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Periscope se populariza com ?janelas? da vida alheia e eventos em tempo real

App que transmite streaming de vídeo foi comprado pelo Twitter antes mesmo de ser lançado ao público; com conteúdo que vai de banalidades do cotidiano a eventos noticiosos, ferramenta já enfrenta problemas por transmissão de conteúdo ilegal

Por Camilo Rocha
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“Não nos consideramos um negócio de streaming ao vivo, mas sim um negócio de teletransporte.” A frase não foi dita por um fã de Jornada nas Estrelas brincalhão, mas por Kayvon Beykpour, CEO e fundador de um dos aplicativos mais comentados do ano, o Periscope.

Embora seja brincadeira, a afirmação tem lá seu sentido: o aplicativo de transmissão de vídeos em tempo real funciona como uma agregador de “janelas” para diferentes locais e realidades: uma navegada pelo feed do aplicativo revela vídeos enviados dos Estados Unidos, Reino Unido, Emirados Árabes e Turquia, entre outros países.

“São quatro da manhã e o Periscope é a coisa mais legal que existe. Estive na Inglaterra, Austrália e Cingapura sem sair da cama”, tuitou uma usuária na semana passada.

“Existem muitas coisas boas acontecendo no mundo nesse momento para as pessoas acompanharem”, disse Beykpour por telefone ao Estado. “Acreditamos que o live streaming é boa mecânica para cobrir isso.”

O aplicativo aposta nessa ideia de que o usuário pode “visitar” esses locais sem sair do celular, podendo ainda interagir com o que aparece na tela, através de comentários e “corações”, o equivalente do Periscope do “curtir” do Facebook.

É claro que a plataforma não é só para olhar, mas também para se mostrar. Numa era em que nos projetamos para o mundo de diversas formas possíveis, o sucesso do Periscope parece o próximo passo lógico. Depois do perfil em rede social cuidadosamente construído, das opiniões formadas sobre quase tudo, da febre da selfie, chegou a vez da transmissão pessoal em vídeo ao vivo. Fundado em 2014, o Periscope nem teve tempo de chegar ao público e já foi garfado pelo Twitter por cerca de US$ 100 milhões em março último. Investidores acreditam que o aplicativo desempenhará um papel importante no futuro da plataforma social do Twitter.

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Em pouco tempo, celebridades, jornalistas, viajantes e pessoas no seu dia a dia estavam fazendo do aplicativo um dos sucessos de 2015. O potencial para jornalismo-cidadão é enorme, como provou seu uso nos recentes protestos de Baltimore, EUA.Em geral, porém, as cenas são prosaicas: Claudia Leitte fazendo palhaçadas em uma mesa de restaurante; um turista filmando seu passeio em Roma; um paulistano tentando sair da cama no domingo.

Segundo a empresa, a ferramenta chegou a 1 milhão de usuários nos primeiros dez dias de funcionamento. Na semana passada, em uma palestra, Beykpour disse que os usuários da ferramenta haviam assistido a 380 anos de conteúdo desde a estreia, cerca de dez anos de conteúdo diários. Com sua chegada ao sistema Android (ele só estava disponível para iOS), o Periscope tem tudo para ampliar esse alcance.

Mas qual o motivo de tanta atenção em cima do aplicativo, sendo que já existiam serviços que faziam o que ele faz? Para Beykpour, a melhoria das redes de celular e dos aparelhos móveis propiciaram as condições para que as transmissões em vídeo pudessem ocorrer sem percalços. “Hoje, há muito menos atraso na transmissão. Há alguns anos atrás, o Periscope não teria sido possível. Esses serviços web de antes não foram construídos para a era do mobile e sim para um conjunto de equipamentos que incluía câmera, um laptop e um tripé. ”

CONTROVÉRSIA

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Como costuma acontecer, muitos na rede rapidamente tratam de utilizar uma novidade tecnológica para práticas não aprovadas pelos criadores ou pela lei. Em maio, a auto-proclamada “luta do século” entre os pugilistas Floyd Mayweather Jr. e Manny Pacquiao, disponível apenas no pay-per-view nos Estados Unidos, ganhou milhares de transmissões paralelas através de usuários que filmavam as telas de suas TVs com o celular, possibilitando que um público não-pagante do conteúdo pudesse assisti-lo.

Empresários do boxe e da TV não gostaram, ao contrário do presidente do Twitter, Dick Costolo, que tuitou que o Periscope era “o vencedor da noite”. No dia seguinte, a empresa criadora do app condenou em nota o uso pirata de seu produto, que teria abrigado pelo menos 66 transmissões da luta.

Beykpour acredita que houve exagero na repercussão deste caso e de outro bem noticiado, a transmissão ilegal da última temporada de Game of Thrones. “Trata-se de uma pequena fração do que existe no Periscope. Temos um time de moderadores que trabalha 24 horas por dia monitorando as transmissões. Temos um canal exclusivo para proprietários de direitos autorais registrarem reclamações caso seu trabalho esteja sendo transmitido sem permissão”, diz. “Usuários que infringirem nossas regras quanto a isso terão suas contas suspensas.”

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ENTREVISTA COM KAVYON BEYKPOUR, CEO DO PERISCOPE

Quando desenvolveram o Periscope, que tipos de usos vocês tinham em mente?

Quando estávamos desenvolvendo o aplicativo, os protestos na praça Taksin, na Turquia, estavam acontecendo. Depois vieram os protestos em Ferguson, nos EUA. Estávamos presenciando eventos em movimento que nos fizeram pensar em uma ferramenta que ajudasse as pessoas a se envolverem melhor com aquele tipo de conteúdo. O Twitter também foi uma inspiração por ser uma ferramenta que ajuda as pessoas a acompanhar em tempo real os acontecimentos. Também pensamos em situações onde alguém da família vai viajar para outro país e quem fica em casa pode acompanhar o que estão fazendo.

Tem havido denúncias de abusos contra mulheres no Periscope. Como lidar com isso?

Gastamos muito tempo pensando nisso. Desde a estreia, vínhamos acrescentando recursos contra o mau uso do aplicativo. Por exemplo, facilitamos o processo de bloqueio de um usuário. Criamos uma opção de transmissão onde apenas pessoas que você segue podem comentar. E também é possível expulsar um usuário de uma transmissão, que receberá então uma mensagem explicando que ele foi colocado para fora com a frase que motivou a expulsão.

Por que gostamos tanto de ver o que os outros estão fazendo?

Acho que os motivos podem ser muitos: às vezes, é porque gostamos da pessoa que está transmitindo, é alguém conhecido, ou uma celebridade que admiramos. Muitas vezes é porque nos importamos com o que está acontecendo, como com os protestos em Baltimore. Mas o Periscope vai muito além de apenas permitir que se veja o que os outros estão fazendo, pois o app convida as pessoas a participar e interagir com o outro lado, através dos comentários. É um momento mágico quando você pergunta uma coisa pra quem está na tela e ela responde. É a primeira vez em que a transmissão ao vivo deixou de ser passiva para se tornar interativa. Isso é teletransporte.

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