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Psicólogo cria jogo baseado no caso Suzane von Richthofen

'Suzy and Freedom' foi lançado no final de 2013 e chamou atenção no exterior por narrativa forte

Por Bruno Capelas
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Tela de abertura do jogo Suzy and Freedom, desenvolvido pelo psicólogo Nicolau Chaud

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O que leva uma pessoa a querer matar alguém? E a querer assassinar seus próprios pais, como fez a adolescente Suzane von Richthofen em outubro de 2002, auxiliada pelo namorado, Daniel Cravinhos, e pelo irmão dele, Cristian Cravinhos? Talvez essas sejam as principais perguntas (e motivações) do jogo Suzy and Freedom, lançado pelo professor e psicólogo Nicolau Chaud no final de 2013.

Criado especialmente para um especial de games de horror baseados em fatos reais, Suzy coloca o jogador na pele de personagens semelhantes a Suzane von Richthofen e os irmãos Cravinhos, desde o momento em que o casal se conhece em um parque até a prisão de Suzane, através de narrativas e minijogos bastante intrincados. “Não vou dizer que há crimes justificáveis, mas existem razões e motivações por trás de qualquer um. Minha intenção foi tentar fazer o jogador entender o porquê, quebrando estereótipos e tentando apresentar um criminoso como uma pessoa comum”, conta Chaud, que em seus jogos diz sempre querer explorar “alguma faceta escura do ser humano”.

Um dos momentos chave do jogo, quando Suzy revela ao namorado a intenção de matar seus pais.

O psicólogo conta que o jogo teve boa recepção no exterior, chamando atenção para o fato de que muitos estrangeiros ficaram interessados na história real, adotando uma postura crítica em relação ao crime e ao jogo – até uma versão em coreano já foi feita para Suzy and Freedom. “Já o público brasileiro foi pouco receptivo, muita gente me pergunta ‘por que um jogo da Suzane?’. Acho que talvez as pessoas tenham medo de falar algo além disso”, avalia ele, que construiu o jogo na plataforma RPG Maker e disponibilizou-o para download gratuito para PCs. 

Distanciamento. A estrutura de Suzy and Freedom é bastante simples, e o jogo pode ser encerrado em cerca de uma hora de partida – a intenção de Chaud era ter feito um game muito maior, mas ele conta que precisou reduzir a narrativa por conta do prazo de um mês que tinha para conseguir participar a tempo do concurso, realizado no Halloween de 2013.

“Além disso, tive de completar a lacuna das personalidades dos personagens com comportamentos que entendo como semelhantes. Tive de descrever cenas muito pessoais, diálogos familiares, coisas sobre as quais não havia fontes”, explica o desenvolvedor, que tentou incluir um número grande de referências e detalhes reais no jogo – dois bons exemplos são a música de abertura do jogo, uma versão simplificada de “Nada Sei”, canção do Kid Abelha que fazia sucesso na época do caso; e o fato de Dan ser mostrado no jogo como um craque do aeromodelismo.

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Outro destaque do jogo é a bem cuidada trilha sonora e a preocupação com o som: além da já citada canção do Kid Abelha, Chaud também utilizou uma versão com violinos de “You Make Me Feel Brand New”, do The Stylistics, para representar o amor entre Suzy e Dan, e o som de batimentos cardíacos dão o tom nervoso de muitas cenas do jogo. “Foi a maneira que eu tive de reproduzir no jogo a sensação de uma crise de ansiedade que tive ao imaginar como seria ser preso por vários anos sentindo culpa por ter matado alguém inocente”, explica ele.

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Um dos minigames do jogo, no qual o jogador deve fazer Suzy e Dan se apaixonarem.

Além da diversão.Questionado se outros casos de crimes famosos brasileiros poderiam virar jogos, Chaud citou o assassinato de Isabella Nardoni ou o crime do goleiro Bruno (ex-Flamengo e Corinthians). “Tendo ser cuidadoso com jogos sobre pessoas reais porque não quero ofender os envolvidos”, diz o psicólogo, que faz a ressalva de que Suzy and Freedom mostra personagens fictícios inspirados em um caso real.

“Quem jogar vai saber que existe uma razão de existir do jogo, mas de fora posso passar a impressão de que quero transformar a tragédia alheia em entretenimento. Não é isso. Jogos assim buscam provocar efeitos muito além da diversão”, resume.

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Hora do assassinato dos pais de Suzy durante o jogo. FOTO: Reprodução

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