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Presença brasileira em maior evento internacional de startups é recorde

Criada em 2011 por site de tecnologia, conferência em São Francisco reúne celebridades do setor e empresas iniciantes em busca de contatos e investimentos; com Uber e Airbnb, economia compartilhada foi destaque do encontro

Por Ligia Aguilhar
Atualização:
 

Ao escolher um desfecho para a primeira temporada da série de humor Vale do Silício, o diretor Mike Judge não hesitou: escolheu como cenário o TechCrunch Disrupt, principal conferência sobre startups do mundo. O evento faz parte do imaginário de sucesso das empresas iniciantes de tecnologia de todo mundo.

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Em sua oitava edição, a iniciativa criada pelo site de tecnologia TechCrunch repetiu a receita que a consagrou: reuniu novas empresas do mundo inteiro em um galpão em dos piers de São Francisco para apresentaram suas soluções inovadoras – algumas escolhem o evento para estrear no mercado – e disputar o prêmio de melhor e mais promissora startup do momento.

No palco principal, alguns dos principais figurões do mercado de tecnologia que pouco falam com a imprensa ao longo do ano, participam de painéis curtos, em torno de 20 minutos, nos quais são confrontados por jornalistas do TechCrunch a responder questões complexas sobre os pontos fracos dos seus negócios. A preferência é por quem teve mais destaque ao longo do ano, seja pelas conquistas ou pelas polêmicas.

Em meio a tudo isso, investidores e outros empreendedores sobem ao palco para contar suas histórias de sucesso, falar sobre seus interesses e tendências. Para muitos empreendedores estar em São Francisco, ao lado do Vale do Silício, apresentando seus negócios é a chance de conquistar uma oportunidade para sua empresa decolar e alcançar o mercado internacional.

 

Entrevistas. O evento deste ano teve em sua abertura Travis Kalanick, presidente executivo do Uber, uma das empresas mais controversas do último ano por ter seu serviço banido em várias cidades por ser considerado ilegal e concorrência desleal com os táxis.

No palco do TechCrunch Disrupt, Kalanick foi impiedosamente provocado por Michael Arrington, fundador do TechCrunch, que usava meias quadriculadas amarelas, no padrão associado a táxis. O tom da conversa é informal, procurando descontruir os mitos que o Vale do Silício cria. Kalanick, por exemplo, foi chamado por Arrington de Darth Vader da tecnologia, teve seu discurso frequente de revolucionar o mundo colocado em xeque e admitiu, ao final, que seu maior problema hoje é o estresse de gerir um negócio que cresceu tão rápido e é duramente criticado.

Também esteve no palco Brian Chesky, presidente executivo do Airbnb, site de aluguel de quartos que atua no mesmo mercado do Uber e ao lado da empresa ocupa hoje o topo do ranking das startups mais valiosas do mundo. A empresa detalhou seus planos para inserir outros serviços dentro da plataforma, além do aluguel de quarto. A ideia é se transformar em uma empresa completa de turismo, na qual pessoas do mundo inteiro possam vender serviços para turistas, como um passeio pela cidade ou transfer entre o aeroporto e a cidade.

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Já Sean Rad, um dos fundadores do Tinder, aplicativo de paquera que estourou mundialmente, falou não só sobre seu copiado modelo de sucesso mas também da acusação de assédio sexual que fez seus dois melhores amigos e cofundadores da empresa deixarem o negócio este ano.

 

Fila do banheiro. Do lado de fora tudo ocorreu como de costume: empreendedores repetiam a exaustão seu pitch (nome dado a apresentação curta que startups fazem a investidores) a milhares de passantes da área de startups, empresas patrocinadoras ofereciam diferentes tipos de comidas e bebidas para chamar a atenção dos visitantes e a fila do banheiro masculino se desenrolava pelos corredores enquanto o feminino seguia com aparência intocável, lembrança do desequilíbrio de gênero no mundo da tecnologia.

Países como Argentina, Irlanda, Japão e Coreia do Sul levaram delegações inteiras para o evento. E foi nesse espaço que a edição deste ano trouxe uma novidade. Estava ali um pavilhão inteiro de startups brasileiras com o número mais expressivo de empresas de todo o evento. Entre as que se cadastraram voluntariamente para o TechCrunch Disrupt e startups apoiadas pelo Sebrae e pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), havia pelo menos 40 empresas nacionais expondo no TechCrunch Disrupt, um recorde.

“Em 2012 estava colaborando com a elaboração do programa Start-Up Brasil quando resolvi ir ao TechCrunch Disrupt entender o ambiente de São Francisco. Vi empresas participando por conta própria, sem preparo algum”, diz a gestora de projetos da Apex Flávia Egypto. No ano seguinte, Apex se juntou ao Sebrae para tentar articular uma participação mais expressiva do Brasil nesse tipo de eventos. No ano passado organizou empresas para irem ao TechCrunch Disrupt e no início deste ano levou outros negócios ao South By Soutwest (SXSW), megafestival de interatividade, música e cinema em Austin, no Texas.

