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Política; economia e cultura na mesa

Evento abordou o digital como meio de cidadania, terreno de negócios e suporte de leitura

Por Redação Link
Atualização:

Discutir com os leitores temas que já vêm sendo tratado nos cadernos do jornal. Foi essa ideia que norteou os três debates promovidos pelo O Estado de S. Paulo e a Livraria Cultura. O primeiro ciclo dos Encontros Estadão & Cultura tratou de assuntos há muito tratados aqui no Link: a participação cidadã na internet, o empreendedorismo digital e a leitura em plataformas eletrônicas.

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Sobre um dos aspectos da cidadania praticada na web, os dois convidados da mesa de quarta-feira, 12, concordaram: a internet é uma ótima forma de capacitar os cidadãos e organizar as demandas da sociedade para que ela assuma seu papel de governança ao lado do poder público.

Pedro Markun, analista de mídias sociais e um dos criadores do Transparência HackDay (evento que reúne desenvolvedores para criar aplicativos que organizam dados públicos) debateu com Rodrigo Bandeira, idealizador do projeto Cidade Democrática (rede social que cria comunidades em torno de demandas reais), a dificuldade de acesso a dados públicos e as possibilidades de participação ativa dos cidadãos na política brasileira. Para Bandeira, “o que fica é que a gente tem muitas ferramentas para promover uma transformação, que não diz respeito à mídia, mas à mudança no paradigma da participação”.

Na quinta-feira, 13, foi a vez de empreendedores e investidores do ramo digital debaterem sobre as atuais possibilidades de negócios na área, as características necessárias para ser bem sucedido e o papel que a internet assumiu no mercado mundial. Gustavo Morale, CEO da HotWords, empresa brasileira de publicidade online, Aleksandar Mandic, diretor da Mandic e um dos primeiros a criar um provedor de internet no Brasil, Marcelo Romeiro, consultor da Rio Bravo Investimentos, e Romero Rodrigues, criador do site de vendas Buscapé, contaram as histórias de suas carreiras e discutiram as dificuldades de ser um empreendedor no Brasil e as possibilidades que a América Latina oferece, hoje, como mercado consumidor.

Para Morale, falta esse conhecimento para a maioria dos empreendedores. Mandic completa ao dizer que “esse negócio de jogar o empreendedor junto do investidor é saudável, porque geralmente um procura o outro, mas eles não são nativos entre si”.

A mesa de sexta, 14, foi sobre a leitura, principalmente de literatura, em suportes digitais. Flávio Moura, diretor de programação da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) e Samuel Titan, coordenador executivo cultural do Instituto Moreira Salles e professor de literatura da USP, falaram sobre a invasão da indústria do entretenimento no mundo editorial, da possibilidade de criação de novos experimentos literários nas plataformas digitais e do alcance dos e-books.

“Foi importante a gente se concentrar no que o futuro digital pode significar – ou não – para a prática da leitura. Também foi interessante pensar no lugar das editoras e do self publishing, a literatura dos blogs, no futuro”, disse Titan.

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Os Encontros Estadão & Cultura continuarão nos próximos meses – sempre em uma sequência de três ou quatro debates. Em junho, será sobre os temas do caderno .Edu. E quem não pode ir tem a chance de assistir os debates na íntegra no site do Link.

É possível usar a web para fazer política?

Sim – não só é possível como a web está se transformando em uma ferramenta que dá poder aos cidadãos. Pedro Markun e Rodrigo Bandeira criaram projetos que podem ser enquadrados no que se convencionou chamar de webcidadania. A ideia é fazer “as pessoas sacarem o poder de atuação invidual em prol do coletivo”, sintetizou Markun. “Não deve haver separação entre ‘nós’, a sociedade, e ‘eles’, o poder público”, disse Rodrigo Bandeira. “Precisamos encarnar o nosso papel de cidadão”.

A web pode desde uma plataforma para encontrar parceiros que abracem sua causa à um observatório que monitora públicos. O acesso, porém, nem sempre é fácil. “A gente tem uma cultura de segredo. Dá para romper isso?”, questionou o moderador Pedro Doria. Sim: hackeando. “ A informação deixou de ser gerada e apropriada apenas pelo governo”, disse Bandeira. O movimento ainda é inicial e restrito, mas tem potencial. “Só agora começamos a acordar sobre o poder que o cidadão tem sobre a informação”, diz Markun.

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Quais os desafios para os empresários da web?

Apesar da economia aquecida de hoje, acredite: ter um negócio na área de internet no Brasil já foi difícil “Todo dia a empresa corria risco de fechar, não sabia se ia trabalhar no dia seguinte”, disse Romero Rodrigues, criador do Buscapé. “Esposa, empregada… Ninguém acreditava que a ideia podia dar certo”, contou Aleksandar Mandic, que lançou o portal iG em 2001. Mas deu: “No primeiro dia, tivemos 30 mil visitas”.

Para os participantes, hoje o País já tem uma escala de consumidores conectados à internet maior e um cenário mais fácil para novos empreendedores. Para Morale, esses investidores podem se beneficiar do bom momento da economia. Os investidores hoje estão se voltando para a mudança do perfil econômico do consumidor no Brasil e focando em novos negócios que também incluam a classe C. Há uma receita de sucesso? “É muito importante ter um projeto real que leve em conta como a tecnologia vai se desenvolver no futuro”, arrisca Rodrigues.

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Se o suporte mudou, a literatura muda junto?

Os dois participantes do papo mediado pelo editor do Link Alexandre Matias, Flávio Moura e Samuel Titan, concordam que não: a leitura digital prometeu muito e, por enquanto, não cumpriu. Os debatedores do último dia do evento preveem grandes transformações no mercado editorial com a digitalização dos livros proposta pelo projeto Google Books e com a popularização de equipamentos como Kindle e iPad, mas são céticos quanto às promessas de uma “nova literatura” que se aproveitaria do meio eletrônico para se fundir com outras mídias.

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Apesar disso, o diretor de programação da Flip disse que “quem souber manejar o digital, pode tirar possibilidades literárias muito interessantes de lá”, chamando a atenção para a atuação dos programadores. “Podemos ver a ação deles como a de escritores. Eles escrevem em uma linguagem própria e acham beleza naquilo”. Já Titan não acredita na criação de uma nova linguagem literária por causa da tecnologia: “O digital se deu melhor com filmes e artes plásticas”.

Caixa de comentários

“Eu gostei muito do evento por aprofundar questões que envolvem tecnologia. É uma iniciativa muito interessante” Quinaut Alencar, professor

“Além do conteúdo extremamente relevante do evento, me diverti bastante com o senso de humor do Mandic, que diversas vezes foi exposto com comentários inteligentes e pontuais.” Ricardo Carneiro, no blog da agência de marketing digital Webop

“Segundo dia do evento Estadão na Cultura foi muito interessante!  Gostei bastante do assunto do debate: empreendedorismo digital. Acho que vou ser empreendedora” Marjorie Kuyama, pelo Twitter

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“Sim, a web se tornou um ponto forte e interessante de movimentação popular. Mas há fatores que a impedem de ser realmente eficaz, como o baixo número de pessoas com acesso” Daniel Miranda, em comentário no blog do Link, sobre o debate do primeiro dia

“Devemos a literatura como a conhecemos hoje ao advento do formato do livro, que permitiu que os textos circulassem mais facilmente. Agora, um novo meio de circulação abre novas possibilidades de utilização.” Luciana Alvarez, em comentário no site do Link sobre o debate do terceiro dia

“Parabéns a todos, foi excelente!” Luis Minoru Shibata, pelo Twitter, sobre o debate em torno do empreendedorismo digital

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