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Proibição da Huawei ameaça telefonia celular em áreas rurais nos EUA

Gigante chinesa é essencial para muitas operadoras de celular que atendem regiões mais distantes do país; guerra comercial pode impactar disponibilidade de redes

01/06/2019 | 05h00

  •      

 Por Cecilia Kang - The New York Times

Fazendas e fazendas perto de Wolf Point estão na área servida pela Nemont que comprou equipamentos da Huawei há quase uma década

Lynn Donalson/NYT

Fazendas e fazendas perto de Wolf Point estão na área servida pela Nemont que comprou equipamentos da Huawei há quase uma década

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Recentemente, Kevin Nelson estava no ponto central da sua fazenda, que cobre uma área de cerca de 1.500 hectares, a nordeste de Montana, quando seu trator quebrou. Ele procurou encontrar um sinal de celular para enviar um foto da peça quebrada para uma oficina que fica a 105 quilômetros dali, mas não conseguiu.

“É frustrante”, disse ele. “Sempre dizem que vai melhorar, vai melhorar”.

E agora não é provável que melhore tão cedo.

Os planos para modernizar o serviço de telefonia sem fio perto da fazenda foram suspensos abruptamente este mês quando o presidente Trump emitiu ordem executiva  proibindo a compra de equipamentos de companhias que, segundo ele,  representam uma ameaça à segurança nacional. Isso inclui a gigante chinesa das telecomunicações Huawei, a maior fornecedora de equipamentos para operadoras sem fio nas zonas rurais. O diretor executivo da provedora na área de Kevin disse que,  sem acesso aos produtos baratos da Huawei, sua empresa não tem recursos para construir a planejada torre

que atenderia a sua fazenda.

A proibição estabelecida pelo governo é a medida mais recente contra a companhia e repercutiu em todo o setor de telecomunicações. Operadoras sem fio em diversos países, incluindo Grã-Bretanha e Japão, disseram que não venderão mais telefones da empresa. Google anunciou que não fornecerá mais o Android para os novos smartphones da Huawei, populares na Europa e na Ásia.  Mas talvez em nenhum lugar essas mudanças foram mais sentidas do que na zona rural dos Estados Unidos, onde o serviço sem fio é muito irregular apesar dos anos de esforços do governo para melhorar a cobertura. E elas aumentam a incerteza econômica criada pela guerra comercial travada entre a Casa Branca e a China. Os fazendeiros estão temerosos de que suas exportações sejam ainda mais afetadas.

Mike Kilgore, executivo-chefe da Nemont, disse que pediu orientação federal antes de fazer negócios com a Huawei

Lynn Donaldson/NYT

Mike Kilgore, executivo-chefe da Nemont, disse que pediu orientação federal antes de fazer negócios com a Huawei

A Huawei é essencial para muitas operadoras de celular que atendem regiões mais distantes, pouco povoadas porque os equipamentos que ela fornece para transmissão dos sinais de celular em geral custam menos que outras opções.

A proibição do presidente está forçando empresas como a Nemont, que atende Opheim, a  anular seus planos de expansão. Além disso, algumas companhias que já usam o equipamento da companhia chinesa temem não receber os subsídios do governo para auxiliar na oferta dos serviços para áreas remotas do país.

Autoridades dos serviços de inteligência dos Estados Unidos acusaram a Huawei de ser uma extensão do governo chinês e que seus equipamentos são vulneráveis à espionagem e pirataria. Trump também estaria usando a Huawei como moeda de troca na sua batalha comercial com a China. “Huawei é muito perigosa”, disse ele. “É possível que a empresa seja incluída em algum tipo de acordo”.

A Huawei nega que seja um risco à segurança, e afirma que é uma empresa independente e não age em nome do governo chinês, acrescentando que 500 operadoras em mais de 170 países usam sua tecnologia.

“Impedir a Huawei de realizar negócios nos Estados Unidos não vai tornar o país mais seguro ou mais forte”, declarou a companhia. “Pelo contrário isto apenas servirá para limitar os Estados Unidos a alternativas inferiores, porém mais caras”. O foco maior de Trump é na próxima geração de redes sem fio, conhecida como 5G. A Huawei já fornece o equipamento para um quarto das pequenas operadoras sem fio do país. A  Rural Wireless Association,  que representa 55 pequenas operadoras, estima que seus membros terão um gasto de US$ 800 milhões a US$ 1 bilhão para substituir o equipamento da Huawei pela ZTE, outra fabricante de equipamento de rede da China.

