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Quebrando o código da origem do bitcoin

Um dos grandes mistérios atuais é a identidade do criador da moeda digital

Por Redação Link
Atualização:

Nathaniel Popper THE NEW YORK TIMES

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Minh Uong/The New York Times

A caça a Satoshi Nakamoto, o misterioso criador do bitcoin, seduziu até quem acha que a moeda virtual é uma espécie de esquema de golpe da “pirâmide”. Uma lenda surgiu de um amontoado de fatos: alguém usando o nome Satoshi Nakamoto divulgou o software para o bitcoin no começo de 2009 e se comunicou com os nascentes usuários da moeda via e-mail – mas nunca por telefone ou em pessoa. Aí, em 2011, quando a tecnologia começou a atrair uma atenção mais ampla, os e-mails pararam. Satoshi desapareceu, mas as histórias se multiplicaram.

No ano passado, quando trabalhava num livro sobre a história do bitcoin, foi difícil evitar o enigma da identidade de Satoshi Nakamoto. A revista Newsweek causou frisson com um artigo de capa em março de 2014 alegando que Satoshi era um engenheiro desempregado na faixa dos 60 anos que vivia num subúrbio de Los Angeles. Um dia depois da publicação, porém, a maioria das pessoas informadas sobre o bitcoin havia concluído que a revista encontrara o homem errado.

Muitos na comunidade bitcoin me disseram que, em deferência ao claro desejo de privacidade do criador do bitcoin, eles não queriam ver o mágico ser desmascarado. Mas em conversas com os programadores e empreendedores mais profundamente envolvidos com o bitcoin, ouvi que boa parte das evidências apontava para um americano recluso de ascendência húngara, chamado Nick Szabo.

Szabo é um mistério quase tão grande quanto Satoshi. Mas no curso de minha reportagem, continuei encontrando novas pistas que me levaram mais longe na caçada, e até tive um raro encontro com Szabo numa reunião privada com programadores e empresários importantes do bitcoin.

Nesse evento, Szabo negou que fosse Satoshi, como tem feito insistentemente em comunicações eletrônicas. Mas ele admitiu que sua história deixava poucas dúvidas de que ele fazia parte do pequeno grupo de pessoas, que, por décadas, assentaram os alicerces do bitcoin e criaram muitas partes que mais tarde entraram na moeda virtual. A contribuição mais notável de Szabo foi um antecessor do bitcoin conhecido como “bit gold” que alcançou muitos dos mesmos objetivos usando ferramentas similares de matemática avançada e criptografia.

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FUTURO

Pode ser impossível provar a identidade de Satoshi até a pessoa precursora por trás da cortina do bitcoin decidir se apresentar e provar a propriedade das antigas contas eletrônicas de Satoshi. Neste ponto, a identidade do criador já não é importante para o futuro do bitcoin. Como Satoshi parou de contribuir para o projeto em 2011, a maior parte do código aberto foi reescrita por um grupo de programadores cujas identidades são conhecidas.

Mas a história de Szabo oferece um insight de elementos com frequência mal compreendidos da criação do bitcoin. O software não caiu do céu, como às vezes se supõe, mas foi construído sobre ideias de várias pessoas ao longo de décadas. Esta história é mais do que uma mera questão de curiosidade. O software veio a ser considerado em círculos acadêmicos e financeiros uma inovação significativa na ciência da computação que pode reformular a maneira como o dinheiro aparece e se movimenta. Recentemente, bancos como o Goldman Sachs deram os primeiros passos para adotar a tecnologia.

O próprio Szabo continuou discretamente envolvido no trabalho. No início de 2014, Szabo ingressou na Vaurum, uma startup de bitcoin baseada em Palo Alto, Califórnia, que estava operando em modo furtivo e pretendia construir uma bolsa de bitcoin melhorada. O papel de Szabo na Varum foi mantido em segredo em razão de seu desejo de privacidade, e ele deixou a empresa em fins de 2014. A série de habilidades e conhecimentos misteriosos que ele dominava levou vários colegas a concluir que Szabo muito provavelmente esteve envolvido na criação do bitcoin, apesar de não ter feito tudo sozinho.

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Apesar de estar envolvido desde o começo dos anos 90 em uma comunidade online chamada Cypherpunks, pioneira na discussão de ideias que ajudaram a formatar o bitcoin, são suas atividades em 2008 que mais contribuíram para levantar suspeitas com relação ao papel de Szabo. Foi naquele ano, um pouco antes da chegada do bitcoin, que ele escreveu em seu blog sobre o bit gold. Pesquisadores ingleses notaram semelhanças “fora do comum” entre seu linguajar e maneirismos e aqueles atribuídos a Satoshi.

Quem quer que seja, o verdadeiro Satoshi Nakamoto tem muitos motivos para querer permanecer anônimo. O mais óbvio é o perigo de sua posição. Um pesquisador argentino concluiu que Satoshi Nakamoto provavelmente amealhou quase um milhão de bitcoins durante o primeiro ano do sistema, o que dá, em valores atuais, mais de US$ 200 milhões.

/ TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

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