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Por dentro da rede

Opinião|Quem detém o futuro

Para a 'geração do milênio', rede e conectividade são pressupostos inalienáveis

Atualização:

O futuro passa pela “geração do milênio”, aquela que nasceu depois da popularização da internet. Para essa geração, a rede, a conectividade e a interação virtual é pressuposto integrante e inalienável do cotidiano. Mas, afinal, a que vem essa geração, e que metas tem?

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Confesso que não me é simples entender a sua forma de pensamento, e isso é certamente falha minha. Há uma característica que me incomoda, e talvez mereça alguma análise: fazem uma leitura quase que superficial do passado, que passa a ser considerado como algo imposto, inadequado e até “politicamente incorreto”, cujo conhecimento é de “menor importância para nós”, pari passu ao “empoderamento” de que a nova geração desfruta. Comparativamente, penso ser inédita a autonomia de que gozam os mileniais, seja na família, na escola ou na sociedade.

O outro lado da mesma moeda é uma aparente vontade de continuarem indefinidamente adolescentes. Num vídeo, feito por um milenial e comentando mileniais, há um bom argumento para ater-se à luta pela eterna juventude: “se hoje o poder está em nossas mãos, porque o abandonaríamos decaindo a uma categoria de status inferior, como a dos adultos?”.

É mais simples olhar para o futuro descompromissados com o passado, que é obra de obscuros antecedentes, cheios de erros, preconceitos e, inclusive, limitações. G. K. Chesterton, em O que há de Errado com o Mundo (1910, pré-história, diriam!), define: “O futuro é um refúgio onde nos escondemos da competição feroz de nossos antepassados. São as gerações passadas, não as futuras, que vêm bater à nossa porta. O futuro é uma parede branca na qual cada homem pode escrever seu próprio nome tão grande quanto queira. O passado já está abarrotado de rabiscos ilegíveis de nomes como Platão, Isaías, Shakespeare, Michelangelo, Napoleão. Posso moldar o futuro tão estreito quanto eu mesmo. Já o passado tem por obrigação ser tão amplo e turbulento quanto a humanidade. E o resultado dessa atitude moderna é este: os homens inventam novos ideais porque não se atrevem a buscar os antigos. Olham com entusiasmo para a frente porque têm medo de olhar para trás.”

Contraponto de KarlMarx, no 18 Brumário de Luis Bonaparte: “Os homens fazem a sua própria história, mas não a fazem segundo a sua livre vontade, e sim segundo as escolhas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado. A tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos. A Revolução de 1789-1814 vestiu-se alternadamente como a República Romana e como o Império Romano. O principiante que aprende um novo idioma, traduz sempre as palavras deste idioma para sua língua natal; mas só quando puder manejá-lo sem apelar para o passado e esquecer sua própria língua no emprego da nova, terá assimilado o espírito desta última e poderá produzir livremente nela”.

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Por outro lado, preocupa-me pensar que a Internet poderia tornar-se uma nova Revolução Francesa, aquela da “liberdade, igualdade e fraternidade” mas, também, do período do terror. Estaremos em breve guilhotinando pessoas em praça pública?

Opinião por Demi Getschko
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