Nemont, cuja sede é perto de Opheim, é uma dessas companhias pequenas. Sua área de operação cobre cerca de 40 quilômetros quadrados, o que requer uma enorme quantidade de fios, torres e uma infraestrutura cara. Mas a empresa tem somente 11 mil assinantes. Ela entrou em contato com a Huawei há nove anos,  quando decidiu atualizar a rede de celular. Com os subsídios do governo, a Nemont estava preparada para gastar US$ 4 milhões em equipamento de rede, como roteadores, para instalar dezenas de torres de celulares em toda a região. 

Mesmo na época, autoridades do governo Obama já manifestavam preocupação com as fabricantes chinesas e sua capacidade de invadir redes para roubar propriedade intelectual ou entrar em redes corporativas e do governo. Autoridades do Departamento da Defesa e legisladores também temiam que o governo e o Exército chinês usassem o equipamento para interceptar comunicações americanas.

Mas na época as autoridades se referiam vagamente à Huawei, então uma empresa pouco conhecida. Mike Kilgore, diretor executivo da Nemont, disse que havia detalhado seus planos de comprar o equipamento da empresa numa carta que enviou ao senador Jon Tester de Montana, perguntando se havia algum problema de segurança e afirmando que seguiria um outro caminho se houvesse algum risco. Ele foi chamado ao gabinete de Tester, que lhe disse não haver preocupação no caso da Huawei. Um assessor de Tester disse a Kilgore para contatar o FBI e outros membros da inteligência e pedir orientação.

Kilgore então escolheu a Huawei, que forneceu o equipamento a um preço 20% a 30% menor do que o de concorrentes. A partir de então a Nemont expandiu sua rede usando quase todo o equipamento da empresa chinesa. Kilgore chegou a visitar a sede da companhia em Shenzen na China.  E a Huawei tem um representante na diretoria da Rural Wireless Association  sem direito de voto.

Nemont, um provedor de serviços sem fio que atende a uma área maior que a de Maryland, descartou alguns planos de expansão após uma recente decisão executiva do presidente Trump

Lynn Donaldson/NYT

Nemont, um provedor de serviços sem fio que atende a uma área maior que a de Maryland, descartou alguns planos de expansão após uma recente decisão executiva do presidente Trump

Vida melhor

O aprimoramento tecnológico melhorou a vida das pessoas. Kevin Rasmussen estava recentemente no seu trator usando um iPad conectado a um transmissor de internet de alta velocidade de uma torre de celular próxima e a conexão era feita com o software no iPad para ajudar a direcionar para onde o trator operava, fazendo buracos no solo e espalhando fertilizantes.

“Eu me sento no meu trator e faço minhas operações bancárias, monitoro os aplicativos sobre o tempo e leio notícias, como a da Huawei, tudo no meu telefone”, disse ele. “A região rural necessita e muito disto”.

Muitas empresas que ampliaram a banda larga sem fio para áreas rurais, como a Nemont, dependem dos subsídios da FCC, agência federal que regula as telecomunicações dos EUA. Mas Ajit Pai, presidente do órgão,  propôs o corte desse dinheiro para as operadoras que usam equipamento da Huawei e da ZTE. “Achamos ser importante que as redes estejam seguras e não só nas áreas urbanas, mas também nas rurais”, informou a agência. “Atualmente há muitas provedoras de banda larga para a área rural que usam equipamentos que não implicam risco à segurança nacional”. 

Segundo Kilgore, será de US$ 50 milhões o custo para substituir seu equipamento comprado da Huawei. Se esta for a única opção,  ele vai fechar a empresa e deixará seus clientes sem o serviço. Rasmussen disse que isto afetará muito sua atividade na agricultura. “Estamos sendo comprimidos de todos os lados. As tarifas e o comércio afetam nossos preços e agora isto pode prejudicar nossa capacidade de trabalhar no campo”.

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  • Huawei

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