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Quando a internet distrai

Pesquisador calculou que a falta de internet pode ter levado pessoas às ruas no Egito

Por Tatiana Mello Dias
Atualização:

Pesquisador calculou que a falta de internet pode ter levado pessoas às ruas no Egito

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SÃO PAULO – A relação entre redes sociais e revolução não é tão direta. Para Navid Hassanpour, estudante de ciência política na Universidade Yale e doutor em engenharia pela Universidade Stanford, a internet pode ser uma distração. Em seu estudo O Rompimento da Mídia Exacerba a Agitação Revolucionária, Hassanpour analisou a revolução no Egito e percebeu que a decisão de desconectar o país só alimentou a revolta em vez de evitá-la, como queria o governo. O que ele notou, analisando cálculos e vetores para representar decisões de possíveis manifestantes, foi que a “conectividade pode impedir a ação coletiva”. Redes funcionam tanto para articular protestos quanto para distrair manifestantes.

O papel das redes sociais nos protestos é supervalorizado? Focar na ideia de que as redes sociais facilitaram as transições políticas é equivocado. Todos sabemos que elas tiveram um impacto significativo. Uma melhor maneira de fazer essa questão seria perguntar quais foram esses efeitos. E o que acontece quando elas são desligadas. É preciso observar esta questão.

As redes sociais deixam as pessoas passivas como a TV? Não. A velha história de que a mídia de massa é o ópio das massas não se aplica diretamente a esse caso. As redes sociais fornecem conhecimento comum e informações sobre os eventos, portanto elas tornam as pessoas mais previsíveis e acabam criando um senso de normalidade que não existiria sem elas.

Por que a total conexão pode impedir a ação coletiva? Encarei a participação nos protestos como um ato que pode ser ditado principalmente por dois fatores: uma tendência pessoal de fazer parte e a porcentagem dos conhecidos que já fizeram parte. Alguns protestam quando 10% de seus amigos estão lá – os radicais. Outros só se envolvem quando 90% de seus conhecidos já estão no protesto. São os conservadores. Quando digo que a conexão total pode impedir a ação coletiva, quero dizer que mais conexões entre conservadores não leva à ação. Na verdade, os torna mais avessos, porque eles se inspiram uns nos outros.

O governo russo está usando o Facebook para se comunicar com os cidadãos e tentar controlar os protestos. É uma maneira efetiva de brecar manifestações? A reação do governo russo foi a mais sofisticada até agora. Os meios de comunicação russos noticiaram os protestos e políticos russos, como Medvedev, estão usando o Facebook para mostrar a sua opinião sobre as eleições e a agitação. Há uma razão simples pela qual eles acham que essa é uma estratégia efetiva: se o sucesso dos protestos anteriores aconteceu por causa da falta de cobertura deles pelo Estado e os aspectos da comunicação via redes sociais, então seria lógico para o Estado russo tomar sua parte nesse processo, para combatê-lo com um mecanismo de tentativa e erro. Em vez se censurar, eles decidiram ser parte do jogo. Na ausência completa de conhecimento dos efeitos das novas mídias e diante da incerteza do impacto do vácuo de informações nos protestos, eles estão participando disso, porque querem o nivelar o campo de batalha.

Dá para dizer que alguma revolução offline começou na internet? É difícil de dizer se qualquer uma das revoluções dos últimos anos começou na internet. Nós sabemos que a mobilização online funciona, mas a internet e o Twitter já existiam antes de 2011. Pode haver razões além da internet que causaram a agitação geral, mas os meios de comunicação definitivamente nos deram novas plataformas e fizeram a disputa acontecer em outras formas.

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—-Leia mais:Link no papel – 19/12/2011

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