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Jornalista, escritor e palestrante. Escreve às quintas

Opinião|Qual é a idade para permitir que os filhos usem o TikTok?

Dilema enfrentando pelos pais vem do fato de que algoritmos são ferramentas com potencial de manipulação

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TikTok é a plataforma de vídeos curtos altamente viralizáveis Foto: Mike Blake/Reuters

Nos últimos meses, Tomás, 12 anos, vem me pedindo para ter uma conta nas redes sociais. Tecnicamente, não pode – a idade mínima oficial, na maior parte delas, é 13. Mas ele argumenta que seus amigos acessam. Segundo a última edição da TIC Kids, pesquisa organizada em 2019 pelo Comitê Gestor da Internet do Brasil, 51% das crianças de 11 e 12 que estão online entram nas redes. O número vinha crescendo ano após ano e não há razão para que não tenha aumentado na pandemia. Este é um dilema que perturba muitos pais. Ou, ao menos, deveria. 

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Não é difícil botar em pauta os argumentos a favor e contra. Fazer parte de uma cultura, ter um mesmo repertório de referências, conhecer as piadas e acompanhar as mesmas histórias fortalece elos, amizades, dá um sentido geral de fazer parte do todo. Isso não vale só para o hoje, vale para o futuro, para a construção das memórias compartilhadas que dão sentido a uma geração.

Mas redes sociais são, também, o maior experimento behaviorista em massa já feito. Somos ali todos ratinhos que aprendem que botões apertar para ganhar migalhas de queijo e quais evitar para não levar choque. O algoritmo do TikTok é particularmente agressivo. Não oferece apenas conteúdo de quem seguimos, mas joga ali na cara vídeos parecidos com os que gostamos mais. A dopamina vai a toda, capturando a atenção. É fácil se perder por horas. É um dilema.

Um amigo, investidor em inúmeras startups e pai de filhos já adultos, argumenta que evitar a entrada cedo nas redes é pior. Não é que esteja convencido de que toda tecnologia é boa, mas o mundo deles, dessa geração, é digital. Quanto mais contato têm, mais anticorpos criam, mais se educam sobre como o ambiente funciona, melhor preparados estarão para lidar com desventuras.

Há quem tenha me sugerido um software espião, saber tudo o que se passa nos celulares das crianças. Entendo quem goste da solução – mas entrar na adolescência é experimentar com a vida, é hora de ter privacidade para poder explorar. Melhor ter conversas e alertar para os riscos do que negar a qualquer pessoa o direito de conhecer o mundo com a liberdade de escolher quando envolver os pais.

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Os algoritmos, pelo potencial de manipulação, são um problema social. Pouco compreendidos, não são discutidos o bastante. Ao fim, é inevitável que crianças sejam expostas a eles e possivelmente o melhor papel para pais é tentar controlar o tempo e conversar muito. Precisamos, também, conversar entre nós, na sociedade. Não temos feito isto o bastante. 

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