 

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Ensaio. Para o TechCrunch Disrupt deste ano a Apex e o Sebrae decidiram desenvolver uma nova ação. Treinaram os últimos meses todas as startups selecionadas para saber como vender sua empresa especificamente no TechCrunch Disrupt. No domingo, um dia antes do início do evento, um grupo de startups se reuniu em um escritório em São Francisco para ter a última aula sobre como se portar e fazer um pitch de sucesso no TechCrunch. “Os investidores do Vale do Silício procuram coisas diferentes e a maneira das pessoas se expressarem também ocorre de forma distinta. Treinamos os empreendedores, por exemplo, com uma parte de ‘storytelling’ (contação de histórias), para eles saberem a melhor maneira de vender suas empresas”, diz Flávia.

Bruno Baring, da Retail 21, montou uma maquete de parte de um carrinho de supermercado para chamar a atenção. A empresa vende uma tecnologia para o consumidor registrar e pagar por conta própria sua compra no supermercado, sem precisar passar no caixa.

No apoio do carrinho um tablet conectado a um leitor de código de barras identifica o preço de cada produto de uma compra. Na parte interna, sensores identificam se o peso do produto colocado no carrinho corresponde ao peso do um produto registrado no tablet, para evitar fraudes. O empreendedor diz que o trenamento foi importante para apresentar sua empresa no evento. “Nunca tinha feito um ‘pitch’ em inglês. No treinamento final. mostrei a apresentação de Power Point que tinha montado e levei uma bronca. Coloquei os valores relativos ao produtos em reais, sendo que estou nos EUA”, disse.

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Como os investidores estrangeiros geralmente só colocam dinheiro em empresas que tenham escritório dentro dos EUA, Baring diz que sua expectativa inicial no TechCrunch era obter feedback sobre a viabilidade da sua ideia. “Investidores australianos e dos EUA me disseram que acreditam que o negócio dará retorno”, afirmou.

 

Faça você mesmo. Próximo dali, Rodrigo Silva, um dos cofundadores da fabricante de impressoras 3D Metamáquina, estava em seu estande sem seu aparato tradicional. Em uma mesa no espaço, exibia apenas um notebook com a palavra Tangibl. O empreendedor aproveitou o TechCrunch para fazer um pré-lançamento de um novo negócio da Metamáquina, um site que vai funcionar como marketplace para quem quiser imprimir um produto em impressoras 3D, impressoras de corte a laser e fresa CNC encontrar uma impressora disponível para fazer o serviço.

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A mudança de foco da empresa vem da ideia de que o movimento “faça você mesmo” terá mais força pela execução de projetos do que pela venda de impressoras 3D, um produto que nem todas as pessoas conseguem manipular com sucesso. Depois de receber diversos pedidos para apenas imprimir um projeto em vez de comprar a impressora, os criadores da Metamáquina decidiram criar o novo serviço, previsto para estrear em novembro.

“Vim ao TechCrunch estudar o mercado americano e ver se tem espaço para a gente aqui. Vamos testar o Tangibl no Brasil por seis meses e depois queremos lançar nos EUA, com a meta de ter presença global em dois anos”, explica Silva. O projeto que faz parte hoje do programa Start-Up Brasil do governo federal conseguiu chamar a atenção na feira. Silva diz ter iniciado contato com potenciais investidores com os quais pretende avançar nas negociações no fim deste ano e encontrado potenciais parceiros para a futura operação americana.

 

A carioca Carolina Zarur estava no TechCrunch para se certificar do potencial do seu negócio. Ela é cofundadora da Local Wander, uma plataforma que ajuda viajantes internacionais a entrarem em contato com moradores locais de forma a obter suporte ao longo do dia sobre o que fazer na cidade e tirar dúvidas pelo celular, por meio de mensagens de texto ou ligações. O negócio faz parte da chamada economia compartilhada e ainda está em fase de testes vendendo alguns pacotes pela internet. “Nosso conceito foi bem aceito aqui e conseguimos fazer uma rede de contatos importante”, disse Carolina, que apresentou o projeto para um grupo de investidores indianos em um evento fora do TechCrunch e arrancou elogios de um deles, que destacou o potencial do negócio em países como a Índia.

Não muito longe dali, no espaço do TechCrunch aberto a qualquer tipo de negócio, estava um brasileiro que perdeu o prazo de inscrição para participar da comitiva brasileira oficial ao evento, mas que chamou tanta atenção que sua startup foi apontada como um dos melhores projetos do evento por visitantes e pela imprensa especializada.

Trata-se da MovPak que criou uma mochila que abriga um skate em um compartimento especial. “Nós queremos internacionalizar o produto e já fomos procurados aqui por investidores dos EUA, Alemanha e São Paulo que querem investir no negócio”, diz o baiano Ivo Machado, cofundador da startup.O projeto está atualmente no site de crowdfunding Kickstarter solicitando US$ 100 mil para fabricação em larga escala do produto. Até agora arrecadou pouco mais de US$ 41 mil.

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