos numa economia global. O que nós queremos é que os brasileiros possam sair às ruas e comprar o PlayStation 4 em sua loja preferida por um preço acessível em breve. Não sabemos ainda quais serão os nossos custos, porque ainda estamos começando a fazer o PS4, mas é a nossa meta.

Por falar em metas, durante a E3 o CEO da Sony Computer Entertainment of America, Jack Tretton, disse em entrevista à uma publicação brasileira que a meta da empresa era oferecer o PS4 no Brasil pelo equivalente a 399 dólares. O que aconteceu?Anderson Gracias: Nós não dissemos isso. O que nós dissemos é que nós queríamos ter o PlayStation 4 no Brasil com um preço próximo ao dos EUA, mas sabia que tínhamos que nos ver com a carga tributária. Acho que esse foi um mal-entendido.

Uma coisa que me deixou bastante confuso ao analisar a planilha de vocês é entender porque as margens de lucro foram calculadas antes da inclusão dos impostos. Por que isso foi feito?Mark Stanley: Calculamos a margem de lucro nesse ponto para poder negociar melhor com os varejistas e os importadores. A margem de lucro do varejo, por exemplo, é de 16%. Há algumas margens que nós somos obrigados a respeitar. Alguns desses custos são maiores que o próprio custo de fabricação do videogame. Se somarmos tudo, as margens e os impostos, nós chegaremos a R$ 4 mil.

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Um rumor forte no mercado é o de que alguns varejistas no Brasil optarão por não vender o PlayStation 4, ficando apenas com seu concorrente, o Xbox One. O que a Sony pensa sobre isso?Mark Stanley: Não temos muito a dizer sobre isso: os varejistas escolhem os produtos que eles vão vender, mas nós não ouvimos nada sobre isso, e sabemos que teremos poucas vendas. Nós mesmos não estamos interessados em vender o PlayStation 4 a esse preço.

Vocês terão lucro vendendo o PlayStation 4 a R$ 4 mil?Mark Stanley: Na verdade, nós estamos perdendo dinheiro para cada unidade que nós vendemos. Não posso dizer quanto nós perdemos por unidade, porque isso seria revelar o custo de fabricação do PlayStation 4, mas repito que nós reduzimos R$ 258 reais do preço que deveria ser o final para conseguirmos colocar o mercado brasileiro no lançamento global.

 Foto: Estadão

Muitos jogadores brasileiros questionaram o preço do PlayStation 4 no Brasil usando o argumento de que o Xbox One custa US 499 no exterior, mas chega ao País por R$ 2,2 mil, e a Microsoft paga os mesmos impostos que a Sony está pagando. Como eles conseguiram chegar a esse valor e vocês não?Anderson Gracias: Não cabe a nós comentar a estratégia de mercado da concorrência. O que posso dizer é que existem duas maneiras de ter um produto competitivo. Ou você subsidia o seu produto de maneira massiva, com alto investimento para que o preço sugerido ao consumidor seja competitivo, ou você produz localmente. Não sei qual a estratégia deles, mas claramente para nós só existem esses dois caminhos. A nossa estratégia é produzir localmente, e nós estamos atrás disso.

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Vocês conseguem se enxergar competitivos em relação a concorrência hoje?Anderson Gracias: Nesse momento, não. Estamos buscando a produção local.

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