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Jornalista, escritor e palestrante. Escreve às quintas

Opinião|Por Trump, Brasil se atrasa para futuro

Mesmo que deixe a Casa Branca no ano que vem, derrotado pelo candidato democrata, Trump terá atrasado o aparecimento de tecnologias

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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump Foto: Jim Lo Scalzo/EFE/EPA

Ele é só um homem — mas o desenvolvimento tecnológico do mundo está travado pelo presidente americano Donald Trump. Mesmo que deixe a Casa Branca no ano que vem, derrotado pelo candidato democrata, Trump terá atrasado o aparecimento de algumas tecnologias. E, no caso de alguns países mais frágeis a pressões americanas, este ‘imposto’ Trump será cobrado num atraso de um ou dois anos. No centro da questão está o dilema do 5G, a briga com a Huawei, e a situação que não se resolve.

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Tome-se, por exemplo, o lançamento de carros autônomos.

Neste exato momento, aproveitando-se do fato de que os Jogos Olímpicos ocorrerão em Tóquio em 2020, Nissan e Toyota estão numa corrida para dar mostras de suas tecnologias. O desafio é fazer circular um automóvel de nível 4. Até o nível 3 é incorreto falar em autonomia real. A inteligência artificial nos carros pode até ajudar muito na direção. No limite, permite que o motorista tire as mãos do volante por horas. Mas é preciso estar atento sempre e assumir as rédeas no instante em que for necessário. Em situações complexas ou de baixa visibilidade, o carro pode se desorientar. Nível 4 é outro jogo. Aí, basta se aconchegar no banco traseiro, abrir um livro bacana, o veículo faz o resto.

Este mês, táxis autônomos começaram a circular em Londres. A Hyundai anunciou que até 2024 já estará fabricando carros de nível 4 para venda no varejo. A gigante chinesa Baidu já soltou também pelas ruas, para testes, uma frota de 45 carros. Igualmente nível 4. A Ford acredita que chega neste nível em 2021. Volvo, idem. Em algum ponto dos próximos cinco anos, todas as montadoras relevantes do mundo estarão aptas a oferecer carros que dispensam volante.

Mas, para que tudo funcione de forma redonda, é preciso que as cidades tenham infraestrutura 5G.

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Este mês, a Amazon começou a vender no Brasil suas caixas de som movidas à assistente digital Alexa. Embora, oficialmente, as caixas equivalentes do Google não estejam a venda, as principais da linha podem ser encontradas no Brasil e a Assistente fala português.

Estas caixas são o pé na porta das casas digitais, automatizadas. Quem tiver orçamento para comprar lâmpadas inteligentes, a maquininha que liga o ar-condicionado às assistentes, tomadas e por aí vai, já pode começar a controlar as coisas da casa pela voz. É dar um comando e o sistema funciona.

Ainda estamos no tempo em que o smartphone é o centro da vida digital. Mas a transição para o novo já começou. Este novo é trazer, da tela para o mundo real, os confortos da tecnologia. É o que chamamos internet das coisas ou, na sigla em inglês, IoT. As caixas de som são a entrada, os carros autônomos são um dos principais elementos, mas logo, logo, começarão a surgir os supermercados nos quais entramos, pegamos o que queremos, e saímos sem passar no caixa — porque não é preciso. Ou chamaremos a feira orgânica sobre rodas à porta de nossa casa para escolhermos as alfaces e tomates da semana.

A infraestrutura que permitirá que o digital saia da tela para ganhar o mundo é o 5G. Existem três companhias que produzem as grandes antenas e roteadores necessárias às teles para que montem suas redes. São Huawei, Nokia e Ericsson. Sendo que os produtos europeus são certamente mais caros e, queixam-se muito dos técnicos, inferiores.

Aqui no Brasil, por exemplo, o leilão do 5G está emperrado. Ia ser em março próximo, já corre nos corredores planaltinos que vai ficando para o segundo semestre. Ninguém diz, mas é pressão americana. Porque Trump quer segurar a China — e a Huawei.

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O Brasil é um dos que vai se atrasar a sério para chegar ao futuro.

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